Um em cada três adultos no Brasil se identifica como evangélico

Apesar do crescimento no número de evangélicos, Daniel Afonso da Silva diz que a população católica ainda é a maior no País, quadro que não deve mudar a médio prazo

 06/09/2023 - Publicado há 8 meses
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O aumento de políticos evangélicos é uma tendência que vem ocorrendo desde 1990 – Foto: Alan Santos/PR via Flickr/Planácio do Planalto

 

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Os evangélicos foram o segmento religioso que mais cresceu no Brasil nos últimos 30 anos, segundo dados do IBGE. Em 1980, representavam pouco mais de  6% da população, agora são 22%. Daniel Afonso da Silva, doutor em História  Social e pesquisador  no Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais (Nupri) da USP, explica que esse aumento não é algo novo, vem ocorrendo bem antes disso, desde a década de 1960. A primeira igreja evangélica no País data de 1922. Em 1960, já existiam oficialmente 18 igrejas evangélicas missionárias no Brasil. 

Com isso, em 1990, o crescimento porcentual já era de 9% no período da redemocratização. No ano de 2003, surge uma lei (10.825 /2003) que amplia ainda mais o número de templos no País.

Daniel Afonso da Silva – Foto: Arquivo Pessoal

Eram 100 templos em 1964, atualmente são 60 mil. Mesmo assim, o pesquisador da USP  não enxerga novidades nos números apresentados pelo IBGE: “Eles são importantes, são relevantes, mas não necessariamente apresentam novidades no autorreconhecimento protestante no Brasil”, avalia. 

O destaque fica para as mudanças de comportamento nos diversos segmentos evangélicos do País.  Com tantas mudanças nos últimos tempos, faz todo o sentido dizer que a religião influencia sobremaneira o dia a dia das pessoas. 

Peso da fé

A disputa entre católicos e evangélicos  existe há  mais de 500 anos, mas o que se nota é uma diferença imensa entre os números  e a  prática da fé. “Uma coisa é o número, outra coisa é o peso da fé. Os desafios de uma sociedade pós-cristã são que as pessoas praticam, mas não praticam tanto a sua fé, leem, mas não leem tanto o livro de todos, que é a Bíblia“, explica o  pesquisador. 

Mesmo tendo notado um declínio acentuado da população católica no Brasil,  ela ainda é maior e o quadro não deve mudar a médio prazo. Outra tendência é o aumento de políticos evangélicos, fato que vem ocorrendo desde 1990, a chamada “bancada Evangélica”, que se junta a outras como a da “Bala”, da “Bola”, da “Indústria e do Agro”, todas com interesses pontuais. Diferentemente do que se possa imaginar, nenhuma delas  exerce peso sobre o pensamento intelectual da democracia. O pesquisador vai além: “O ‘Olavo-bolsonarismo’ em nenhum momento exerceu um monopólio sobre o conjunto da pluralidade do pensamento dos católicos e dos evangélicos no País. Isso é um fato e precisa ser reconhecido”. 

As chamadas “pautas conservadoras”  não são exclusivas do Brasil, mas do mundo. Daniel Afonso entende que os debates sobre gênero, aborto, aquecimento global, liberação de armas  ocorrem em todos os países. “É muito relevante que se diga que  isso que se chama de ‘pautas conservadoras’ , no fundo, são debates da sociedade, muito complexos, que dividem conservadores e não conservadores, liberais e não liberais , católicos e protestantes no mundo inteiro e não apenas no Brasil”, conclui. 


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