Marília Fiorillo explora o uso equivocado do conceito de empatia

“Fala-se pelos cotovelos em empatia e, quanto mais se fala, menos se pratica”, afirma a colunista, apontando para o fato de que empatia não é tolerância ou piedade

 19/03/2021 - Publicado há 3 anos

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“Cada coisa, à medida que existe em si, esforça-se para perseverar em seu ser.” Este pensamento do filósofo Espinoza expressa o esforço aplicado pelas pessoas para continuar a existir, sendo que tal esforço ou força é chamada de conatus – que busca essencialmente escapar da dor. Na coluna Conflito e Diálogo desta semana, Marília Fiorillo traz à tona o conceito de conatus humano, que é “a linguagem não como falatório, mas como capacidade racional de reconhecer-se no outro como um igual, algo parecido com o conceito de empatia”.

Para a colunista, a palavra empatia vem sendo empregada de forma equivocada e exclusivista, uma vez que o conatus humano envolveria toda a tribo dos homens, não só os entes queridos. “É por isso que apelar ao bordão ‘só se sente a dor da covid quando alguém próximo morre’ é uma péssima pedagogia, pois significaria que alguns homens são entes mais humanos que outros”, afirma. Empatia, segundo Marília, não é tolerância, nem piedade condescendente, é a aptidão imaginativa de colocar-se na pele daqueles que não são pai, mãe ou filho e identificar-se com a dor ou alegria do desconhecido, do estranho, de todos os que estão fora da bolha que nos cerca. Distorções no conceito de empatia são exemplificadas: “‘Até sinto empatia pelo personagem parecido comigo’; não, é simpatia, justamente porque ele é parecido. E ainda: ‘Tenho muita empatia por mulheres que sofrem o que eu sofri’, não, eu tenho solidariedade”.

A professora se questiona se, com a chegada da Semana Santa, as pessoas vão desistir de suas casas de praia ou dos resorts, se vão abdicar de almoços em família pelo isolamento domiciliar. Fala ainda sobre o equívoco da palavra tragédia para falar da pandemia do coronavírus, já que há meses médicos que “merecem CRM” alertam para a ausência de isolamento. “Ninguém deu bola, e o colapso se instalou. É errado falar em tragédia,  pois tragédia é algo inescapável”, finaliza.


Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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