Livros abordam história e acervo dos 100 anos do Museu Republicano de Itu

A história do primeiro museu aberto no interior do Estado de São Paulo é contada e organizada pelas historiadoras Mariana Esteves Martins e Maria Aparecida de Menezes Borrego em publicações especiais da Editora da USP

 Publicado: 09/04/2024     Atualizado: 24/04/2024 as 17:29

Texto: Leila Kiyomura

Sala da Convenção Republicana na inauguração do Museu Republicano, em 1923 - Foto: Acervo MRI

São dois livros para contar detalhes da formação centenária do primeiro museu aberto no interior do Estado de São Paulo e, o mais relevante, o primeiro a abordar a temática republicana no Brasil. Com esta trajetória pioneira, está integrado ao Museu Paulista da Universidade de São Paulo.

Em A Formação do Museu Republicano “Convenção de Itu” (1921-1946), a historiadora Mariana Esteves Martins apresenta, como ela própria observa, “duas linhas de pesquisa que, por sua vez, se relacionam entre si: os estudos da apropriação do passado e usos da memória e os estudos que se debruçam sobre a história dos museus”. 

Estes estudos convergem no livro Museu Republicano “Convenção de Itu”: 100 anos em 100 objetos, organizado por Maria Aparecida de Menezes Borrego, historiadora, professora e supervisora do museu. Através destas duas publicações o leitor vai conhecer detalhes da história, trajetória e acompanhar as peças de seus múltiplos acervos e, também, observar o contexto social, político e cultural da época em que foram criados.

Capas das publicações comemorativas dos 100 anos do Museu Republicano de Itu - Foto: Divulgação/Edusp

“A importância do Museu Republicano se deve ao acontecimento histórico que ocorreu em 18 de abril de 1873 no seu interior, pois numa das salas do primeiro pavimento foi realizada a convenção com representantes dos clubes republicanos das províncias de São Paulo e Rio de Janeiro,  que deu as bases para a formação do Partido Republicano Paulista (PRP), ainda durante o período do Império no Brasil”, explica Rosaria Ono, diretora do Museu Paulista da USP e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), também da USP. “Seu nome se deve a esse importante evento, que marcou o início da movimentação da elite brasileira e, principalmente, paulista a favor do regime republicano do País.”

No livro A Formação do Museu Republicano A Formação do Museu Republicano “Convenção de Itu” (1921-1946), Mariana Esteves Martins apresenta um trabalho desenvolvido com rigor e sensibilidade. Vai além da história que observou através da análise de documentos institucionais, registros fotográficos e correspondências. Nessa perspectiva histórica, a historiadora pontua a importante função dos museus no cotidiano atual. 

Sala B5, s.d.posterior a 1933, Museu Republicano Convenção de Itu, acervo APMP/FMR, Série Fotografias - Foto: Acervo MRI

Sala A1, c. 1945 - Affonso de E. Taunay, Guia do Museu Republicano Convenção de Itu, 1946 - Foto: Acervo MRI

Sala B1, 1923, Museu Republicano Convenção de Itu, APMP/FMR, Série Fotografias - Foto: Acervo MRI

Retrato de Joaquim Roiz de Barros - De Paulo Vergueiro Lopes Leão, óleo sobre tela - Foto: Acervo MRI

Retrato de Luiz Gonzaga de Campos Leite por Oscar Pereira da Silva, 1930, óleo sobre tela - Foto: Acervo MRI

“Celebrações de aniversários são profícuas para a elaboração de tradições e memórias. Momentos de crise também”, observa a historiadora. “No início da década de 1920, a política oligárquica paulista vivia esta dicotomia: aproximava-se o cinquentenário da fundação do Partido Republicano (PRP), que a representava, em um momento de incerteza com relação à continuidade de seu projeto em âmbito nacional. Foi decidido, então, que sua história seria celebrada com a criação de um museu.”

Celebrações de aniversários são profícuas para a elaboração de tradições e memórias. Momentos de crise também”

A autora faz um recorte histórico desde 23 de dezembro de 1921, quando o deputado estadual Mario Tavares propõe a compra do sobrado em Itu onde foi realizada a Convenção de Itu. “Ainda no campo da museologia, é importante citar que o fim do período aqui proposto como recorte temporal, 1946, é marcado pela criação do Conselho Internacional de Museus (Icom), dentro dos quadros da Unesco. A adesão do Brasil a essa iniciativa coroou o processo de institucionalização de ações voltadas aos museus e de tentativa de profissionalização da área que vinha sendo realizada no País.”

O livro é estruturado em quatro capítulos: Um Museu para Cultuar a República, Organizando o Museu, A Musealização de uma Ideia da República e 1946: o Museu Finalizado. Na apresentação, Heloísa Barbuy – historiadora, museóloga e orientadora nas pesquisas da autora – pontua: “Esta é uma obra cuja leitura se recomenda para historiadores que atuam nos campos de cultural material, patrimônio e memória, para museólogos, gestores e para o público em geral, que cada vez mais vem dando mostras de seu interesse pela história e pelos museus.”

Quando começar a folhear o livro Museu Republicano “Convenção de Itu”: 100 anos em 100 objetos, o leitor vai entrar na sua história e no seu espaço. As primeiras imagens são um convite para uma visita pessoal. A foto que abre o livro é a imagem do prédio em 1923. E a seguir, está o saguão elegante que surpreende pelas paisagens reproduzidas em azulejos. Na sequência, estão as fotos do acervo sobre as exposições e também a apresentação da equipe que integra o museu nas comemorações do seu centenário.

Antonio Luiz Cagni, Dom Pedro I e o Capitão-mor de Itu, Vicente Taques (1822), painel de azulejos - Acervo MRI

Saguão do Museu Republicano "Convenção de Itu" - Foto: Hélio Nobre e José Rosael, 2010

Miguelzinho Dutra, Salto de Itu, no Tietê, 1945, aquarela sobre papel - Foto: Acervo MRI

Miguelzinho Dutra, Cego com Criança (Piracicaba), 1845, aquarela sobre papel - Foto: Acervo MRI

Johann Moritz Rugendas, Festa Popular e Banda de Música no Rio de Janeiro, guache e grafite sobre papel - Foto: Acervo MRI

“Este livro organizado pela professora Maria Aparecida de Menezes Borrego oferece amplo panorama de um acervo que se desdobrou em várias frentes ao longo de 100 anos do Museu Republicano”, relata Paulo César Garcez Marins, professor do Museu Paulista da USP, que assina a orelha da edição. “De seu foco original circunscrito à memória das elites e de dirigentes republicanos, a coleção voltou-se também para objetos ligados à história social de Itu e à vida de diferentes segmentos sociais e agentes que habitaram a região do Vale do Tietê.”

O leitor tem a oportunidade de conhecer detalhes curiosos através das imagens que registram o acervo como os objetos decorativos, as pinturas, manuscritos, ferramentas de trabalho, artefatos diversos, documentos e cartões-postais. “De memorial da República, guardião de coleções de presidentes brasileiros e das memórias dos ituanos, o Museu Republicano foi se convertendo num espaço de produção do conhecimento histórico a partir de problemas atinentes às mudanças sociais”, observa a professora Maria Aparecida de Menezes Borrego.

… o Museu Republicano foi se convertendo num espaço de produção do conhecimento histórico a partir de problemas atinentes às mudanças sociais”

A formação do Museu Republicano “Convenção de Itu”, 1921-1946, de Mariana Esteves Martins. Editora da Universidade de São Paulo (Edusp) e Museu Paulista da USP, 296 páginas. Preço: R$ 104,00

Museu Republicano “Convenção de Itu”: 100 anos em 100 objetos. Organização de Maria Aparecida de Menezes Borrego. Editora da Universidade de São Paulo (Edusp) e Museu Paulista da USP, 392 páginas. Preço: R$ 130,00

Mais informações no site da Editora da USP neste link.


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