Brasil registrou primeira morte por superfungo na América do Sul

Pesquisador comenta o caso e explica que a infecção afeta apenas imunodeprimidos

 10/12/2018 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 21/01/2019 as 20:22

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Um estudo, feito por pesquisadores do Instituto de Medicina Tropical da USP, descreveu o primeiro caso de morte por infecção por um fungo multirresistente na América do Sul, em um paciente de 17 anos, em São Paulo. A pesquisa foi divulgada no jornal científico Transplant Infectious Disease. Esse fungo costuma ser encontrado no solo, vasos de plantas, esgotos e na água poluída. Ele foi descrito pela primeira vez na literatura científica em 1974 e foi reconhecido como um invasor do corpo humano em 1984. A partir daí, o fungo foi relacionado com diferentes síndromes infecciosas, que variam de acordo com a suscetibilidade do paciente e do modo de contágio. Para falar sobre o assunto, o Jornal da USP no Ar conversou com João Nóbrega de Almeida Jr., pesquisador do Hospital das Clínicas e do Instituto de Medicina Tropical da USP.

Imagem: Medmyco/Wikimedia Commons

O pesquisador explica que esse fungo (Lomentospora prolificans) é bastante conhecido na Austrália e na Espanha, locais onde os casos de infecção, principalmente em pacientes imunodeprimidos, são mais notificados. No Brasil, ainda não tinha sido notificado até o ano passado. Por ser considerado multirresistente, “a priori não existe um tratamento antifúngico adequado, que seja capaz de combater essa infecção,” explica. Almeida Jr. ressalta ainda que, para a população em geral, esse fungo não oferece riscos. Ele não afeta aqueles que são imunocompetentes, com sistema imunológico sadio.

No caso do paciente brasileiro, ele já apresentava desde criança um sistema imunológico debilitado, por conta de uma doença imunológica grave. “Desde criança, esse paciente tinha infecções bacterianas e fúngicas.” Um dos efeitos dessa condição foi o comprometimento de seu pulmão, que acabou por ser colonizado por esse superfungo. Os médicos desconhecem até hoje o momento dessa colonização, mas sabe-se que o contágio foi por inalação de seus esporos. O pesquisador também conta que a infecção espalhou-se muito depressa pelo organismo do paciente. Tentaram realizar o transplante de medula óssea – espécie de tratamento que “reinicia” o sistema imunológico. Contudo, o paciente começou a apresentar rejeição ao transplante. Essa condição potencializou a infecção, levando-o à morte.

O pesquisador também cita uma outra espécie de fungo, de nome Candida auris, que causa preocupação mundial. “Esse fungo fica em ambientes hospitalares, nas mãos dos profissionais da saúde.” Detectado pela primeira vez em 2009, vem se espalhando pelo mundo, causando surtos na Índia e nos Estados Unidos, por exemplo. No Brasil, ele ainda não foi detectado, mas já há registros de casos na Colômbia e Venezuela. Este sim, afeta pessoas imunologicamente saudáveis.


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