Há alguns anos, o corretor ortográfico dos editores de texto provavelmente não reconheceria a palavra “educomunicação” (ou “educom”, como também é conhecida). Hoje, não só a palavra e o conceito são conhecidos — e reconhecidos —, como a área caminha em crescente para a consolidação e disseminação definitiva, com demanda por profissionais cada vez maior.
Apesar da dificuldade em se fechar uma definição para a área, tanto alunos quanto docentes concordam que o que mais se aproxima de explicar a educomunicação é “a interface entre educação e comunicação”. Sem pender, porém, para o lado da primeira, com uma educação comunicacional, nem tendendo para a segunda, com uma comunicação educacional.
Segundo o professor Ismar de Oliveira Soares, um dos idealizadores do curso, a educomunicação reconhece a comunicação como direito universal, e não só como propriedade de quem possui os meios. “Ela propõe que o diálogo social se estabeleça e que se privilegie nos processos educativos o potencial comunicador das pessoas. E é preciso educar para que as pessoas se comuniquem”, aponta.
Para Tatiana Luz, a educomunicação é uma área emergente e uma grande oportunidade para quem “está disposto a construir alguma coisa”. Estudante do quarto ano da licenciatura da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP — além de estar prestes a se formar jornalista pela Faculdade Cásper Líbero —, ela enxerga a educomunicação como uma área de lutas, intimamente ligada aos direitos humanos e à democracia, e que está sempre em movimento.
Teoria somada à vivência prática
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Prestes a formar a sua quarta turma, a Educomunicação ainda dá seus primeiros passos para se consolidar, mas já se aproxima do padrão de concorrência e adesão das outras licenciaturas da USP.
Segundo a professora Cristina Mungioli, chefe do Departamento de Comunicações e Artes (CCA) da ECA, há uma quantidade significativa de matriculados no curso, que está mudando progressivamente de perfil. “No momento, temos um perfil de 50% de alunos que já têm uma formação superior e 50% de alunos que estão na primeira graduação, enquanto na primeira turma, a maioria era formados”, explica a docente.
Durante os quatros anos do curso, com aulas na ECA e na Faculdade de Educação (FE), o estudante discute as teorias da comunicação, da educação e da interface entre as áreas, e é também estimulado a ter vivências práticas.
As experiências propostas nas quatro disciplinas de Atividades Acadêmicas, Científicas e Culturais (AACCs) e dos estágios obrigatórios no final do curso são um dos destaques da licenciatura, além das imersões. “Há entidades que são cadastradas conosco e, desde o primeiro ano, os nossos alunos são convidados a participar dessa experiência. É por isso que dizemos que desde o início o nosso aluno é colocado em contato com aquilo que o educomunicador fará após se formar”, aponta Cristina.
Fora as imersões internas, como o Projeto Redigir, existem projetos externos, como o Educom.Geração Cidadã. Iniciativa interinstitucional entre o privado Colégio Dante Alighieri e o público CEU Emef Casa Blanca, junto ao Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da USP, ele une iniciativas de educomunicação de ambas as escolas.
Tatiana participou da imersão em 2016. “No Educom.Geração Cidadã, a ideia é conectar os alunos que fazem educom no ensino privado e no ensino público. São turmas pequenas, cerca de 20 alunos de cada, e quando eu participei, como parte da equipe de gestão, eram encontros muito afetivos, de mostrar as realidades diferentes, ter contato com isso”, explica a estudante.
Para o professor Ismar de Oliveira Soares, diferentemente de outros cursos, a licenciatura em Educom forma profissionais sem fórmulas fechadas de como agir. “O educomunicador vai aprender a ser criativo, a identificar problemas e buscar soluções sempre em aliança, em diálogo com os campos estabelecidos. Então ele vai dialogar com os professores, com os comunicadores, nos desenvolvimentos dos seus projetos. A meta é ampliar o quociente comunicativo das pessoas”, explica.
Além da docência
Apesar de ser uma licenciatura, a área de atuação do formado em Educomunicação na USP não se restringe à docência. Além das aulas no ensino formal e do trabalho como formador de professores que pensem a sala de aula de outra perspectiva, o educomunicador também é capacitado para atuar como pesquisador e como consultor de práticas educomunicativas, tanto no terceiro setor, em ONGs, quanto em empresas. Uma quarta área de atuação se dá na comunicação, em TVs com programação educativa, por exemplo.
“A educomunicação está crescendo e vai ganhar espaço porque tem espaço para ela. Existe uma demanda desse profissional, mas as pessoas não a conhecem direito e não sabem quem colocar lá, e quanto mais aparecermos, mais as demandas vão surgir”, opina Tatiana.
Histórico
Para Soares, a educomunicação nasce com base na experiência latino-americana nas décadas de 1960, 1970 e 1980, na luta contra as ditaduras e a pobreza, e em favor das minorias. “A ideia [da educomunicação] é utópica, vislumbra uma comunicação dialógica, participativa e vai trabalhar para que isso aconteça. Parte da experiência da América Latina com a chamada comunicação popular, comunicação de resistência, comunicação alternativa, que esteve muito próxima à educação popular. Mas ela sai do alternativo e vem dialogar com o sistema estabelecido”, explica o professor.
A educomunicação nos moldes atuais começou a se fundamentar mais fortemente nos últimos anos da década de 1990, a partir de pesquisa financiada pela Fapesp e realizada pelo NCE em 12 países da América Latina, mais Portugal e Espanha. A pesquisa objetivava entender qual o imaginário, em termos teóricos e metodológicos, das lideranças de projetos de intervenção social através da comunicação.
“O NCE identificou que, ainda que esses grupos não se conhecessem, eles tinham referenciais muito semelhantes e praticavam uma ação comunicativa que se distinguia da ação da mídia, e uma ação educativa que se distinguia da praticada pelos sistemas educacionais. Eles faziam algo na época entendido como alternativo, mas que tinha uma disseminação muito forte não só na América Latina, mas em outras partes do mundo”, explica Soares.
A partir da constatação de que existiam práticas na interface entre comunicação e educação, a pesquisa sistematizou esse conhecimento e o difundiu, criando demandas.
Em 2001, a Prefeitura de São Paulo, com um cenário de violência nas escolas públicas, buscou na educomunicação um caminho para resolver o problema. Durante sete semestres, entre 2001 e 2004, o NCE atendeu a cerca de 455 escolas através do projeto Educom.Rádio, que, por intermédio da linguagem radiofônica e de processos educomunicativos, buscou reduzir a violência nas instituições de ensino.
A ação deu tão certo que, além de resultar na Lei Educom (13.941 de 28/12/2004), propiciou o início da elaboração do curso de licenciatura em Educomunicação. A partir de 2005, com orientação teórica angariada na pós-graduação em Gestão da Comunicação e com base em outras experiências, como as 80 colunas publicadas pelo NCE no Jornal da Tarde, entre 2006 e 2007, discutindo como trabalhar temas a partir da educomunicação, Soares e outros docentes formularam a proposta, aprovada pelo Conselho Universitário (CO) da USP em 17 de novembro de 2009.
Quer saber mais sobre o curso?
A Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP está localizada no campus Cidade Universitária, em São Paulo. Confira:
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