Mudanças climáticas farão chover mais em SP nos próximos anos

Alterações também poderão levar a secas seguidas por períodos de chuva intensa no Rio de Janeiro

 18/08/2017 - Publicado há 7 anos
Mundo todo sofre aumento da frequência de eventos extremos – Foto: Anderson Rafael via Flickr – CC

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As mudanças climáticas estão alterando o padrão de chuvas no Brasil, particularmente no Sudeste. É o que indica uma nova pesquisa que aponta um aumento médio tanto no volume de água quanto na média de dias em que chove no Estado de São Paulo. O trabalho foi feito com mais de 70 anos de dados meteorológicos.

No Rio de Janeiro e no Espírito Santo, a estimativa é de redução no volume médio da precipitação para os próximos anos, mas com concentração em menos dias e ocorrência de mais eventos extremos. Ou seja, deverá chover menos, mas com chuva mais intensa e tempestades mais frequentes. As conclusões estão em artigo publicado no International Journal of Climatology.

“Um modo interessante de entender as mudanças climáticas é pensar em um clima com esteroides anabolizantes. Estamos vendo em todo o mundo o aumento da frequência de eventos extremos. O intuito de nossa pesquisa foi tentar entender como isso está ocorrendo no Sudeste brasileiro, a região mais populosa do País”, disse Leila Maria Vespoli de Carvalho, professora associada no Departamento de Geografia da University of California, em Santa Barbara, uma das autoras da pesquisa.

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Outra pesquisadora envolvida no trabalho, Marcia Zilli, doutoranda no mesmo departamento, sob orientação de Leila, explica que a pesquisa partiu da reunião e análise dos dados meteorológicos da região Sudeste provenientes de duas fontes: a Divisão de Ciências Físicas do Earth System Research Laboratory, no Colorado, e as 36 estações meteorológicas individuais no Sudeste brasileiro operadas por diferentes agências brasileiras, com dados disponibilizados pela Agência Nacional de Águas.

“Embora a grande maioria dos dados obtidos esteja circunscrita a um período de mais de 70 anos, compreendido entre 1938 e 2012, várias estações meteorológicas têm registros mais antigos, das décadas de 1910 e 1920. De uma estação meteorológica na cidade de São Paulo, conseguimos dados desde 1888”, disse Marcia.

Participaram do estudo Brant Liebmann, da National Oceanic and Atmospheric Administration, e Maria Assunção Faus da Silva Dias, professora titular do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP. Maria Assunção foi a orientadora de doutoramento de Leila Carvalho. O trabalho contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

Os pesquisadores focalizaram o período de maior precipitação no Sudeste brasileiro, que vai de outubro a março. Ao longo da amostragem, verificaram a quantidade de dias sem chuva, a quantidade de dias com chuvas fracas (menos de 5 milímetros) e a quantidade de dias com chuvas intensas ou extremas e tempestades.

“A manipulação estatística do conjunto dos dados serviu para estabelecer quais foram os padrões do regime de chuvas na região Sudeste verificados até o momento e, a partir disso, projetar as tendências para o futuro”, disse Marcia Zilli.

Um dos sinais mais fortes das mudanças climáticas no Brasil é o secamento no Norte e no Nordeste e o umedecimento no Sul e no Sudeste – Foto: Rafael Belzunces via Flickr – CC

Observou-se que as precipitações estão diminuindo na parte norte da região Sudeste, sobre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, e aumentando no Sul. E a tendência é que esse padrão continue nos próximos anos.

“Essas tendências estão se tornando mais dramáticas. Isso vai ficar mais frequente e pior. Onde chove muito, vai chover mais. Onde há seca, vai ficar mais seco. O governo e a população precisam entender o que está acontecendo com o clima para planejar e melhor se adaptar às mudanças”, disse Leila.

Onde chove muito, vai chover mais. Onde há seca, vai ficar mais seco.

Maria Assunção destaca que a concentração da chuva em menos dias no Rio de Janeiro é um indicador de tendência à aridez, mas não o único. “O manejo do solo, sua cobertura vegetal, enfim, fatores associados ao equilíbrio do ecossistema são igualmente importantes. Eles também são uma forma possível de impacto na alteração do regime das chuvas”, disse.

Segundo os pesquisadores, as alterações no regime de chuvas observadas para a região Sudeste estão inseridas em um contexto maior, pois um dos sinais mais robustos das mudanças climáticas no Brasil é justamente o secamento no Norte e no Nordeste e o umedecimento no Sul e no Sudeste.

O artigo A comprehensive analysis of trends in extreme precipitation over southeastern coast of Brazil (doi: 10.1002/joc.4840), de Marcia T. Zilli, Leila M. V. Carvalho, Brant Liebmann e Maria A. Silva Dias, foi publicado no International Journal of Climatology da Royal Meteorological Society.

Peter Moon/Agência Fapesp, com edição do Jornal da USP (leia aqui o texto original na íntegra)


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