O Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos, localizado em Santos, no litoral paulista, é a mais antiga evidência física da colonização portuguesa no Brasil. Erguido em 1534 a mando do navegador português Martim Afonso de Souza, ele representa um testemunho da primeira época de produção de cana-de-açúcar no País, visando à produção de açúcar, um dos artigos mais valorizados mundialmente na época. Doado à USP em 1958, hoje o lugar é palco de pesquisas arqueológicas e também de divulgação científica, com a promoção de eventos voltados para o público em geral, como uma oficina sobre a trajetória da cana-de-açúcar – desde a pré-história até sua chegada ao Brasil -, no dia 23 de julho (leia abaixo).
“O açúcar traz a civilização europeia para a América”, afirma a professora Vera Lucia Amaral Ferlini, diretora do Monumento Nacional Ruínas São Jorge dos Erasmos. Docente do Departamento de História da FFLCH, Vera Lucia – uma das maiores especialistas brasileiras em história do açúcar – lembra que a Coroa portuguesa utilizou a produção açucareira como forma de fixação na colônia e como respaldo econômico para essa ocupação. A importância do produto era tanta que, na época, era comum dizer que “povoava-se com o açúcar”, cita a professora.
Vera Lucia destaca ainda a função do Engenho dos Erasmos na defesa do território. Construído em pedra, está voltado para a Serra do Mar, com o objetivo de proteger o local de invasores vindos do planalto. “Ele é mais do que um engenho. É uma fortaleza que possuía um engenho”, explica a professora.
Por volta de 1540, o engenho foi vendido para o negociante flamenco Erasmo Schetz e seus filhos – daí o nome com que se popularizou – e ficou em atividade até cerca de 1620, quando um incêndio provocado por piratas destruiu o local.
Abandonada, a construção se deteriorou cada vez mais. Somente no século 20, com a doação do engenho para a USP – feita pelo último proprietário do terreno, Octávio Ribeiro de Araújo, em 1958 –, ele se tornou objeto de atenção dos pesquisadores. “Foi quando começaram as pesquisas arqueológicas para conhecer melhor a história do engenho”, informa o professor André Müller de Mello, educador do Engenho dos Erasmos. “A gente tem este lugar como um patrimônio singular e muito importante para Santos, para São Paulo e para o País.”
O Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos é uma Base Avançada de Pesquisa, Cultura e Extensão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP.
Assista a seguir documentário da TV USP sobre o Engenho São Jorge dos Erasmos
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Trajetória da cana-de-açúcar é tema de oficina
A longa trajetória da cana-de-açúcar – desde a sua domesticação, há 8 mil anos, até sua chegada ao Brasil, em 1532 – foi o tema da oficina realizada no dia 23 de julho no Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos. A oficina foi ministrada pelo geógrafo Mateus de Almeida Sampaio, pesquisador do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Sampaio apresentou mapas que mostram o caminho percorrido pela cana-de-açúcar. Em torno de 6.000 antes de Cristo, a planta se difundiu pelo Oriente Médio. Na Idade Média, atingiu o Mediterrâneo, tornando-se conhecida na Europa. Com alto valor econômico, foi trazida para as Américas pelos europeus em 1493. Chegou ao Brasil em 1532, com o navegador português Martim Afonso de Souza, que naquele ano fundou a primeira vila do Brasil, São Vicente, no litoral paulista, e ordenou a construção de um engenho de cana-de-açúcar – o Engenho dos Erasmos –, erguido em 1534.
O Engenho dos Erasmos fica na rua Alan Cíber Pinto, nº 96, Vila São Jorge, em Santos. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (13) 3229-2703 e na página eletrônica www.engenho.prceu.usp.br.
Assista a seguir entrevista com a professora Vera Lucia Amaral Ferlini sobre a oficina “Mapas do Açúcar: O Caminho Percorrido pela Cana-de-Açúcar em Direção ao Brasil (6000 a.C.-1532 d.C.)”
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