“Mais uma vez vivemos em distopia”

Martin Grossmann, a partir de uma charge publicada no jornal “Folha de S.Paulo”, comenta alguns aspectos ligados à eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA

 Publicado: 12/11/2024 às 7:59

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Martin Grossmann dá início à sua coluna de hoje (12) comentando uma charge da cartunista Laerte, publicada na Folha de S.Paulo, no dia 7 de novembro de 2024, após a derrota do Partido Democrata nas eleições presidenciais norte-americanas: “À direita do campo visual, um militante democrata, furioso e frustrado esbraveja ‘Viu o que vocês fizeram?!’ contra um grupo heterogêneo de ativistas — em contraponto — que, pelas placas de manifestação, representam diferentes causas relacionadas aos direitos humanos”. Segundo o colunista, as contestações de valores culturais, promovidas e nutridas por progressistas e liberais, representados em grande parte pelo Partido Democrata, foram fundamentais para estabelecer afinidades de significativa parcela da população com Trump, não só nesta última eleição como na de 2016. Para Grossmann, está mais do que claro que parcela significativa da população norte-americana apoia uma visão de mundo que defende valores culturais e identitários conservadores, ou, até mesmo, pré-modernos.

Para engrossar seu ponto de vista, ele recorre ainda a um artigo publicado em 13 de fevereiro de 2023, na New Political Science Journal, um canal oficial da CCPS que é uma associação norte-americana de acadêmicos críticos comprometidos em tornar o estudo da ciência política relevante para a construção de uma ordem econômica, social e política mais democrática e igualitária. “O texto chama a atenção ao aspecto surpreendente da ascensão de Trump como candidato presidencial e da lealdade particularmente apaixonada de seus seguidores, que são atraídos por esse histórico não convencional, ousado, pelo comportamento vulgar e até imoral, que não inspira credibilidade. Anteriormente a 2016, Trump nunca havia concorrido a nenhum cargo eletivo, mas era conhecido por ser um magnata do setor imobiliário, uma celebridade de reality shows e figura pública popular. Seu comportamento incomum, chocante e controverso incluía desde questionamentos a autoridades públicas até a usar apelidos pejorativos e acusações infundadas ao criticar rivais políticos. Trump recorrente e explicitamente insulta mulheres, pessoas negras, imigrantes e até pessoas com deficiência. Há também denúncias de assédio e abuso sexual, falta de fidelidade conjugal, emprego de práticas comerciais antiéticas, entre tantos outros comportamentos muito questionáveis.”

Grossmann conclui: “O artigo identifica não só o perfil dos eleitores: homens, brancos, adultos sem formação universitária, mais velhos e de zona rural, como também as atitudes subjetivas sobre valores culturais e políticas sociais que estão mais alinhadas com valores hegemonicamente masculinos, que refletem preconceito racial/étnico, resistência a esforços antirracistas e expressões de nativismo e xenofobia. As atitudes subjetivas também refletem desconfiança ou ressentimento em relação às elites modernas. Ou seja, mais uma vez vivemos em distopia”.


Na Cultura, o Centro está em Toda Parte
A coluna Na Cultura o Centro está em Toda Parte, com o professor Martin Grossmann, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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