Um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 44 países europeus e asiáticos indicou que o número de casos de cyberbullying entre os jovens vem aumentando consideravelmente, ao passo em que o bullying se mantém estagnado. A pesquisa mostrou que cerca de um quinto dos jovens entrevistados afirmou ter sofrido com agressões virtuais nos dois meses anteriores à pesquisa. Maria Isabel Leme, professora do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo, analisa quais são os fatores que contribuem para esse aumento na incidência dessa prática, como ela pode afetar o cotidiano dos jovens e quais são as medidas que devem ser adotadas para combater a prática.
Para a docente, um dos motivos que provocam esse aumento nas agressões virtuais é a maior familiaridade de crianças e adolescentes com os meios digitais, uma vez que estão ambientados com a tecnologia desde os primeiros anos de vida. Outro fator destacado por ela é a grande quantidade de vítimas que uma pessoa pode atingir de uma só vez através da internet, que é muito superior ao que conseguiria no ambiente presencial.
Além disso, ela explica que os agressores sentem-se mais seguros em praticar os abusos remotamente porque acreditam que dificilmente serão identificados e punidos pelos atos. “Tem a ver com o conhecimento das crianças com as novas tecnologias, mas também com a facilidade de acesso que o ambiente virtual favorece, é um ambiente mais protegido. Praticar o bullying presencialmente expõe mais o agressor a punições e, no ambiente virtual, acredito que seja mais protegido e que ele se sinta mais seguro”, informa.
Danos psicológicos
A especialista explica que os danos psicológicos causados pelo cyberbullying são mais propensos a atingir jovens que não possuem uma rede de apoio, por isso é importante a vítima compartilhar sua situação com pessoas próximas. Ela reforça que, se a violência virtual acontecer frequentemente e vinda de várias pessoas, pode ocasionar prejuízos consideráveis na autoestima e nas relações interpessoais do jovem, bem como um maior prejuízo no desempenho escolar.
Conforme Maria Isabel, os reflexos do cyberbullying variam entre cada vítima, pois cada indivíduo possui uma personalidade diferente e variados recursos para lidar com essa violência. “Depende muito de cada pessoa e dos recursos que ela tem para apoio, como, por exemplo, amigos com quem possa conversar. Se for uma pessoa mais segura de si e que disponha de relações saudáveis para poder desabafar, eu acredito que consiga superar mais fácil do que aquela pessoa que é mais sozinha”, analisa.
De acordo com a docente, os agressores buscam as vítimas que se sentem mais afetadas pela agressão, por não terem recursos para se defender e se deixarem atingir pelos insultos. No entanto, ela acredita que, com o passar dos anos, a maturidade auxilia os jovens a superar os traumas vivenciados.
Combate à prática
A professora reforça que é importante um monitoramento escolar e parental sobre os jovens, já que muitas vezes eles levam o cyberbullying como brincadeira e diversão, sem perceberem os danos que podem causar a outros indivíduos. Para ela, a escola precisa estabelecer regras concretas e punições adequadas quando conseguirem identificar um agressor. Além disso, a professora conta que os pais precisam orientar no ambiente familiar acerca dos efeitos negativos que essa prática pode causar.
“Muitas vezes, esse adolescente que pratica o cyberbullying não está consciente do que está fazendo e do sofrimento que está causando, ele age inconsequentemente. Eu observava nas salas de aula que têm alguns alunos que gostam de sobressair, eles praticam esses abusos justamente para se destacar entre os outros, para serem engraçados, para serem vistos e aplaudidos”, afirma.
*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira
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