Mobilidade de estudantes carece de políticas específicas

Maior parte das crianças e adolescentes se desloca para a escola a pé, estando sujeitos a estresse e constrangimentos

 28/03/2018 - Publicado há 6 anos
Estudo analisou vivências sobre mobilidade casa-escola-casa e outras atividades de crianças do ensino fundamental em São Paulo, considerando as desigualdades sociais existentes entre os territórios – Foto: Denis Pacheco / USP Imagens

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No município de São Paulo, grande parte das crianças do ensino fundamental se desloca a pé para a escola, apesar dos perigos encontrados no caminho, independente de suas condições sociais. Mesmo as que utilizam vans escolares da Prefeitura ou da rede particular relatam que gostariam de fazer o trajeto a pé para conversar com os amigos. Porém, as que vão caminhando contam que não é incomum sofrerem assédio por estranhos no trajeto, assim como o encontro com usuários de drogas.

Tais  constatações estão em estudo que se propôs a analisar as vivências de crianças na faixa etária de 11 a 14 anos, que frequentam o ensino fundamental no município de São Paulo, sobre mobilidade casa-escola-casa e outras atividades, considerando as desigualdades sociais existentes entre os territórios da cidade.

“A política de mobilidade urbana da cidade São Paulo pareceu frágil em alguns aspectos na opinião dos entrevistados, que sugeriram algumas mudanças”, afirma a administradora Sandra Costa de Oliveira, autora da pesquisa. Sua tese de doutorado Promoção da Saúde, Mobilidade Sustentável e Cidadã: casos de escolares do município de São Paulo foi defendida na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, sob orientação da professora Marcia Faria Westphal.

Considerando os resultados, a pesquisadora defende a construção de políticas e programas de mobilidade urbana específicos para crianças em idade escolar, uma vez que a política atual não contempla essas ações diretamente. Segundo Sandra, isso demanda parcerias com governos (federal, estadual e municipal). “A implementação de modelos de gestão e a participação da população nesse processo é de grande importância”, acrescenta.

Saúde em trânsito

Durante o estudo, a pesquisadora também observou como os congestionamentos causados pelo excesso de veículos nas ruas, a poluição do ar e a violência no trânsito acabam interferindo nos deslocamentos das crianças em idade escolar – e como estes fatores levam ao estresse, interferindo na qualidade de vida dessa população-alvo. A partir disso, verificou como políticas de promoção da saúde poderiam melhorar esse quadro.

Para realizar o trabalho ela analisou documentos das políticas de mobilidade urbana no âmbito nacional, estadual e internacional e aplicou questionários, via tablet, para os escolares, além de entrevistar técnicos (gestores) que trabalham nas áreas de Mobilidade Urbana, Planejamento Urbano, Transporte e Trânsito da cidade de São Paulo, após aprovação do Comitê de Ética.

Ela ressalta que sua abordagem se deu sobre um conceito sustentável que também leve a mudanças de hábitos em relação ao uso racional do automóvel, essencial para a promoção da saúde. Propostas como deslocamento ativo (andar a pé, de bicicleta e outros) para a população em geral também foram discutidas na pesquisa.

Mais informações: e-mail sandraco@usp.br, com Sandra Costa de Oliveira

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