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O filme Tempo de Ir, Tempo de Voltar, de Pedro Nishi, foi premiado no 18º Festival Internacional de Escolas de Cinema, realizado no Uruguai, em agosto passado, na categoria Melhor Curta-Metragem. O filme foi originalmente apresentado em 2017 como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, onde Nishi se formou em Audiovisual. O TCC foi orientado pela professora Cecília Melo.
Tempo de Ir, Tempo de Voltar narra o reencontro de três irmãos, descendentes de japoneses, que se separaram no decorrer do tempo, abordando costumes da cultura japonesa e relações entre a vida e a morte, pois um dos irmãos, que já está morto, aparece nesse reencontro, na forma de um fantasma. “A história é um pouco consequência da minha trajetória mesmo”, diz o diretor.
Descendente de japoneses, Pedro Nishi conta que nem sempre teve uma boa relação com a cultura de seus antepassados. “Existem especificidades nas relações pessoais no Japão, como o hábito de lidar com os problemas muito internamente e vocalizar pouco, a palavra sendo muito controlada e medida. Às vezes você fala sem dizer nada”, ele explica. “Eu notava isso e, por um lado, achava muito bonito, mas comecei a ver também que é doloroso.”
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Assim como a narrativa, a produção do filme foi inspirada pelo Oriente. O enredo e a estética de produção caracterizam o curta como um “realismo fantasmagórico”, termo cunhado pela professora Cecília Melo. A produção faz uso da técnica do plano-sequência, no qual se usam poucos cortes para manter a integridade da cena em tempo e espaço – razão por que essa técnica é conhecida como estética do realismo. “Eu usei muito o plano-sequência porque estava pesquisando uma tendência do cinema asiático recente”, destaca o ex-aluno da ECA. “Esse novo cinema asiático tem essa estética realista, só que dentro desse realismo existe alguma coisa que complica a realidade. São elementos fantásticos ou fantasmagóricos dentro dessa estética realista do plano-sequência.”
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Nishi se diz emocionado com o prêmio conquistado no Uruguai. Ele se admira com o fato de um filme tão pessoal ultrapassar fronteiras e sensibilizar pessoas de outras culturas. Ele ressalta que o sucesso do curta só foi possível devido à ajuda de diversas parcerias. “Quero muito que esse prêmio não seja só meu. Seja de todos que ajudaram no filme.”