Fundada uma década antes da USP, a Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto mergulhou na era digital, sem perder seu referencial humano

Por Paulo Nelson Filho e Ricardo Gariba Silva, diretor e vice-diretor da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP

 Publicado: 29/04/2024

Paulo Nelson Filho – Foto: FORP
Ricardo Gariba Silva – Foto: FORP
A Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP nasceu com outro nome e muito antes que a própria USP se instalasse na cidade. A Escola de Pharmácia e Odontologia de Ribeirão Preto foi inaugurada em 1924, embalada pela pujança da riqueza cafeeira local e seus barões, como um ensino superior pioneiro na Alta Mogiana, nordeste de São Paulo. Com a interiorização do ensino superior, cinquenta anos mais tarde seria incorporada à USP e, finalmente, em 1983, desmembrada do curso de Farmácia, sendo formalizadas por decreto as duas unidades independentes, ambas instaladas na antiga fazenda de café transformada em campus da USP em Ribeirão Preto.

A FORP personificou uma trajetória de vanguarda e de busca de estreitar sua relação com a comunidade. O leque de serviços que presta hoje inclui o atendimento a estudantes da rede municipal; assistência emergencial de traumatismos dentários a adultos e crianças; e tratamento de pacientes com Sintomas de Desordem Temporomandibular. A FORP também oferece serviços prestados no Laboratório de Gerenciamento de Resíduos Odontológicos, além dos serviços de Acupuntura; de Eletromiografia da Musculatura da Cabeça e Pescoço; e de Oclusão e Disfunção da Articulação Temporomandibular. Mantém convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS).

Merece destaque o Centro de Formação de Recursos Humanos Especializados no Atendimento Odontológico a Pacientes Especiais (CAOPE) existente há 24 anos, e que atende portadores de deficiências físicas, mentais e intelectuais, além de portadores de síndromes genéticas e doenças crônicas, sem limite de faixa etária e de forma multidisciplinar. Pacientes especiais que, em sua maioria, são de baixa condição socioeconômica e que, muitas vezes, percorreram diversos outros serviços sem receberem o merecido e adequado tratamento odontológico. O diferencial do centro é o tratamento integral, incluindo o ortodôntico, em ambiente ambulatorial, sob anestesia local, sem a necessidade rotineira de anestesia geral, evitando tratamentos mutiladores. O CAOPE oferece formação para alunos de graduação, pós-graduação e para cirurgiões-dentistas atuarem como núcleos multiplicadores e disseminarem o atendimento odontológico a esses pacientes em todo o território nacional, em clínicas particulares e em serviços públicos.

Nessas diferentes formas de atendimento odontológico, somente no ano passado mais de 9 mil pacientes passaram pelas instalações da FORP, totalizando aproximadamente 27 mil procedimentos. Atualmente, são 341 alunos matriculados na graduação, 299 na pós-graduação e 164 nos mais diversos cursos de especialização.

Entre diferentes laboratórios e serviços especializados, a FORP abarca todo o tipo de desafio clínico. Criou o Centro Integrado de Estudos de Deformidades da Face (CIEDEF), trabalha com pacientes mutilados e oferece residência em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais. Oferece também a residência em Atenção Integral à Saúde. Realiza perícias cíveis pela área de Odontologia Legal, em colaboração com o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e Justiça Federal, além de exames de Identificação Humana, em parceria com o Laboratório de Antropologia Forense do Centro de Medicina Legal (Cemel) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. A unidade possui, também, várias centrais multiusuários.

Em sintonia com seu tempo, a FORP sempre buscou investir na incorporação da tecnologia de ponta disponível e em absorver o conhecimento científico em evolução. A odontologia digital, inimaginável um século atrás, virou parte da rotina nas pesquisas e na graduação, para diagnósticos, exames, planejamentos e execução de tratamentos. Atualmente, a unidade conta com laboratórios de análises de tecidos biológicos, biomateriais, para estudos biomecânicos na criação de próteses e implantes, prontuários eletrônicos, fotografias e radiografias digitais, tomografia computadorizada de feixe cônico, escaneamento intraoral, fresagem e impressão 3D, entre outras tecnologias. Além de capacitar seus alunos nas novas tecnologias, possibilita agilizar o atendimento e assim abre a disponibilidade para novos pacientes.

No ano passado, uma modernização do currículo de graduação foi estabelecida na FORP, com aumento de atividades clínicas e foco em inovação e novas tecnologias. Ciente das dificuldades econômicas, a direção da unidade estabeleceu um Banco de Instrumentais, para o empréstimo desse material aos estudantes menos favorecidos. A Reitoria da USP também tem colaborado para a aquisição destes kits de instrumentais.

Por ser a odontologia uma área eminentemente prática, aliada aos conhecimentos teóricos, para o futuro, a FORP pretende também incentivar o aumento do número e da abrangência dos cursos de extensão, a fim de atingir um maior número de pacientes beneficiados e capacitar maior número de profissionais, favorecendo o aprimoramento dos serviços no País e uma maior aproximação com a sociedade.

Um outro exemplo de proximidade com a sociedade é o projeto Huka Katu – a FORP no Xingu, com ações de saúde junto à população indígena, apoiado pela Reitoria da USP e pela Secretaria Especial de Saúde Indígena, por meio do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Xingu.

A chancela de importantes órgãos nacionais e internacionais ilustram a excelência da FORP em sua trajetória acadêmica. De 511 faculdades de odontologia brasileiras analisadas, a FORP conquistou nota máxima no Guia da Faculdade 2023, ranking organizado pelo jornal O Estado de São Paulo. Apenas sete faculdades, todas públicas, alcançaram a nota máxima. Os cinco Programas de Pós-Graduação oferecidos pela FORP (Odontopediatria, Odontologia Restauradora, Periodontia, Reabilitação Oral e Biologia Oral) possuem conceitos de excelência junto à Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – notas 5 e 6, formando recursos humanos com base no ensino e na pesquisa para o Brasil e outros países.

Em nível internacional, no ranking QS World, a Odontologia da USP (unidades de Ribeirão Preto, de Bauru e de São Paulo) foi considerada a 14ª melhor do mundo. Além disso, desde 2021 a Odontologia da USP vem sendo considerada pelo ranking SCImago como a melhor do mundo, dentre as quase 700 instituições avaliadas.

Já o nível de qualificação relativo aos professores da FORP também é destaque em avaliações internacionais – 32 dos 75 docentes da unidade foram citados em ranking que classifica os cientistas mais influentes da América Latina (Latin America Top 10.000 Scientists – AD Scientific Index 2023), incluindo 22.635 instituições de 219 países. Nesse sentido, de acordo com levantamento efetuado pela Universidade de Stanford (USA), em 2023, quatro docentes da FORP estiveram entre os mais influentes da ciência mundial. Deve ser ressaltado também que 27 docentes da FORP foram contemplados com bolsa de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Esses docentes lideram atualmente nove grupos de pesquisa certificados.

Finalizando, os 100 anos de constante evolução da FORP e a filosofia compartilhada do retorno social do ensino público, que também permeiam os 90 anos de história da USP, trazem benefícios sempre coletivos. Para o aluno da FORP, o amplo horizonte da prática clínica oferecida sedimenta possíveis novas linhas de Pesquisa que possam impactar diretamente nas condições de saúde bucal da sociedade brasileira. São profissionais que não perderão de vista o avanço da ciência, mas que manterão como foco os benefícios sociais para os quais possam contribuir no futuro.

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