“Você é ou conhece alguma menina entre 10 e 14 anos que sonha em ser cientista, é curiosa e ama aprender coisas novas?” A pergunta abre um material de divulgação do projeto Meninas Com Ciência que se disseminou nas redes sociais e virou manchete em jornais de grande circulação e sites noticiosos. Não é difícil entender o motivo.
Como em quase todos os espaços de prestígio, o caminho para entrar no mundo da ciência costuma ser mais difícil para quem se identifica com o gênero feminino. Um estudo realizado em cidades latino-americanas publicado em março deste ano indica que o problema pode ter início ainda na infância: meninas entre 6 e 8 anos anos associam a engenharia com afinidades e destrezas masculinas, por exemplo.
O Meninas com Ciência quer mudar essa realidade. Em outubro, a iniciativa vai realizar em São Paulo mais uma edição do curso no qual mulheres cientistas apresentam diferentes áreas de estudo para as pequenas participantes. As inscrições serão abertas na próxima segunda-feira, 10 de setembro. Uma das palestrantes é a oceanógrafa Camila Negrão Signori, responsável por trazer o projeto para a USP.
Professora da Universidade, Camila acredita que um dos fatores que distanciam as meninas do universo da ciência é o fato de que, desde pequenas, elas são influenciadas a seguir profissões que envolvem cuidados interpessoais, de alguma forma relacionadas com o que se espera da mulher socialmente. Por outro lado, mesmo as interessadas em ciência acabam desencorajadas por haver tão poucas representantes na profissão.
Projetos como esse tendem a incentivar as meninas, mostrando por meio de exemplos do nosso dia a dia o espaço que a gente pode ocupar”, diz a coordenadora do evento, Camila Signori.
As aulas serão realizadas em São Paulo, no Instituto Oceanográfico (IO) da USP, e são voltadas a alunas entre o 5º e o 9º ano do ensino fundamental. O curso é dividido em cinco aulas, ministradas sempre aos sábados, nas quais serão abordados temas como zoologia, astronomia, paleontologia e neurociências. Das 50 vagas oferecidas, metade é reservada para estudantes de escolas públicas. A seleção é por sorteio.
“De mulheres cientistas para meninas que sonham”
A escolha por direcionar o projeto para meninas do 5º ao 9º ano tem um motivo. Camila Signori explica que, nessa faixa, as crianças têm a possibilidade não somente de compreender o conteúdo do curso, mas também de incorporar esse conhecimento em suas formações pessoais. “Um dos objetivos implícitos do Meninas Com Ciência é, além de inserir meninas no meio científico, despertar o interesse para diferentes áreas e mostrar a importância da ciência para o desenvolvimento de um país”, afirma.
Também é possível participar do projeto ajudando a monitorar as crianças durante as atividades. Foram abertas 15 vagas, destinadas a alunas de graduação de qualquer universidade paulista. As inscrições podem ser feitas pelo site a partir de 10 de setembro. “Serve para aprender e ensinar, porque ao orientar esses grupos de crianças, elas também podem transmitir um pouquinho da sua experiência dentro da Universidade. Vão ter esse contato próximo com as crianças e as palestrantes, numa troca de conhecimento”, afirma a coordenadora do evento.
O programa aconteceu em São Paulo pela primeira vez em 2017, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), inspirado em versões anteriores que ocorreram no Rio de Janeiro. A visibilidade dada à nova edição do evento gerou muita procura de pais e responsáveis e atraiu também o interesse de patrocinadores. “Muitas editoras nos procuraram, inclusive doando livros relacionados aos temas científicos, em linguagem para crianças, que vamos dar de brindes para as participantes”, diz Camila. Elas ainda receberam apoio de outras instituições, como a Missão Lunar Garatéa.
Uma das palestrantes do Meninas Com Ciência, a professora da Universidade Federal do ABC (UFABC) Maria Inês Ribas Rodrigues, destaca a importância de mostrar que mulheres podem ter uma carreira científica de sucesso. Ela conta que começou a refletir sobre o assunto principalmente quando estava cursando a graduação em física. “Só tinha eu de aluna na sala de aula, e isso me chamava a atenção. Me perguntava o motivo de ter poucas mulheres nessa área. Desde então, eu sempre tentei incentivar as meninas, as mulheres a irem para essa área também.”
Com outras professoras, Maria Inês está organizando uma versão do projeto na região do ABC em 2019, que dará destaque justamente para temas dentro da física. Com isso, ela espera alcançar o mesmo resultado positivo das edições anteriores.
Mais informações: site https://www.meninascomcienciausp.com.br/