Atividade de higienização de diapositivos originais apresentada como um dos procedimentos descritos no Manual - Foto: Acervo do Arquigrafia
Projeto Arquigrafia ensina a tratar, digitalizar e compartilhar materiais fotográficos originais
Manual apresenta e descreve de forma prática as ações realizadas no acervo de imagens da biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e pode ser referência para outras instituições; download é gratuito
Um dos maiores desafios de um trabalho colaborativo é fazer com que todos os envolvidos estejam conectados e sejam capazes de desenvolver uma certa atividade de forma coesa de onde quer que estejam. Foi exatamente pensando nisso que o projeto Arquigrafia, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, lançou em 2018 a 2ª edição do Manual de Procedimentos Técnicos do projeto Arquigrafia.
O manual, em sua versão digital, está disponível para acesso livre e download no Portal de Livros Abertos da USP, e documenta os procedimentos realizados pela equipe do projeto Arquigrafia em parceria com a Biblioteca da FAU, como atividade indispensável para a conservação, digitalização e difusão na Web de material fotográfico original de arquitetura e urbanismo sob a guarda da USP.
Além desta versão digital, com o apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão e da diretoria da FAU, exemplares impressos do manual foram enviados a todas as faculdades públicas de Arquitetura do Brasil, além de várias instituições públicas de ensino superior de Arquitetura do mundo lusófono.
Tendo como um dos objetivos servir de referência e estímulo a iniciativas semelhantes junto a outros acervos fotográficos de instituições no Brasil e no exterior, o manual apresenta e descreve, de forma prática, as ações empreendidas no caso específico do acervo de imagens da biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Manual do Projeto Arquigrafia - Foto: Reprodução
Ao todo, a partir dos procedimentos descritos no manual, foram identificados, catalogados, digitalizados e indexados cerca de 42 mil diapositivos e 10 mil ampliações fotográficas em papel que integram as coleções originais do acervo físico da Biblioteca da FAU.
O trabalho, realizado por bolsistas estudantes de graduação da FAU e do curso de Biblioteconomia da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, sob a orientação da equipe técnica da Biblioteca da FAU e do especialista em conservação fotográfica Leandro Melo, além de referenciar os procedimentos gerais de amplo alcance serviu como um piloto bem-sucedido que pode amparar outras iniciativas de conservação e divulgação que venham a convergir para a plataforma colaborativa do Arquigrafia.
Leandro Melo, que é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-USP e especialista em conservação e restauração de fotografias, acervos documentais e bibliográficos, foi um dos técnicos responsáveis pelo trabalho de conservação das imagens fotográficas nesta iniciativa do Arquigrafia. Ele salienta que o registro dos procedimentos metodológicos de higienização, acondicionamento, catalogação e outras atividades descritas no manual foi muito importante não só para organizar e registrar o fluxo do trabalho interno e a padronização destes procedimentos na Biblioteca da FAU, mas também para tornar os procedimentos aplicáveis e acessíveis em outras instituições brasileiras e estrangeiras.
“Hoje temos a memória dos procedimentos aplicados e o bom disso é que outras pessoas, que no futuro irão trabalhar com o acervo da Biblioteca da FAU, saberão como o trabalho foi feito e o que foi feito. Além de ter acesso a essas informações dentro do Manual de Procedimentos, esta iniciativa do projeto Arquigrafia é importante por guardar essa memória do que foi executado e assim propiciar o acesso destas informações a outras pessoas e instituições interessadas”, destaca Leandro Melo.
Análise de materiais fotográficos originais realizada no projeto Arquigrafia - Foto: Projeto Arquigrafia
Materiais fotográficos tratados
Conheça alguns tipos de materiais disponíveis no acervo fotográfico do Serviço Técnico da Biblioteca (STB) da FAU-USP em São Paulo submetidos aos procedimentos técnicos descritos no manual, durante as atividades de conservação e difusão web do material fotográfico original de arquitetura e urbanismo, realizados entre 2010 e 2017 e que podem ser aplicados a qualquer acervo fotográfico
Negativos em vidro
Negativos em acetatos e contatos
Exemplo de ampliação fotográfica
Dispositivos, slides ou cromos
Fotos: Acervo do Projeto Arquigrafia
Dividida em quatro capítulos, além de breves apresentações sobre o próprio manual que abordam ainda aspectos do projeto Arquigrafia e do Acervo da Biblioteca da FAU, a publicação traz o detalhamento dos procedimentos realizados durante o trato com as coleções fotográficas originais, realizado entre 2012 e 2017, com apoio da Fapesp e da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP. O manual faz considerações técnicas sobre a recepção e identificação de material fotográfico original; assim como faz considerações sobre o trabalho de preservação preventiva e higienização; a catalogação e a indexação de todo o material na plataforma Arquigrafia e a descrição do trabalho de acondicionamento que definiu as interações com o restante do acervo da Biblioteca da FAU.
Ainda como parte das atividades desenvolvidas, consta no manual o detalhamento de como as equipes realizaram a digitalização do material selecionado, o trabalho de preservação digital, a difusão do material na web e, por fim, há orientações específicas para usuários institucionais colaborarem com o projeto.
Para o coordenador do projeto Arquigrafia e um dos organizadores do manual, professor Artur Rozestraten, este material, além de constituir um registro histórico dos trabalhos realizados, pode auxiliar instituições públicas e privadas a tratarem seus originais fotográficos e reconhecerem na plataforma Arquigrafia um ambiente aberto e gratuito para a difusão de suas próprias coleções digitais.
“A plataforma colaborativa Arquigrafia está aberta à colaboração de usuários particulares – estudantes, profissionais e leigos interessados em arquitetura – assim como também acolhe usuários institucionais, como o Acervo da Biblioteca da FAU e o Acervo digital do Laboratório Quapá – Quadro do Paisagismo no Brasil. Esta reunião de usuários com naturezas distintas e complementares é uma força coletiva que confere uma natureza híbrida e abrangente ao potencial de convergência e compartilhamento de imagens do Arquigrafia na internet”, acrescenta Artur Rozestraten.
Opinião da especialista
Para a bibliotecária e chefe da Seção Técnica de Materiais Iconográficos da Biblioteca da FAU, Gisele Ferreira de Brito, que na época da elaboração do Manual de Procedimentos Técnicos do Arquigrafia era a coordenadora das atividades na biblioteca, o pioneirismo do Arquigrafia em criar uma plataforma de difusão de imagens de arquitetura brasileira na web certamente é um dos pontos altos do projeto.
Gisele Ferreira de Brito, bibliotecária e chefe da Biblioteca da FAU - Foto: Arquivo pessoal
Além disso, o projeto também contribuiu sobremaneira com a Biblioteca da FAU quando incluiu entre seus objetivos participar ativamente da conservação dos materiais fotográficos, principalmente dos diapositivos, disponibilizando equipe e recursos.
Ela destaca que “como resultado, houve a manutenção da conservação preventiva e difusão dos materiais, o que resgatou sua importância como materiais de pesquisa, haja vista o conjunto histórico de registros inéditos com o olhar do arquiteto, seja ele o docente ou o aluno em formação, que acompanham a evolução das cidades e das construções ao longo dos tempos”, disse.
Outro ponto positivo do trabalho colaborativo envolvendo alunos e técnicos foi a possibilidade de articular de forma permanente ensino, pesquisa e extensão, o que gerou estímulo a outras iniciativas e esforços coletivos da FAU em torno do acervo iconográfico da biblioteca, com destaque para o Portal Acervos FAUUSP, disponível em acervos.fau.usp.br.
Para Gisele Brito um manual de procedimentos é sempre uma ferramenta primordial dentro de qualquer organização, pois apresenta de forma sistematizada orientações relacionadas a uma determinada atividade. No caso do Manual de Procedimentos Técnicos do Projeto Arquigrafia, tem-se um guia norteador das atividades ligadas aos materiais fotográficos, desde a recepção de doações, passando pela conservação preventiva, catalogação, acondicionamento, digitalização e difusão.
“Reconhecemos a importância da elaboração deste instrumento como continuidade da sistematização de procedimentos da Seção Técnica de Materiais Iconográficos, a exemplo do que foi o manual intitulado Classificação e Catalogação de Diapositivos de Arte, elaborado pelas bibliotecárias Teresa Hamel, Eunice Costa e Suzana de Toledo, em 1963. Como todo manual de procedimentos, vem sendo constantemente atualizado e adaptado em função de alterações que naturalmente acontecem ao longo do cotidiano das organizações e evolução do estado da arte das áreas que ele instrumentaliza, neste caso, principalmente, as áreas de conservação preventiva, catalogação e digitalização”, finalizou.
Parcerias que deram certo
Desde 2018, quando foi lançada a segunda edição, o manual já ajudou a plataforma do Arquigrafia a consolidar parcerias importantes para a ampliação do acervo. Tanto instituições públicas quanto privadas, bibliotecas, museus e grupos de pesquisas podem se cadastrar para contribuir com novas catalogações e upload de arquivos na plataforma. Além da Biblioteca da FAU, o Museu Republicano – Convenção de Itu (MRCI) e o Grupo de Pesquisa Quadro do Paisagismo no Brasil (Quapá) são alguns usuários institucionais já integrados ao Arquigrafia.
“O compartilhamento de imagens provenientes de acervos públicos e privados pode ainda encontrar na plataforma do Arquigrafia uma condição de preservação (como backup) e de difusão, justamente por conta da digitalização necessária do material e sua disponibilização on-line, o que duplica o acervo físico de materiais originais”, destaca Artur Rozestraten.
Novas instituições e demais interessados podem fazer parte deste trabalho colaborativo na construção de coleções públicas de imagens de arquitetura, para isso basta entrar em contato com a equipe do projeto Arquigrafia a partir do e-mail: arquigrafia@usp.br para se registrar como usuário institucional na plataforma.
O coordenador do projeto lembra que “dessa forma, a plataforma vem colaborando para a preservação de material fotográfico original sobre edifícios e espaços públicos no Brasil, entendendo que esse material original sempre será fonte de futuras digitalizações. É este material fotográfico original que demanda todos os cuidados de conservação hoje, justamente por ser a única fonte sobre a qual futuras digitalizações poderão ser feitas”, relembra.
O Manual de Procedimentos Técnicos do projeto Arquigrafia, que contou na sua elaboração com o trabalho editorial das graduandas na FAU, na época, Beatriz Andrade e Fernanda Figueiredo, está disponível para download em PDF no Portal de Livros Abertos da USP.
Sobre o projeto Arquigrafia
Iniciado em 2009, hoje o projeto desenvolve sua Experiência Arquigrafia 4.0 com apoio financeiro da Fapesp na condição de projeto temático até 2027. Atualmente voltado para a ampliação e consolidação da plataforma colaborativa na web, o projeto lida com questões críticas sobre a internet atual e o horizonte de desenvolvimento do que se entende como potencial 4.0, investindo em possibilidades de enriquecimento mútuo entre a experiência sensível cotidiana e a construção, organização, representação e recuperação de conhecimentos sobre as cidades no presente, na memória e no desejo projetual para o amanhã.
Contando com uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da FAU, ECA, IME, IP, ICMC e Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), dedicados à investigação das condições contemporâneas de constituição de ambientes colaborativos autônomos na web, o estágio atual do projeto estuda experimentalmente a “desconstrução” e a apropriação contra-hegemônica de elementos e estruturas funcionais disponíveis on-line, tais como redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter, Youtube e outras), freeware, open source software, hyperlinks, para resultar em protótipos experimentais concretos e consistentes para uma autonomia crítica na Web 4.0.
Esta fase da Experiência Arquigrafia 4.0 retoma hoje o trabalho que foi concluído em fases anteriores justamente com a publicação do manual em 2018, de forma que, hoje, o projeto temático Fapesp reencontra esta iniciativa e estabelece um elo de continuidade para o futuro do projeto.
Quer saber mais? Acesse a Plataforma Arquigrafia.
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Texto: Ulysses Varela – Jornalista bolsista JC-3 Fapesp junto ao projeto Experiência Arquigrafia 4.0
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