A categoria de livros Científicos, Técnicos e Profissionais (CTP) teve queda de 41% nas vendas entre os anos de 2006 e 2019 em todo o País, segundo dados da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Foi a categoria de livros que apresentou a maior retração. No geral, a queda no faturamento pelas vendas de livro no período foi de 20%.
Para enfrentar esse cenário, as editoras universitárias seguem publicando livros acadêmicos e buscam ampliar o leque de títulos oferecidos, abrindo as portas para autores de fora de suas respectivas unidades. O Brasil tem mais de uma centena de editoras universitárias, entre elas as vinculadas às três universidades públicas paulistas, USP, Unesp e Unicamp.
A Editora da Universidade de São Paulo (Edusp) foi fundada em 1962 e, depois de atuar como coeditora por quase 30 anos, ganhou seu departamento editorial em 1988. Desde sua criação até o momento, possui cerca de 1,8 mil títulos publicados. Carlos Roberto Ferreira Brandão, diretor-presidente da Edusp, informa que publicar a produção da Universidade é o alvo da editora, mas que isso não é limitado a professores da USP, pois “a Edusp recebe propostas de qualquer interessado em publicar um livro de cunho universitário acadêmico”. Assim, os interessados devem consultar o site da editora, onde consta o passo a passo para publicação, aconselha Brandão.
Para Luiz Silveira Menna Barreto, professor aposentado na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, que publicou pela Edusp três edições do livro Cronobiologia: Princípios e Aplicações, junto com Nelson Marques, professor aposentado do Departamento de Clínica Médica da USP em São Paulo, a boa experiência com a editora fez com que os professores planejassem publicar mais obras pela Edusp: “Estamos escrevendo um livro sobre história e perspectivas da nossa área de pesquisa, a cronobiologia”, conta Barreto. Além disso, publicar a “tradução de uma coletânea de obras do biólogo evolucionista Richard Lewontin” também faz parte dos planos dos professores.
Quem também contribui com a difusão de conhecimento é a Fundação Editora da Unesp (FEU), que nasceu em 1987 apenas como Editora Unesp e foi reformulada em 1996. Com uma média de 200 títulos publicados ao ano, a fundação tem como propósito publicar livros nacionais e estrangeiros de dentro e fora da Unesp, como também ser um veiculador de literatura científica do Brasil e de outros países, explica seu diretor-presidente, Jézio Hernani Bomfim Gutierre, que também conta da atuação conjunta com a Universidade do Livro (Unil) para a criação de cursos voltados ao mercado editorial e livreiro.
E publicar títulos interessantes, que não se limitem apenas ao público acadêmico, é também a aposta da fundação, segundo Gutierre, para que assim, “o prazer da leitura não se perca, mesmo naqueles títulos que são publicados por uma editora acadêmica”.
Quem se interessar em publicar pela fundação e não faz parte da instituição Unesp precisa submeter a proposta ao processo de análise da obra através das etapas: reunião editorial, parecerista e conselho editorial. “Nós não temos qualquer tipo de barreira institucional para absorver autores e textos das diferentes universidades brasileiras, independentemente de seu Estado, independentemente de sua instituição”, garante Gutierre.
A Editora da Unicamp foi fundada em 1982 e publica, em média, 30 novos títulos ao ano, além de lançar cerca de 60 obras já esgotadas. A produção de livros acadêmicos e de interesse do público universitário e escolar, de todas as áreas do conhecimento, é o objetivo da editora, segundo sua diretora-presidente, Márcia Abreu. As obras podem surgir a partir de pesquisas de docentes ou de experiências de autores que atuam como docentes universitários, além das obras exigidas pelo vestibular da Unicamp.
Na visão de Márcia, o catálogo da editora, fortemente concentrado na área de ciências humanas, embora tenha publicações de diversas áreas, “tem papel importante para um mundo mais crítico, devido à pluralidade de opiniões” que ele apresenta. Assim como as outras editoras, a da Unicamp também tem suas portas abertas. O interessado precisa enviar sua proposta de livro para exame do conselho editorial. Segundo Márcia, as instruções estão no site da editora, que também lança edital de publicação, especificando interesse em determinado tipo de obra.
Assim, em meio a cenários adversos, as editoras universitárias seguem em seus propósitos: levar o conhecimento e construir um futuro inspirado no que disse o escritor Monteiro Lobato (1882-1948): “Um país se faz com homens e livros”.