“Hotspots” são um alerta para a degradação ambiental

Impacto pode ser sentido no cotidiano de alguns locais e o futuro dessas regiões depende do reconhecimento da importância do meio ambiente

 07/12/2022 - Publicado há 1 ano
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O número de hotspots não é fixo e pode aumentar com a falta de cuidado ambiental – Foto: Reprodução ESPM

 

Os hotspots são locais do planeta com uma grande biodiversidade, mas que foram devastados pela ação antrópica. Hotspot é um conceito criado por um ecólogo do Reino Unido em 1988. Ele procurou, com essa ideia, articular duas questões fundamentais: reconhecer áreas que têm enorme potencial de biodiversidade para o planeta e associar a essas áreas aquelas que estão com enorme risco de devastação”, explica o professor Wagner Costa Ribeiro, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Do ponto de vista teórico, os hotspots precisam ter cerca de 1.500 espécies endêmicas, ou seja, plantas e animais que só existem naqueles locais, além de terem 75% das suas áreas devastadas.

Mundo

Wagner Costa Ribeiro – Foto: IEA-USP

No mundo existem 35 hotspots. Esse número é alto e mostra que é preciso tomar uma atitude quanto à devastação ambiental: “Esse processo, infelizmente, não se encerrou, ao contrário, em algumas situações, nós estamos vendo, inclusive, o agravamento”, pontua Ribeiro.

A reversão dos hotspots é possível, mas demanda muito esforço da sociedade em reconhecer a importância desses locais. O professor analisa a relevância e a necessidade de revertê-los: “Para reverter esse quadro seria necessário, de fato, reconhecer a importância do serviço dos ecossistemas ambientais. Eles oferecem, por exemplo, a capacidade de salvaguardar a diversidade de espécies do planeta. Em algumas situações, estão associados também a ciclos de manutenção de oferta de água e também à manutenção de carbono. Esse conjunto de fatores tem que ser considerado para que você tenha ações que evitem a ameaça dessas áreas”.

Impactos

O Brasil abriga dois hotspots: a Mata Atlântica e o Cerrado. Ribeiro explica que a Mata Atlântica se espalha pela costa brasileira e, por meio dela, adentra no continente. Desde a chegada dos europeus, ela sofre uma intensa devastação e, com a urbanização, isso só se agravou. “Hoje os estudos indicam que, de toda a cobertura original, nós temos em torno de 7%, algumas estatísticas dizem 11%. De qualquer modo, é muito pouco perto do que havia no passado”, acrescenta o professor. 

Dentre as consequências para quem vive junto à Mata Atlântica está a dificuldade de acesso à água. A população do entorno, por exemplo, da região de Campinas, São Paulo, enfrenta dificuldades estruturais de oferta da água porque, além de outras razões, também houve um enorme desmatamento das nascentes dos rios que ficam na área da Mata Atlântica. “Já o Cerrado, nos últimos tempos, tem sido o grande foco de preocupação nacional e internacional. Ele é a grande área de expansão agrícola do País e isso tem ocorrido sem muitos critérios técnicos com o cultivo de soja e com o gado”, comenta Ribeiro.

O Cerrado sofre com a devastação ambiental e as consequências são preocupantes para a população brasileira, já que as principais bacias hidrográficas do País têm origem nas áreas do Cerrado como a do São Francisco, a do Prata e a Amazônica. A diminuição da cobertura original diminui também a oferta de chuva e faz com que se tenha seca além de onde ela tradicionalmente ocorria. 

Futuro

O número de hotspots não é fixo e pode aumentar com a falta de cuidado ambiental. No Brasil, o futuro é incerto quando falamos da possibilidade de novos hotspots surgirem no território nacional, mas o professor aponta quais podem ser os afetados: o Pantanal e a Amazônia.

“Eu diria que, se nós fossemos fazer uma análise de atualização da ideia de hotspot, certamente o Pantanal teria os atributos, infelizmente, para ser elencado. Nós estamos assistindo à alteração de ciclos importantíssimos, em especial o regime de cheia dos rios. O volume não está alcançando mais as cotas e, assim, você tem toda a dinâmica do Pantanal afetada. A Amazônia, se nós não tomarmos cuidado, mantendo esse ritmo de devastação como o dos últimos quatro anos, pode vir a se tornar um hotspot, infelizmente”, analisa Ribeiro.


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