O campus é nosso: como a participação no Plano Diretor pode criar uma Cidade Universitária melhor
Prefeitura do Campus da Capital da USP vai realizar oficinas participativas para mobilizar a comunidade e construir soluções coletivas para influenciar o futuro da Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, no bairro do Butantã
Vista aérea do campus da USP no bairro do Butantã - Foto: Felipe Seriacopi / USP Imagens
Quantas vezes paramos para pensar em como o ambiente urbano ao redor influencia nosso dia, nosso trabalho e até mesmo o nosso humor? Muito do stress com o qual lidamos diariamente emerge diante dos desafios que enfrentamos nas nossas cidades.
Das crescentes dificuldades no trânsito até a solidão que sentimos pela ausência de espaços públicos de qualidade, os problemas urbanos são muitos e surgem até mesmo em lugares que emulam uma cidade como, por exemplo, a Cidade Universitária da USP, no bairro do Butantã, em São Paulo.
Por isso, com o objetivo de solucionar os problemas urbanos que também afetam o campus, a Prefeitura do Campus, a Superintendência do Espaço Físico e o Conselho Gestor do Campus USP da Capital lançaram o Plano Diretor Participativo em outubro de 2023.
Não por acaso, a ideia por trás do novo plano para a Cidade Universitária a partir de 2024 é que ele não seja apenas um instrumento pensado de forma fechada pelas respectivas autoridades, mas sim, o resultado de muita conversa. Ou seja, como o nome já enuncia, que ele seja verdadeiramente participativo, mesclando ideias de toda a comunidade formada por alunos, professores e funcionários que vivem o campus.
O que é um Plano Diretor?
O Plano Diretor é uma espécie de “mapa” que as cidades grandes precisam ter. Ele mostra o que é importante para organizar a cidade e melhorar a vida das pessoas.
Esse “mapa” envolve várias coisas, como cuidar do meio ambiente, proteger lugares culturais, planejar o transporte, organizar terrenos e garantir água limpa e outros serviços públicos.
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Modelo rodoviarista e dispersão das construções são exemplos de decisões que ainda influenciam o campus hoje, segundo a prefeita do campus - Foto: USP Imagens
Pensando o futuro da Cidade Universitária
De acordo com a professora Raquel Rolnik, atual prefeita do Campus USP da Capital, a base do novo plano será focada nos princípios de cuidado ambiental, equidade social, transição de energia e enfrentamento das mudanças climáticas. A ideia é “repensar o campus em direção aos desafios futuros”, afirma.
Quanto ao processo participativo, a professora expressa a importância de envolver a comunidade universitária em todas as etapas. “Não queremos apenas uma discussão técnica, mas uma participação efetiva”, afirma.
De acordo com a prefeita, a participação contará com três fases neste ano. A primeira rodada está agendada para abril, onde será apresentada uma leitura da situação atual. Oficinas presenciais e on-line serão realizadas, abertas para toda a comunidade. A segunda rodada, em agosto, se concentrará em propostas, com Grupos de Trabalho (GTs) elaborando e lançando mais oficinas.
Ao abordar as experiências dos Planos Diretores anteriores, Rolnik reconhece o impacto duradouro das escolhas feitas no passado. “O modelo rodoviarista e a dispersão das construções são exemplos de decisões que ainda influenciam o campus hoje”, lembra ela ao reforçar que o último Plano Diretor, feito em 2013, especificamente, desempenhou um papel crucial na definição das áreas restritas para construção.
Como participar?
- participe das oficinas presenciais e on-line que serão anunciadas pela Prefeitura do campus a partir do mês de abril
. - envie sugestões para os grupos de trabalho do plano diretor: no site https://planodiretor.cb.usp.br clique no ícone do grupo para acessar a página e clique no botão que leva ao formulário on-line
. - acompanhe o site do Plano Diretor e as redes sociais da Prefeitura do campus no Instagram, Facebook e Twitter
Processo participativo - cronograma
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Desde que foi lançado, o processo incluiu a formação de GTs com diferentes focos: Mobilidade, Energia, Água, Resíduos, Patrimônio, Convivência, Áreas Verdes e Fauna, além de um GT de Coordenação de Equipe Interdisciplinar. Os grupos contam com membros da comunidade como professores, funcionários, alunos de graduação e pós. Suas atividades incluem pesquisas, reuniões, elaboração de propostas, registros, palestras, monitoramento de fauna e flora, diagnósticos, aplicação de métodos, questionários, coleta de dados e propostas para promover sustentabilidade no campus.
No encerramento das etapas, as propostas consolidadas serão submetidas ao Conselho Gestor do Campus e, posteriormente, ao Conselho Universitário. “O objetivo é finalizar o ano com a aprovação do conselho”, esclarece ela.
![20230605_raquel_rolnik_fau_usp Raquel Rolnik - Foto: Marcos Santos/USP Imagens](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/elementor/thumbs/20230605_raquel_rolnik_fau_usp-q7j4xldkunzq41zud5qltgmlk1jk9s2mzfov4927no.png)
Raquel Rolnik, prefeita do campus - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Grupos de trabalho do Plano Diretor Participativo do campus da capital
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O que é a Cidade Universitária?
De acordo com dados da Prefeitura do Campus, a Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira é o principal campus da USP em São Paulo, localizado na zona oeste, no bairro do Butantã. Nomeado em homenagem ao fundador da Universidade, Armando de Salles Oliveira, o campus abriga 63 unidades de ensino, sendo 23 exclusivas do campus, juntamente com 27 órgãos centrais da USP e 11 condôminos em uma extensão de mais de 3,7 milhões de metros quadrados.
A diversidade arquitetônica e urbanística do campus é resultado da presença de diferentes unidades ao longo dos anos. Sua história remonta à década de 1930, mas a ocupação efetiva começou nos anos 1950.
Atualmente, o campus recebe uma quantidade significativa de pessoas, variando de 80.000 a 100.000 indivíduos. A infraestrutura viária e de trânsito abrange 60 km de malha viária, aproximadamente 130 km de calçadas, 50 faixas de pedestres, oito semáforos, seis portarias de pedestres e quatro portarias de veículos, todos sob responsabilidade da Prefeitura do Campus.
Além disso, há vários restaurantes, lanchonetes e uma rede de transporte público com diversas linhas de ônibus. Por fim, a Cidade Universitária conta com 924.836 m² de áreas verdes, incluindo cerca de 33.000 árvores e reservas ecológicas que ultrapassam os 10 hectares.
Um esforço colaborativo inédito
Até sua quarta edição, em 2013, o Plano Diretor do Campus USP da Capital era elaborado exclusivamente pela Superintendência do Espaço Físico (SEF), órgão ligado à Reitoria que é responsável pela expansão física da Cidade Universitária. Nesta quinta edição, pela primeira vez, o esforço de elaboração será compartilhado entre a SEF, a Prefeitura do Campus e o Conselho Gestor, que decide sobre as atividades, uso de áreas, mobilidade, trânsito, eventos e segurança na USP.
“Anteriormente, a SEF era a única responsável pela condução dos planos diretores. No entanto, este é o primeiro em que estamos trabalhando em conjunto com a Prefeitura e o Conselho”, confirma o professor Miguel Buzzar, superintendente da SEF. Contudo, ele relembra que, nos planos anteriores, a SEF já havia criado estruturas para a colaboração interna, envolvendo diversos profissionais e especialistas no campus.
Para o professor, a estratégia participativa do novo plano reflete a mudança cultural na vida universitária: “O novo Plano Diretor busca a participação ativa de docentes, discentes e servidores, por meio de grupos de trabalho e oficinas abertas”. O ponto principal é criar um espaço de diálogo, não apenas para ensinar sobre o plano, mas para promover a troca de ideias e perspectivas.
![20240310_miguel_buzzar_usp Miguel Buzzar – Foto: Reprodução/Facebook](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/elementor/thumbs/20240310_miguel_buzzar_usp-ql103kn7tl5h8rscv5qljwoatp7q26vujv9y37badg.png)
Miguel Buzzar, superintendente da SEF – Foto: Reprodução/Facebook
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Queremos criar espaços de interlocução para que as pessoas absorvam e ajudem a construir um plano que não é só para elas, mas é delas também"
Miguel Buzzar, superintendente da SEF
Atual presidente do Conselho, o professor Ricardo Trindade ressalta a necessidade de uma discussão ampla que transcenda as unidades individuais do campus. Dividir o espaço em diferentes setores geográficos foi a estratégia para pensar na utilização do espaço físico de forma abrangente. “E o Conselho Gestor é um foro ideal para a discussão”, afirmou.
Com isso em mente, o docente pontua que o brilho da iniciativa está na participação significativa dos diferentes públicos que vivem a Cidade Universitária. Ele reforça a importância de abordar questões práticas que impactam diretamente a vida diária dos membros da comunidade, como mobilidade, uso de energia, gestão da água e resíduos. “Essas decisões definirão o futuro da Cidade Universitária”, alertou o professor.
![20240310_ricardo_trindade_usp Ricardo Trindade, presidente do Conselho Gestor - Foto: Academia Brasileira de Ciências](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/elementor/thumbs/20240310_ricardo_trindade_usp-ql10d3qb4474yfy07s1fc03jnc8p3ppvj1e6976lac.png)
Ricardo Trindade, presidente do Conselho Gestor - Foto: Academia Brasileira de Ciências
Áreas das oficinas territoriais para elaboração de propostas
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Mapa elaborado pela PUSP-C com dados obtidos através do portal Geosampa da Prefeitura Municipal de São Paulo (SMUL; FCHT) em out./2023
O campus é nosso
De acordo com Marina Grinover, pós-doutoranda e responsável pelo Grupo de Trabalho (GT) de Coordenação Técnica Interdisciplinar, “o Plano Diretor é, de fato, bastante participativo”. Ela explica que a composição da equipe técnica de cada GT conta com pesquisadores, estudantes, voluntários e professores especialistas, todos envolvidos na elaboração do projeto. “Estamos nesse esforço de encontrar convergências e conflitos entre os conteúdos dos GTs, tratando o plano de forma interdisciplinar e transversal”, esclarece.
Com oficinas abertas a partir de abril, Grinover defende a importância da coordenação técnica na articulação entre os diversos assuntos, destacando a abertura para o diálogo com a comunidade da USP. Ela enfatiza que “o objetivo é evitar que o plano se torne uma soma isolada dos conteúdos dos GTs, promovendo um diálogo mais amplo”.
Ao discutir sobre a participação ativa da comunidade, a pesquisadora lembra o momento significativo que nossa sociedade vive, reforçando a importância de uma abordagem coletiva para resolver problemas locais e reconhecer virtudes.
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O Plano Diretor é um instrumento que não apenas identifica deficiências, mas estabelece ações concretas, sendo essencial para todos os habitantes da USP"
Marina Grinover, pós-doutoranda e responsável pelo Grupo de Trabalho (GT) de Coordenação Técnica Interdisciplinar
Membro da equipe do GT de Coordenação, Caique Bodine, estagiário e aluno do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, participa ativamente de reuniões dos grupos, auxiliando na identificação de temas comuns e conflitos.
Sobre a importância do Plano Diretor Participativo, Bodine salienta a necessidade de dar voz aos estudantes em decisões cruciais para o campus. Ele critica a falta de representatividade em espaços democráticos e defende a inclusão dos alunos na elaboração de planos, não apenas na universidade, mas em toda a sociedade.
“Os alunos nem sempre são chamados a tomar voz nos espaços, seja nos planos da cidade de São Paulo ou na representatividade histórica dos estudantes”, opina Bodine. Por isso, o estudante defende que é vital considerarmos a realidade do dia a dia dos estudantes, como as dificuldades de locomoção enfrentadas por vários deles, por exemplo.
Para ele, o novo Plano Diretor Participativo é uma oportunidade para a geração atual, especialmente em um momento decisivo envolvendo as mudanças climáticas, atuar em um “laboratório vivo” que pode influenciar mudanças significativas, inclusive na capital paulista.
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Comunidade universitária pode ser agente ativo na definição dos espaços - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Cem anos da USP em 2034
Em relação à dimensão ambiental e climática, a professora Raquel Rolnik sublinha a urgência de transformações abrangentes, desde mobilidade até questões relacionadas a áreas verdes e emergência da água. “Temos que pensar como nos organizar para enfrentar esses aspectos”, afirmou a professora. Ela alerta que o campus não é apenas um espaço físico, mas um patrimônio cultural material e imaterial que deve ser considerado em qualquer decisão.
Com o objetivo de traçar os rumos da Cidade Universitária pelos próximos dez anos, o projeto pretende culminar em um marco histórico para a USP, seu centenário.
Para Miguel Buzzar, o Plano Diretor é uma oportunidade para a comunidade universitária não ser apenas agente passivo, mas se tornar agente ativo na definição dos melhores espaços para ensino, pesquisa e convívio. A partir de 2025, as discussões sobre o plano serão direcionadas para cada unidade, possibilitando a reavaliação dos espaços de aprendizagem e convívio.
Ao destacar a coincidência do centenário da USP com a projeção mais longa para o campus, o presidente do Conselho Gestor Ricardo Trindade também reflete sobre o que se espera para o futuro da instituição: “Participar do Plano Diretor definirá os usos dos espaços e influenciará a qualidade de vida de todos”. Por isso, de acordo com o professor, “precisamos falar com todos os grupos para criar algo que abrace as diferentes visões”, conclui.
Divulgar as oficinas participativas, diz Marina Grinover, é parte da “força-tarefa” deste mês de março, já que o objetivo é mobilizar a comunidade para participar ativamente do processo. Para ela, o Plano Diretor da USP representa “uma oportunidade única para os membros da comunidade universitária influenciarem o futuro do campus, promovendo a democratização do conhecimento e a construção de soluções coletivas”.
Acompanhe o andamento do Plano Diretor Participativo do Campus USP da Capital neste link e acompanhe a Prefeitura do campus no Instagram, Facebook e Twitter.
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