UX Design é uma das áreas em que o estudante de biblioteconomia pode atuar - Foto: Freepik

Para além das bibliotecas, curso de Biblioteconomia se destaca pelo amplo mercado de trabalho

Coordenadores e ex-alunas do curso oferecido pela USP em São Paulo e Ribeirão Preto mostram as múltiplas possibilidades de atuação profissional dentro da área

 07/02/2023 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 09/02/2023 as 8:18

Maria Fernanda Barros

Imagine ser responsável pela tarefa de preservar e organizar os milhares de conteúdos produzidos pela humanidade. Desconhecida ou estigmatizada por muitos, a graduação em Biblioteconomia capacita profissionais para sistematizar toda e qualquer informação. Por mais que seu nome remeta ao trabalho nas bibliotecas, a Biblioteconomia é uma área extremamente ampla e não se restringe a isso, afirma Fernando Modesto, coordenador do curso da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. “Trabalhamos com os registros da memória, e eles estão tanto em meios analógicos, como as bibliotecas, quanto em meios digitais.”

Embora o surgimento do curso nas universidades seja recente, diversas civilizações, como a dos sumérios, já organizavam estruturas de registros de informação desde a Antiguidade, relata Fernando. “A biblioteconomia é uma atividade milenar”, diz. No atual contexto, a área tenta unir suas heranças analógicas às transformações tecnológicas vivenciadas pela sociedade. 

Mas como uma profissão clássica, que nasceu há mais de dois mil anos, se insere nesse novo universo digital? Francisco Paletta, professor e chefe do Departamento de Informação e Cultura (CBD) da USP, explica que a biblioteconomia capta as tendências e as necessidades do atual mercado de trabalho. A informação sempre é uma demanda, o que amplifica e diversifica a atuação na área: “Os dados, quando organizados, viram informação. A informação, quando analisada, vira conhecimento. Esse conhecimento se transforma no que as organizações chamam de inteligência estratégica para tomada de decisão.”

Fernando Modesto, coordenador do curso de Biblioteconomia da ECA, e Francisco Paletta, chefe do CBD - Foto: Arquivo Jornal da USP e IEB

Na USP, a Biblioteconomia busca integrar a linguagem da tecnologia à formação acadêmica. Segundo ele, o suporte tecnológico é utilizado pelas disciplinas do curso e atualmente é essencial para o exercício da profissão: “Se antes nós trabalhávamos com ficha impressa e máquina de escrever, hoje, nos processos de tratamento de informação, trabalhamos com catálogos on-line e processos em cima de softwares”.

O analógico e o digital no mercado de trabalho

O curso engloba e intersecciona as faces analógicas e digitais do mercado de trabalho da Biblioteconomia. A atuação profissional pode ir desde a preservação de acervos históricos dos séculos passados até a utilização de metadados para a descrição e recuperação de arquivos digitais. “É um campo muito rico de atuação profissional. Tentamos fazer o mercado entender que o bibliotecário é um profissional que pode trabalhar numa equipe multidisciplinar”, afirma Francisco.

Biblioteconomia foi a segunda faculdade de Paloma Altran, que realizou intercâmbio na ECA durante a graduação e hoje atua como bibliotecária coordenadora do Instituto Sidarta, uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo contribuir para as políticas públicas educacionais. Sua trajetória profissional é marcada pelo trabalho no campo analógico da biblioteconomia: já trabalhou em bibliotecas universitárias, públicas e centros de documentação. Ela conta que as possibilidades de atuação do bibliotecário são múltiplas — e muitas vezes desconhecidas pela sociedade.

Paloma Altran

Paloma Altran - Foto: Arquivo Pessoal

Na instituição pública em que trabalhei, ajudei a desenvolver um sistema de informações gerenciais dentro das áreas das bibliotecas. Nossa equipe criou um sistema junto do setor de tecnologia da informação, e a partir disso criamos todos os dados que precisávamos a respeito do cenário das bibliotecas”

INSTITUTO SIDARTA

Paloma na Midiateca do Instituto Sidarta - Foto: Arquivo Pessoal

Paloma também reforça que as bibliotecas são mais do que um espaço de leitura e empréstimo de materiais: “Temos que analisar e pensar para criar projetos, ações, serviços e produtos para as bibliotecas, sempre buscando criar o vínculo com a sociedade ao nosso redor”. 

Ela cita seu trabalho em uma das maiores bibliotecas públicas do País, a Biblioteca Mário de Andrade, que realiza programações culturais inclusivas, pensadas para um público diverso. “É fundamental o papel das bibliotecas para mostrar que os espaços públicos podem existir sem violência e sem preconceito, e ajudar a criar um mundo mais empático e tolerante”, diz.

O mercado digital da Biblioteconomia é extenso na mesma medida: Laura Santana se formou na ECA em 2015 e hoje trabalha com educação e empregabilidade no setor de tecnologia. Ela escolheu o curso devido ao interesse por editoras científicas; para se aproximar da área, estagiou na Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e na diretoria científica do Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi) da Universidade, que agora tem o nome de Agência de Bibliotecas e Coleções Digitais da USP

Laura Santana

Laura Santana - Foto: Arquivo Pessoal

No final de seu intercâmbio, realizado por meio da USP, Laura conseguiu um emprego no ramo que desejava: foi contratada por uma editora britânica que buscava um bibliotecário brasileiro para sua filial de São Paulo. Por sete anos trabalhou com treinamento e estudo de usuários e com desenvolvimento de negócios, para ajudar iniciativas governamentais ou privadas da área de saúde a incorporarem ferramentas tecnológicas. Sua função era dar apoio ao programa Mais Médicos, fornecendo o acesso de recursos baseados em evidências científicas aos médicos cubanos. 

Desde o ano passado, Laura trabalha em uma empresa da Amazon voltada para computação em nuvem, identificando oportunidades de qualificação profissional em tecnologia para grupos socialmente vulneráveis ao redor da América Latina. Sua atuação abrange desenvolver parcerias com governos, organizações multilaterais, universidades, empresas e ONGs, o que mostra as múltiplas possibilidades no mercado da Biblioteconomia. 

Foi fazer o curso de Biblioteconomia que me trouxe por essa jornada. Graças a esse olhar da profissão para o usuário, consigo identificar as necessidades e as demandas educacionais dos alunos”

Segundo a bibliotecária, é importante que o curso “se torne mais visível para outras áreas de conhecimento, indo para além do escopo da biblioteca, e focando no escopo da informação e dos usuários”. Laura também conta que o programa de Biblioteconomia da Universidade a conectou com o mundo real em diversos aspectos, como sociedade, cultura e informação, e para ela isso deve ser cada vez mais presente. “Temos que ser aliados de todas as áreas de conhecimento”, afirma.

Área de tecnologia e informação tem várias posições para formados em Biblioteconomia - Foto: Divulgação Amazon

Renovação do curso

Único oferecido de forma gratuita na cidade de São Paulo, o curso de Biblioteconomia da Escola de Comunicações e Artes da USP vem procurando renovar e atrair mais estudantes. Uma das mudanças é a alteração do nome do curso, que a partir de 2024 passará a se chamar Biblioteconomia e Ciência da Informação. O intuito, segundo os professores, é ampliar as possibilidades profissionais dos estudantes e vincular, de forma mais direta, a graduação ao campo científico da informação. 

Modernizar o projeto político-pedagógico é um objetivo pretendido pela USP. “Queremos trazer para dentro do currículo disciplinas que dialoguem com a ciência da informação e que ampliem o mercado de trabalho do nosso aluno”, afirma Francisco. Um dos planos futuros organizados pela gestão do curso é a internacionalização da graduação. A proposta é introduzir a possibilidade de se obter um duplo diploma, a partir de parcerias com escolas europeias, como a Universidade do Porto, em Portugal. 

Além da Escola de Comunicações e Artes (ECA), no campus Butantã, o curso de Biblioteconomia da USP também é oferecido pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), onde é coordenado pela professora Ieda Martins. Para saber mais, acesse o site da ECA e a página da FFCLRP.

Fachada da Escola de Comunicações e Artes da USP no campus da capital - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Aula do curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação no campus Ribeirão Preto - Foto: Facebook/BCI FFCLRP

INFORMAÇÕES GERAIS

Bacharelado em Biblioteconomia é oferecido em duas unidades da USP

LOCAL

Escola de Comunicações e Artes (ECA)

VAGAS

28

PERÍODO

Aulas no período matutino ou noturno

DURAÇÃO

8 semestres no matutino e 10 semestres no noturno

LOCAL

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP)

VAGAS

28

PERÍODO

Aulas no período noturno

DURAÇÃO

8 semestres

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