Como democratizar o acesso aos carros elétricos no Brasil? Os incentivos deveriam se concentrar no transporte público em detrimento do automóvel de uso pessoal? E qual a contribuição do Mobilab (Laboratório de Estratégias Integradas da Indústria da Mobilidade) da USP nessa discussão? Para a mobilidade individual, o investimento ainda é elevado para a maioria da população, mas, em termos de política de transportes, pode ser interessante. O Mobilab comparou o nível total de emissões entre um carro elétrico, um movido a motor convencional a gasolina e outro a etanol. A professora Adriana Marotti de Melo, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, coordenadora do Mobilab, elucida o assunto.
O processo de substituição dos carros movidos a combustão para os elétricos tem acontecido de forma heterogênea entre os países. O andamento da pauta está intimamente ligado com o nível de dependência do país de cadeias produtivas relacionadas ao petróleo e à agenda nacional de redução da emissão de CO2. “Estamos vendo países que apostaram fortemente na substituição dos veículos de combustão para os elétricos puros, é o que acontece na China e em uma parte da Europa. Também vemos países que estão em modelos mais híbridos, em uma transição mais lenta. Os Estados Unidos são um exemplo disso. Aqui no Brasil a gente tem, desde os anos 70, uma alternativa de combustível renovável, que é o etanol à base de cana-de-açúcar. Então, por isso que no Brasil nós não temos uma necessidade urgente de reduzir a emissão de CO2 através da substituição do petróleo. Isso é o que gera uma certa falta de ação do governo federal e mesmo de governos estaduais e municipais nesse sentido de buscar uma transição para veículos elétricos “, comenta.
Políticas públicas
Em questão de políticas públicas envolvendo a nova tecnologia, a professora aponta que a transição dos transportes públicos para motores elétricos pode ajudar inclusive na área da saúde pública. “Hoje, no Brasil, o transporte público é feito majoritariamente por ônibus, tanto nas grandes cidades quanto em cidades médias. Eles se movem utilizando motores a diesel, que é um combustível mais poluente até do que a gasolina. Além disso, ele emite material particulado de outros gases que são tóxicos. Então, em termos de saúde pública, pela melhoria da qualidade do ar, era aí que deveriam se concentrar os investimentos.”
A professora explica que há estudos indicando que, para veículos individuais, o Brasil conta com alternativas de redução de CO2 para além dos carros elétricos. “Usando a metodologia de avaliação do ciclo de vida do produto desde a fase da produção das baterias até o descarte do veículo, quando você usa um veículo à combustão interna etanol, o ganho em termos de emissão de CO2 é similar ao de um veículo elétrico. Então, em termos de emissões de poluentes para automóveis particulares, concluímos que não há um ganho significativo na redução de CO2 investindo em veículos elétricos”, afirma.
Segundo ela, a utilização de biocombustíveis é mais eficiente nesse sentido. “O Brasil já tem uma alternativa, que é o etanol que já usamos a tecnologia há muitos anos e que pode ser aperfeiçoada. A gente já tem toda a logística de produção e distribuição desse combustível, então em termos de política pública seria mais interessante”, finaliza.
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