Atenção no desenvolvimento de crianças com autismo pode diminuir prejuízos na comunicação

Segundo Erikson Felipe Furtado, o processo de aprendizagem varia de criança para criança, mas, apesar das dificuldades, a abordagem individualizada pode levar a resultados positivos na aquisição de conhecimento

 Publicado: 02/04/2024
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Crianças com autismo podem ter dificuldades no desenvolvimento intelectual – Foto: Freepik
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O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição de desenvolvimento neurológico que afeta a comunicação, o comportamento e a interação social e atinge uma criança em cada 36, de acordo com estimativa do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos. Enquanto isso, os dados sobre o transtorno no Brasil são escassos – situação que o País tenta corrigir com o Censo Demográfico de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que pela primeira vez inclui perguntas sobre o assunto e que deve revelar o resultado ainda neste ano. Independentemente disso, o reconhecimento precoce da condição durante a infância pode facilitar o desenvolvimento intelectual e motor da pessoa com deficiência durante o crescimento. 

Erikson Felipe Furtado – Foto: IEA USP

Segundo o neurocientista Erikson Furtado, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, ainda que os sintomas de TEA sejam variáveis, a dificuldade de aprendizagem é comum e, ainda que a deficiência intelectual não seja obrigatoriamente uma certeza de diagnóstico de autismo, as dificuldades de aprendizagem são levadas em consideração.

Assim, nos casos em que ela está presente, o desenvolvimento das habilidades escolares pode ser desafiador para algumas crianças, passando pela educação básica. Enquanto indivíduos neurotípicos já participam de atividades preparatórias de alfabetização e de controle motor, em crianças com autismo “o envolvimento nessas atividades pode ser atrasado, pode demorar a acontecer e acaba impactando também as outras aquisições posteriores, como a escrita e a leitura”, explica o professor.

Dessa forma, a observação de como anda o desenvolvimento das condições intelectuais e motoras da criança, por parte de cuidadores e educadores, é importante para que essas habilidades sejam tratadas da melhor forma possível. 

O médico explica que o processo de aprendizagem varia de criança para criança e que, apesar das dificuldades, a abordagem individualizada pode levar a resultados positivos na aquisição de conhecimento. “Os professores têm que reconhecer que isso é uma característica dessas crianças, mas que não significa necessariamente incapacidade de aquisição”, indica. 

Diagnóstico precoce

Para que intervenções bem sucedidas sejam efetuadas, Furtado ressalta a importância do diagnóstico precoce e que existam melhores possibilidades de uma resposta positiva “às intervenções, especialmente quando a gente pensa nas crianças mais jovens”, pois “há uma certa tendência de piora com o avanço da idade” em certos aspectos do desenvolvimento. 

Alguns sinais que podem ser observados precocemente incluem a dificuldade no contato visual e comportamento distante ou pouco responsivo. Além disso, pode haver problemas alimentares e atraso na linguagem, como demora em falar ou dificuldade em se comunicar verbalmente. Furtado explica que, se a criança tem menos de três ou quatro anos de idade e apresenta essas características, o mais importante é levantar a suspeita e acompanhar o desenvolvimento de perto. 

Ainda assim, o médico alerta que outros problemas, como déficit intelectual, condições emocionais atípicas ou problemas sensoriais podem se confundir com o TEA, sendo necessária a avaliação de especialistas na área para evitar diagnósticos precipitados. Porém, ele reforça que é importante considerar, também, o contexto em que a criança vive, incluindo sua família e recursos disponíveis. 

Com isso, intervenções precoces focadas na comunicação social podem ajudar a promover habilidades sociais e de comunicação desde cedo. Para o especialista, isso é crucial para o desenvolvimento saudável da capacidade de interagir e se comunicar que, segundo ele, são alguns dos maiores desafios para a pessoa autista. “Aquele paciente que, por várias razões, por limitações de acesso ou falta de diagnóstico, permaneceu todas essas fases da vida longe de uma intervenção adequada, vai estar um pouco mais prejudicado ao iniciar essas intervenções mais tardiamente”, complementa. 

*Estagiário sob supervisão de Ferraz Júnior 


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