Estudantes na Febrace 2023, no Inova USP, na Cidade Universitária, em São Paulo -Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Estudantes apresentam soluções para um mundo sustentável e acessível em mostra da Febrace

Mostra de projetos da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia realizada na USP conta com 225 finalistas que trazem soluções inovadoras para a sociedade; confira os trabalhos na plataforma virtual do evento

 22/03/2023 - Publicado há 1 ano

Elaine Alves

Jovens criativos de todo o Brasil apresentando projetos inovadores que atendem às demandas atuais da sociedade: essa é a Febrace. A 21ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, promovida anualmente pela Escola Politécnica da USP (Poli) e realizada pelo Laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológico (LSI-TEC), acontece até o dia 24 de março, no Centro de Pesquisa e Inovação da USP (Inova USP), no campus Cidade Universitária, em São Paulo. A iniciativa estimula a cultura científica, a inovação e o empreendedorismo na educação básica e técnica, com o objetivo de despertar nos estudantes o interesse pela ciência e abrir portas para aqueles que desejam prosseguir no meio científico. 

Com a volta do evento em formato presencial, após três anos on-line, os 225 projetos finalistas — desenvolvidos por 516 estudantes do ensino fundamental, médio e técnico de todo o Brasil  — se destacaram pelo rigor científico e por soluções inovadoras para problemas recorrentes na sociedade. Na primeira etapa de seleção, 500 projetos semifinalistas foram escolhidos entre os 1.800 inscritos. Na etapa final e presencial da Febrace, nove dos 225 projetos serão selecionados para participar da maior competição internacional do gênero, a Regeneron Isef 2023, nos Estados Unidos (confira mais informações abaixo).

Os projetos estão expostos na plataforma virtual da Febrace neste link, onde é possível acessar o vídeo e o pôster de cada projeto e votar no preferido  os mais votados ganharão o prêmio de votação popular. 

Estudantes participam da mostra de projetos da 21ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, no Inova USP - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Projetos que apostam em sustentabilidade e acessibilidade

Todas as edições da Febrace trazem uma mostra diversa de projetos científicos e tecnológicos. Este ano, a feira contou com projetos finalistas que valorizam, principalmente, propostas de sustentabilidade, como, por exemplo, um sistema de coleta de água para combater a seca no sertão nordestino, e propostas de acessibilidade ligadas a pessoas com deficiência (PCD), como um aplicativo de suporte para mulheres autistas.

Entre os projetos de destaque da feira, também é possível encontrar um app que denuncia a violência contra a mulher com um simples toque, e até mesmo um novo exame que utiliza técnicas de inteligência artificial para diagnosticar precocemente doenças neurológicas, como a doença de Parkinson. 

Para a professora Roseli de Deus Lopes, coordenadora da Febrace e professora associada do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Poli, os projetos estão evoluindo e são essenciais para a resolução de problemas relevantes do mundo atual. “A cada ano a qualidade dos protótipos, relatórios e diários de bordo que eles desenvolvem fica melhor. Muitos protótipos já são funcionais e com um investimento pequeno eles podem virar produtos de verdade no mercado”, comenta. 

Roseli de Deus Lopes, professora da Poli USP, é responsável pela concepção e viabilização da Febrace e coordenadora geral desde 2003 - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Saiba mais sobre alguns dos projetos que participam da mostra de projetos da Febrace em 2023:

Lonas e materiais recicláveis como motor do combate à seca no semiárido nordestino

Vitória Sabrina da Silva Leite, estudante da E.E. Monsenhor Raimundo Gurgel, mostrando fotos da cisterna construída por ela a partir de lonas e materiais recicláveis para coleta de água da chuva, em Mossoró, no Rio Grande do Norte - Fotos: Cecília Bastos/USP Imagens

Milhares de famílias sofrem todos os dias com os efeitos do clima do semiárido nordestino, que se caracteriza por balanço hídrico negativo e uma média de chuvas inferior a 800 mm por ano. Como a água é uma fonte inestimável para a vida humana, é necessário que medidas como o reaproveitamento de água das chuvas para subsistência sejam tomadas. 

Com esse propósito, Vitória Sabrina da Silva Leite, estudante da E.E. Monsenhor Raimundo Gurgel, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, apresentou uma alternativa na captação e reaproveitamento da água da chuva. A estudante colocou a “mão na massa” e criou cisternas autossuficientes de baixo custo, construídas a partir de lonas e materiais recicláveis, que mostraram-se satisfatórias para o objetivo do projeto, pois podem ser implementadas não só nas proximidades das casas, mas também em locais abertos. 

Para chegar até a etapa final da Febrace, Vitória participou da Feira de Ciências da 12ª Diretoria Regional de Educação (Direc), em Mossoró. Sua motivação para o projeto foi conviver frequentemente com familiares que dependiam da subsistência para sobreviver, e sentiam fortemente os impactos da estiagem. “Fico em contato com a minha família que vive na zona rural e a realidade deles às vezes assusta, porque muitas pessoas não têm acesso a um bom sistema de coleta de água e acabam perdendo a oportunidade de armazenar a água da chuva, o que os levam a perder condições de subsistência durante a estiagem”, afirma.

Para conferir o vídeo de apresentação do projeto clique aqui.

Autie: o app que oferece mais autonomia e visibilidade para mulheres autistas

As estudantes Isadora Ribeiro Vital, Leticia Pires Ribeiro e Anna Beatriz Gavinho da Silva, alunas do IFSP - Campus Suzano, em São Paulo, e o SOS Violência, uma das diversas funcionalidades de suporte para mulheres autistas no app Autie, que conta com opções para as pessoas se protegerem em casos de agressão - Fotos: Cecília Bastos/USP Imagens

Não é novidade que mulheres sejam invisibilizadas dentro da sociedade. O diagnóstico feminino de autismo, por exemplo, é menos frequente que o masculino, pois normalmente mulheres autistas apresentam características esperadas pelo estereótipo de feminilidade, como timidez e introspecção. 

Por isso, o aplicativo Autie foi desenvolvido por estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), em Suzano, com o objetivo de oferecer suporte para pessoas autistas, sobretudo mulheres autistas do nível de suporte 1 e 2. O app conta com alarmes para manter uma rotina saudável, desenhos roteirizados para guiar atividades básicas, SOS violência para providenciar socorro rapidamente e armazenar evidências, entre outras funcionalidades. 

Isadora Ribeiro Vital, uma das estudantes que desenvolveram o aplicativo, elucida a motivação do projeto: “Percebemos que esse público é invisibilizado. Não existem recursos voltados para este tema, principalmente no contexto tecnológico e científico”. 

Para chegar ao protótipo atual, o grupo precisou passar por várias etapas, incluindo estudo de programação. Este projeto cativou ONGs e diversas outras instituições sociais voltadas ao autismo, que possuem o interesse de melhorá-lo para que, no futuro, possa ser inserido no mercado.

Para conferir o vídeo de apresentação do projeto clique aqui.

Novos caminhos para o diagnóstico da doença de Parkinson

Melise Gonzaga Rocha e Rafael Leite dos Santos, estudantes do Cefet-MG, em Belo Horizonte, Minas Gerais, desenvolveram um projeto acessível para facilitar o diagnóstico da doença de Parkinson; na segunda foto, algoritmos de inteligência artificial captam ondas espirais desenhadas à mão pelo paciente e analisam se ele está saudável ou se tem a doença de Parkinson mesmo em seus estágios iniciais - Fotos: Cecília Bastos/USP Imagens

Utilizando algoritmos de inteligência artificial, alunos do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), em Belo Horizonte, apresentam um projeto que fornece um sistema barato, acessível e que pode identificar precocemente se uma pessoa está com a doença de Parkinson. 

O sistema que os estudantes utilizaram é baseado no teste de desenho geométrico proposto por Poonam Zham e outros cientistas em 2017. Neste projeto, os algoritmos de aprendizado de máquina detectam a doença de Parkinson em imagens espirais e ondas desenhadas à mão pelo paciente. Os resultados obtidos indicaram que é possível prever a doença com 83% de precisão nos testes realizados.

No Brasil, o diagnóstico da doença de Parkinson é feito por meio da ressonância magnética, um processo geralmente demorado. Para Melise Gonzaga Rocha, uma das estudantes responsável pela elaboração do projeto, explica que o objetivo é facilitar esse diagnóstico: “Particularmente, na minha família existe o caso de uma pessoa que foi diagnosticada com a doença de Parkinson, e foi um processo difícil. Por isso, a gente criou o projeto para facilitar esse processo e torná-lo mais acessível”.

Para conferir o vídeo de apresentação do projeto clique aqui.

Click Help: com apenas um toque é possível denunciar a violência contra a mulher

Os estudantes Alana de França Silva, Thayná Alves Quinteiro e Alessandro Alves de Araújo, do Centro Educacional Sesi-437, em Hortolândia, São Paulo, desenvolveram o Click Help, um dispositivo contra a violência à mulher; à direita, protótipo do dispositivo do projeto em formato de pulseira e aplicativo do Click Help. Com o acionamento do dispositivo por toque, o app notifica um contato de emergência - Fotos: Cecília Bastos/USP Imagens

Click Help, dispositivo desenvolvido por estudantes do Centro Educacional Sesi, em Hortolândia, São Paulo, tem por objetivo proporcionar maior segurança para as mulheres vítimas de assédio e outros tipos de violência no município. Antes de chegar à final da Febrace, o grupo de estudantes já tinha conquistado o primeiro lugar da categoria de Engenharias na 11ª Mostra de Ciências e Tecnologia do Instituto 3M.

Thayná Alves Quinteiro, uma das criadoras do dispositivo, falou sobre a motivação de seu grupo para o desenvolvimento do projeto: “Na pandemia, vários problemas socioeconômicos surgiram, mas algo que já era grande no Brasil se agravou ainda mais com o confinamento: a violência contra a mulher. A Nota Técnica de violência doméstica no Brasil comprovou que houve um aumento de mais de 400% nos relatos de casos de violência doméstica e violência contra a mulher no decorrer de 2020”.

O projeto aborda o desenvolvimento e implementação de um dispositivo que seja de fácil porte — uma pulseira ou chaveiro, por exemplo — e que será conectado a um aplicativo. Quando esse dispositivo for acionado, o app notifica as autoridades da região, compartilha a localização da mulher pelo WhatsApp para um contato de emergência pré-cadastrado no Click Help e ao mesmo tempo realiza uma ligação.

 Para conferir o vídeo de apresentação do projeto clique aqui.

Mais uma etapa rumo à carreira científica

Desde 2003, a Febrace é responsável por selecionar os projetos brasileiros e indicá-los para a International Science and Engineering (Isef) ou Feira Internacional de Ciências e Engenharia, maior feira internacional para estudantes em nível pré-universitário de várias partes do mundo. O País é o 10º mais premiado na Regeneron Isef — com oito prêmios e uma menção honrosa —, o que mostra o nível de qualificação dos projetos elaborados por estudantes do ensino fundamental e médio do Brasil.

Mas, para chegar a esse patamar, é necessário que alguns requisitos sejam atendidos. Desde a adequação às regras da Isef, a distribuição regional pelo país e a proporção de representatividade presente, até algumas características específicas para os projetos se destacarem em meio aos 225 finalistas. 

“Um dos quesitos para a banca selecionar os projetos é a representatividade de todas as regiões geográficas do Brasil. Além disso, os projetos precisam ser autorais e mais maduros em relação ao trabalho que fazemos na Febrace. Os estudantes devem encontrar problemas relevantes, nos quais consigam aplicar os métodos do projeto com rigor científico”, reforça Roseli.

A Isef um programa sem fins lucrativos organizado pela Society for Science e, desde 1950, se dedica a promover e expandir a alfabetização e a pesquisa científica. Esta edição, que acontecerá de 14 a 15 de maio, em Dallas, nos Estados Unidos, oferece prêmios especiais para jovens estudantes que criam projetos com potencial para solucionar problemas do mundo contemporâneo. 

Confira na plataforma virtual da Febrace os projetos desta edição e acompanhe a Febrace pelo site ou pelas redes sociais Facebook, Instagram, Twitter e YouTube.  

Veja mais fotos do evento:

Fotos: Marcos Santos/USP Imagens


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