Educação financeira deveria ser incorporada nas escolas do ensino básico

Naércio Aquino Menezes Filho considera que a ausência de conhecimento sobre questões financeiras é um dos pontos de destaque a fazer com que uma grande parcela dos brasileiros se endivide de forma rápida

 02/06/2023 - Publicado há 1 ano
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Fornecer o estudo de educação financeira nas escolas básicas pode ser um bom caminho para a redução do atual cenário – Foto: Flickr
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Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), cerca de 77,9% dos brasileiros entraram endividados em 2023. O grupo de pessoas que compõem esses sujeitos é formado, na maioria dos casos, por indivíduos entre 26 e 40 anos. O valor médio das dívidas é de cerca de R$ 4.493,90 e, na maior parte das vezes, está associado à inflação e aos altos juros. 

A ausência de conhecimento sobre questões financeiras é um dos pontos de destaque que costuma fazer com que uma grande parcela dos brasileiros se endivide mais rápido. Assim, fornecer o estudo de educação financeira nas escolas básicas pode ser um bom caminho para a redução do atual cenário. O professor Naércio Aquino Menezes-Filho, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da Universidade de São Paulo, explica que, apesar de não ser o principal motivo para os endividamentos, a falta de ensino básico sobre o assunto pode ser prejudicial para as pessoas mais vulneráveis. 

Cenário brasileiro 

Atualmente, os estudos financeiros não são aplicados como disciplina obrigatória nas escolas nacionais. “Ela entra como uma disciplina especial em algumas escolas, então eu acho que os alunos acabam tendo muita dificuldade quando concluem o ensino médio para entender e aplicar os conceitos de educação financeira no seu dia a dia”, explica o professor. 

Naércio Aquino Menezes Filho – Foto: Researchgate

Apesar da ausência de ensino, os conceitos econômicos são utilizados constantemente no cotidiano das pessoas, e esse fator, segundo Menezes-Filho, revela a importância da temática. Ele também adiciona que o brasileiro apresenta dificuldade em pagar contas, calcular juros embutidos em transações e realizar aplicações financeiras que apresentam retorno prático. Assim, seria interessante adicionar, dentro das disciplinas existentes, como matemática e geografia econômica, os conceitos financeiros básicos.

Além disso, nota-se que a disciplina poderia auxiliar na redução da desigualdade nacional — que sempre foi latente e apresentou expressivo crescimento após a pandemia de covid-19. “Existem fatores mais importantes para explicar a desigualdade, como a falta de acesso ao ensino superior, questões de raça e gênero e outros, mas a educação financeira apresenta impacto, sim. Às vezes, as pessoas mais vulneráveis pagam juros muito mais altos que indivíduos com mais conhecimento”, adiciona o especialista.

Existem alguns assuntos que seriam mais relevantes para a população comum, assim, deveriam ser priorizados dentro das escolas nacionais, como o cálculo de juros simples e compostos e a exemplificação de aplicações financeiras. É também importante considerar que apenas incluir esses estudos no currículo base não garante que esses conhecimentos sejam levados aos alunos, já que a ausência de gestão pública, professores e desinteresse dos alunos fazem parte do cotidiano dos sistemas públicos de educação. 

Soluções

O professor comenta que uma reforma de gestão no sistema de educação brasileiro para melhorar o aprendizado no País é necessária. Além disso, outras políticas públicas podem ser utilizadas na busca por uma solução para a temática, como cursos já existentes no mercado oferecidos por entidades como o Sebrae, ONGs e pelo terceiro setor. “Seria importante ter uma proliferação desses cursos voltados para as questões do dia a dia, principalmente para as famílias mais carentes que, muitas vezes, nem completaram a educação básica, mas que se beneficiariam desses estudos”, finaliza Menezes Filho.


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