Pesquisadores encontram potenciais biomarcadores para diagnóstico da hanseníase

Estudo contou com 82 voluntários e avaliou anticorpos para uma proteína da bactéria causadora da hanseníase; a doença infectocontagiosa é endêmica e o tratamento é realizado com medicamentos disponíveis no SUS

 14/09/2022 - Publicado há 2 anos
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Pesquisa da USP aponta também a importância do diagnóstico precoce da doença para o controle da transmissão – Foto: Gustavo Fring/Pexels

 

Apesar da hanseníase ser uma doença antiga, ainda não existem exames laboratoriais com alto desempenho e baixo custo para o diagnóstico de todos os infectados que ainda não apresentam sintomas, como manchas na pele ou perda de sensibilidade ou da força muscular. Mas um estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, publicado na Frontiers in Medicine, identificou potenciais biomarcadores para a rastreio, diagnóstico e monitoramento da hanseníase.

“Nosso objetivo foi a busca por novas moléculas de maior eficácia para o diagnóstico da hanseníase. Nós avaliamos o potencial de anticorpos contra uma proteína da bactéria Mycobacterium leprae que induz a invasão e a sobrevivência nas células do infectado”, explica o biomédico Filipe Rocha Lima, primeiro autor do estudo e doutorando da FMRP.

Os pesquisadores coletaram sangue de 82 voluntários para investigar os anticorpos contra a proteína Mce1A da bactéria causadora da hanseníase. Eles foram divididos em quatro grupos: novos casos de hanseníase em Parnaíba, no Piauí; pacientes tratados na ex-colônia do Carpina, no Piauí; pessoas que moraram com uma pessoa com a doença por pelo menos seis meses antes do diagnóstico; e outro formado por pessoas saudáveis, sem diagnóstico ou contato com hanseníase e que residem na região endêmica de Parnaíba.

Filipe Rocha Lima – Foto: Reprodução/Loop

“A gente observou que o anticorpo IgA é uma molécula para identificação de contato com o bacilo da hanseníase, sendo presente em todos os grupos avaliados no estudo. O anticorpo IgM foi um importante marcador para a doença ativa, pois tivemos ausência de resultados positivos nos casos tratados. Já em relação ao anticorpo IgG, tivemos o maior número de exames positivos nos pacientes que receberam a polioquimioterapia, que cura a hanseníase, ou seja, interrompe a transmissão e a evolução da doença”, conta.

Após a conclusão do trabalho, os cientistas continuam testando os ensaios com amostras de diferentes regiões do Brasil para comparar com dados clínicos, laboratoriais e de outras técnicas existentes para o diagnóstico da doença. “Os próximos passos envolvem a validação dessas moléculas de anticorpos contra a proteína Mce1A, que são de baixo custo e fácil execução, para prospecção de novos ensaios comerciais para serem utilizados nas unidades de saúde propostas pelo Sistema Único de Saúde [SUS]”, revela.

O estudo foi orientado pelo professor Marco Andrey Cipriani Frade, da FMRP, e contou com pesquisadores do Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária com Ênfase em Hanseníase (CRNDSHansen) do Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP), Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, Secretaria Estadual de Saúde do Piauí, Universidade Federal do Piauí, Universidade da Califórnia dos Estados Unidos e do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia).

Importância e desafios do diagnóstico precoce

A estratégia de diagnóstico e tratamento precoce é fundamental para a cura de pacientes com hanseníase, diminuindo a chance de sequelas.

“As atuais limitações dos testes diagnósticos, incluindo a acurácia dos testes, e a falta de disponibilidade de kits comerciais de baixo custo e fácil implementação em unidades de saúde indicam a necessidade de testes mais eficazes para o diagnóstico, acompanhamento do tratamento e avaliação da transmissão domiciliar”, explica Filipe.

Além disso, há o desafio de não ter um método de diagnóstico para todas as formas clínicas da doença. “O conhecimento e as habilidades necessárias para o diagnóstico, tratamento e manejo da hanseníase pelos profissionais de saúde geral são insatisfatórios, levando ao diagnóstico tardio, incapacidades físicas, prejuízo socioeconômico e transmissão contínua da bactéria Mycobacterium leprae”, conta.

Entenda o que é hanseníase

Causada pela bactéria Mycobacterium leprae, a hanseníase pode causar perda das funções sensitivas e motoras e lesão na pele e nos nervos. A transmissão da doença é através de gotículas da via aérea eliminadas na hora de falar, tossir, espirrar ou secreções nasais. Os sintomas envolvem perda da sensibilidade para o calor, frio e dor; da força muscular e da visão, além de manchas e áreas adormecidas na pele.

”A hanseníase é um importante problema de saúde pública, principalmente no Brasil que é endêmico e o segundo no mundo em números de casos novos. É a principal causa de neuropatia periférica, que pode evoluir para incapacidade física e deformidades quando não há o diagnóstico precoce e o tratamento efetivo para a doença”, explica Filipe.

Ao ser diagnosticado, o paciente que inicia o tratamento com medicamentos fornecidos gratuitamente nas unidades de saúde tem cura da doença. Ou seja, deixa de transmitir e interrompe o agravamento do seu quadro de saúde.

Mais informações: filipelima@usp.br, com o biomédico Filipe Rocha Lima


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