Cursos da USP: Letras, cultura na ponta da língua

Uma vez aprovado na graduação em Letras, o aluno tem 16 possibilidades de habilitação para cursar

 28/08/2017 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 01/08/2019 às 17:54
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Curso de Letras é oferecido em São Paulo, pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

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m geral, quem se interessa por Letras tem sensibilidade para literatura, facilidade em aprender idiomas e vontade de passar seu conhecimento à frente — seja como docente, pesquisador, revisor, tradutor ou intérprete.

“O estudante de Letras ama conhecer novas culturas”, observa Lica Hashimoto, professora de japonês da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. “Por isso mesmo, ele consegue dialogar com o outro, tem empatia por outros povos e está mais preparado para viver em um ambiente globalizado”, avalia.

Durante a graduação, o aluno de Letras passa por uma série de etapas como o ciclo básico, a escolha da habilitação, o ranqueamento e a licenciatura.

O ciclo básico se refere ao primeiro ano do curso, quando todos os estudantes têm uma grade curricular comum, com aulas de Introdução aos Estudos Clássicos, Introdução aos Estudos Literários, Introdução ao Estudo da Língua Portuguesa e Elementos de Linguística.

Ao final do primeiro ano, o aluno deve escolher ao menos uma das 16 habilitações que o curso oferece: alemão, árabe, armênio, chinês, coreano, espanhol, francês, grego, hebraico, inglês, italiano, japonês, latim, linguística, português e russo.
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Além da docência, profissional pode atuar em áreas como editoração, crítica literária, tradução e demais profissões que exigem conhecimento de línguas – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

 

Cada habilitação tem um limite de vagas, que varia de 10 a 110. A seleção para essas vagas é feita pelo ranqueamento, baseado no desempenho do aluno ao longo do primeiro ano de graduação.

Seja qual for a habilitação do estudante, o ciclo básico somado à habilitação totaliza cinco anos de curso. Com isso, o aluno consegue o título de bacharel. Para seguir na carreira docente, no entanto, o estudante precisa da licenciatura, que pode ser cursada junto às aulas da habilitação ou depois delas, somando mais dois anos de curso.

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Se desejar, o estudante pode se formar como bacharel e obter, ao mesmo tempo, o diploma de licenciatura – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

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Desafios

Com exceção do inglês — que presume que o aluno tenha um nível intermediário do idioma —, as habilitações de língua estrangeira não cobram conhecimento prévio. Os primeiros semestres do curso são voltados para a aquisição da língua, um desafio geral da graduação em Letras.

No caso do italiano, as disciplinas de literatura se adaptaram a esse aprendizado. Ao invés de o aluno começar os estudos da literatura italiana pelo textos clássicos, cuja linguagem é mais arcaica, as aulas partem de obras contemporâneas, como Umberto Eco e Italo Calvino, pois a linguagem é mais atual e próxima do que o estudante vai usar no dia a dia. “Com o passar dos semestres, ele vai acumulando bagagem para ler as principais obras clássicas italianas no original”, explica Maria Cecilia Casini, professora de italiano.

Em línguas orientais, cuja escrita também difere da nossa, os alunos passam algumas semanas aprendendo uma nova forma de pensar a linguagem.

Coreano, russo, árabe e hebraico são algumas das línguas orientais oferecidas na USP – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

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Para aperfeiçoar o processo de aprendizagem, as habilitações possuem convênios com universidades do exterior. “Apesar de ser um país muito aberto e diversificado, o Brasil ainda tem uma tradição monolinguística”, analisa John Milton, professor de literatura inglesa. “Isso dificulta o aprendizado de novas línguas porque, fora da sala de aula, o aluno só ouve e fala português.”

“Em alguns casos, somente a internacionalização pelo intercâmbio dará ao aluno a imersão e a fluência na língua que ele precisa”, acrescenta Lica Hashimoto.

Outra ação em direção a uma melhor aprendizagem é a flexibilização do curso, uma tentativa de diminuir a carga de disciplinas obrigatórias para aumentar a de optativas. Os professores esperam que assim os alunos tenham mais tempo para cursar disciplinas focadas na área na qual querem atuar, dando ênfase em matérias de tradução, cultura ou licenciatura, por exemplo.

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Mercado de trabalho

Apesar da grande procura pela habilitação em inglês, outras línguas também oferecem um mercado de trabalho promissor.

Qualquer empresa multinacional, por exemplo, requisita intérpretes para fechar negócios no exterior. “Apesar do inglês ser uma língua universal, as empresas ainda preferem fechar negócios em sua língua materna”, diz Lica.

Além disso, o profissional de Letras ainda ocupa a maior parte das vagas no mercado editorial, como revisor, crítico ou tradutor literário. “Tendo cursado Letras, os estudantes são hábeis leitores e produtores de texto. Podem exercer funções de editores, revisores, professores e escritores”, afirma Deize Crespim Pereira, professora de armênio.

Ainda sim, a docência na educação básica e no ensino superior continuam recebendo a maior parte dos formados. “Recomendamos que os alunos façam pós-graduação para ampliar o campo de atuação profissional”, sugere Gabriel Steinberg Schvartzman, professor da habilitação em hebraico.

A professora de japonês Lica Hashimoto: “O estudante de Letras ama conhecer novas culturas” – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

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Extensão

Além da graduação e da pós-graduação, o curso de Letras organiza cursos de extensão para democratizar o conhecimento de diversas línguas e culturas, como francês, italiano, tcheco, turco, ídiche, catalão, galego, entre outros.

Os cursos são abertos a todo o público e as inscrições para o segundo semestre podem ser feitas pelo site do Serviço de Cultura e Extensão da FFLCH.

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Quer saber mais sobre o curso?

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP está localizada no campus Cidade Universitária, em São Paulo. Confira:

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Formas de ingresso

    • Vestibular organizado pela Fuvest

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Habilitações

Conheça um pouco mais sobre cada uma das habilitações oferecidas pelo curso de Letras da USP:

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Alemão

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Professor Pedro Heliodoro recita introdução de Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe

“A Alemanha tem revelado uma abertura e uma procura muito grande por profissionais estrangeiros”, afirma o professor Pedro Heliodoro. “É também uma língua que pode te levar a outros campos do conhecimento, como a filosofia e a psicologia.”

Além da habilitação na graduação, a FFLCH oferece um dos únicos programas de pós-graduação em Germanística, o estudo da língua e literatura alemãs.

Árabe

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Professor Michel Sleiman recita trecho do poema Celebração da Infância, do poeta sírio Adonis

“Não há muitas referências ao mundo árabe no nosso dia a dia. Por isso, quem estuda a língua árabe se torna um divulgador dessa cultura, que foi se diluindo na cultura brasileira”, diz o professor Michel Sleiman.

Os alunos dessa habilitação geralmente conseguem vagas em áreas relacionadas a acordos comerciais, consultorias empresariais e análises de políticas internacionais.

Armênio

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Professora Lusine Yeghiazaryan recita tradução para o armênio do poema Andorinha, de Manuel Bandeira

No início do século 20, 1,5 milhão de armênios foram mortos pelo império turco-otomano. O genocídio provocou a migração desse povo que, dentre outros países, conseguiu se fixar no Brasil. Hoje em dia, mais de 30 mil descendentes armênios moram aqui. 

A habilitação em armênio é única em todo o País e é reconhecida em todo o mundo. A carreira acadêmica é a mais recorrente entre os estudantes. 

Chinês

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Professora Ho Yeh Chia recita os versos de Por acaso, do poeta chinês do início do século 20 Xu Zhimo

“À medida que as relações entre Brasil e China se intensificam, surgem oportunidades de trabalho junto às empresas brasileiras e chinesas que atuam nesse comércio, bem como agências governamentais e instituições de ensino e pesquisa”, diz o professor de chinês Antonio José Bezerra de Menezes Júnior.

Coreano

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Professora Yun Jung Im Park recita Abismo, de Yi Sang

Assim como o armênio, a habilitação em coreano é única no Brasil. Com a popularização da cultura k-pop e a vinda de diversas empresas coreanas para o País, a demanda pelo curso tem se tornado cada vez maior.

“No caso do coreano, o curso não exige o conhecimento prévio da língua, mas uma língua oriental sempre exige mais estudo e prática do que uma língua mais ‘próxima’”, aconselha Yun Jung Im Park, professora da FFLCH. 

Espanhol

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Professor Adrián Pablo Fanjul lê El cautivo, de Jorge Luis Borges

A habilitação em espanhol proporciona, principalmente, o contato com estudos em linguística, literatura, tradução e estudos comparados entre as línguas portuguesa e espanhola. Apesar de ser um idioma próximo do português, o curso exige do aluno muito estudo para se destacar no mercado de trabalho, que cresceu após a criação do Mercosul.

Segundo o professor argentino Adrián Fanjul, “o curso trabalha bastante a fluência da fala e escrita do aluno para prepará-lo para a pesquisa e o mercado”.

Francês

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Professor Alexandre Bebiano lê os versos de Embriague-se, do poeta francês Charles Baudelaire

“Durante muito tempo, a França foi uma espécie de referência, de modelo para a literatura”, explica Alexandre Bebiano, professor da habilitação em francês.

Do ponto de vista literário, os alunos entram em contato com uma grande variedade de autores, como Arthur Rimbaud, Gustave Flaubert, Charles Baudelaire, Honoré de Balzac, Émile Zola e Voltaire, dentre outros.

Além dos grandes clássicos franceses, o estudante também pode conhecer a literatura francófona da África e das Caraíbas.

Grego

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Reconstituição de canção homérica pelos austríacos George Danek e Stefan Hagel, com tradução de Frederico Lourenço recitada pela professora Giuliana Ragusa

“A habilitação em grego convida o aluno a mergulhar num universo fundador da nossa cultura”, reflete Giuliana Ragusa, professora de literatura grega. O aluno se aprofunda em temas como língua, cultura, literatura e história da Grécia Antiga e se prepara para atuar na área acadêmica.

“É uma oportunidade de conhecer com mais propriedade uma civilização que está viva até hoje na nossa forma de pensar e que, em boa medida, deu origem a diversas instituições e gêneros discursivos que estão na base do que chamamos hoje de história, política, filosofia, teatro, literatura.”

Hebraico

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Professor Luis Sérgio Krausz lê introdução de Hóspede por uma noite, de Shmuel Yosef Agnon

“Muitas vezes, os alunos chegam para os cursos de línguas orientais por curiosidade e ficam surpresos com o grande acervo cultural que este mundo lhes reserva”, conta Gabriel Steinberg Schvartzman, professor coordenador da habilitação em hebraico, curso que conversa com diversos elementos religiosos e políticos.

Geralmente, os alunos de hebraico trabalham em centros culturais, escolas da rede judaica de ensino e até como professores universitários em Teologia — com a devida formação na pós-graduação.

Inglês

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Professor John Milton recita trecho de Macbeth, de William Shakespeare

O inglês é a habilitação mais procurada do curso e a única que prevê um conhecimento prévio da língua. Ao longo da graduação, o aluno estudará estruturas do romance, do conto e da poesia, além de leituras canônicas como Shakespeare e Joyce.

Na graduação, o estudante tem espaço para aprimorar sua pronúncia e dar ênfase a disciplinas de tradução e escrita acadêmica. “O que não há é um esgotamento de possibilidades de atuação”, diz Lenita Esteves, professora de inglês com ênfase em tradução. 

Italiano

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Professora Maria Cecilia Casini recita introdução de A Divina Comédia, do poeta Dante Alighieri

“É comum que descendentes de italianos busquem nosso curso para compreender mais suas raízes”, observa Maria Cecilia Casini, professora da área de aquisição e aprendizagem de italiano. “Além de ser uma língua muito bonita”, brinca.

Mesmo tendo algumas semelhanças com o português, a habilitação de italiano foi adaptada para facilitar o aprendizado da língua. “Enquanto ela é ensinada do básico para o avançado, o estudo literário é feito do contemporâneo para o clássico, porque os alunos têm mais contato com a forma moderna da língua”. 

Japonês

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Professores Koichi Mori e Lica Hashimoto recitam introdução de E Depois, de Natsume Suseki

São Paulo possui não só a maior colônia japonesa fora do Japão como também uma das poucas habilitações em japonês do Brasil. Os alunos são absorvidos pelo mercado de empresas nipônicas instaladas no País e possuem uma rotina puxada para aprender o idioma.

“No japonês, espera-se que eles conheçam cerca de 3 mil ideogramas até o final da graduação para se tornarem bons leitores”, diz Hashimoto. “Por isso, nós organizamos muitos eventos com professores de faculdades do Japão para ajudar os alunos com a questão da internacionalização.”

Latim

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Professor Paulo Martins recita trecho das Odes do poeta da Roma Antiga, Horácio

Assim como a habilitação em grego, o latim possibilita que o aluno atue em pesquisa e docência universitária. Ambos os cursos formam as línguas clássicas.

“Nelas, a oralidade não é o cerne do bacharelado, mas sim o material textual. Sempre são descobertos novos textos que precisam ser editados, traduzidos e comentados por pessoas especializadas”, diz Paulo Martins, professor da habilitação em latim e vice-diretor da FFLCH.

“Quem estuda latim, acaba adquirindo conhecimento sobre arqueologia, história e filosofia antiga”.

Português

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Professor Mário César Lugarinho recita Com que pena, de Manuel Alegre

Em Letras, geralmente os alunos se formam em duas habilitações: o português e uma língua estrangeira ou o português e a linguística. Isso faz da habilitação em língua portuguesa a mais volumosa do curso.

“Nela, o estudante fará leituras críticas da literatura portuguesa, aprofundará seus conhecimentos na língua e entrará em contato com diferentes formas de manifestá-la”, explica Mário César Lugarinho, professor de língua portuguesa com ênfase em literaturas africanas.

A habilitação da FFLCH possui uma das maiores cargas horárias sobre literatura africana do Brasil. 

Russo

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Professora Elena Nikolaevna Vássina recita introdução de Eugene Onegin, de Alexandre Pushkin

“As relações entre Brasil e Rússia se estreitaram desde a criação do BRICS, e isso trouxe muitas oportunidades para quem estuda a língua russa”, diz Elena Nikolaevna Vássina, professora de literatura e teatro russo.

Nessa área, a docente observa um aumento de traduções de obras russas feitas diretamente de seus originais, inclusive com a criação de editoras especializadas, como a Editora 34. “A cultura russa levanta e questiona os temas eternos e malditos da existência humana. Por isso ela é tão fascinante.”

Linguística

Apesar de não ser estudada na educação básica, a linguística é uma ciência fundamental para qualquer estudante de Letras. É a ciência que estuda a formação da linguagem do ponto de vista biológico, histórico e cultural. O estudante dessa habilitação está apto a analisar quaisquer línguas, inclusive as que estão ameaçadas de extinção, já que uma das funções do linguista é registrar tipos de linguagens antes que se percam na história.  

Além disso, áreas como a linguística computacional estão se desenvolvendo e o linguista também pode atuar em escolas para trabalhar o aprendizado de estudantes com deficiência.

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