A coluna de Martin Grossmann dá prosseguimento à sua cobertura crítica da 60ª Bienal de Veneza, considerada popularmente como a Olimpíada do Mundo das Artes. Ele lembra a contribuição da Austrália, agraciada com o Prêmio Leão de Ouro de Melhor Participação Nacional. “A proposta do artista de origem nativa Archie Moore nos induz a refletir sobre o pavilhão como metáfora do próprio país, um país experienciado, revelado em suas entranhas, nesta sua caixa preta, nos registros ocultos que conformam uma espécie de arquivo genealógico de um país chamado Austrália.” Grossmann também chama a atenção para o pavilhão norte-americano, que traz obras do artista Jeffrey Gibson, de 52 anos, o primeiro artista nativo a ter uma exposição individual nesse pavilhão. “Se o artista australiano Archie Moore investe na interioridade da nação australiana, Gibson promove uma ocupação estonteante pelo emprego de cores vibrantes, que se espalham por todas as superfícies da volumetria do pavilhão norte-americano, externa e internamente. Uma reocupação territorial pelo pictórico, por um colorismo gritante.”
O Brasil também está representado na Bienal de Veneza, ocupando um pavilhão no Giardini e contando pela primeira vez com uma participação exclusiva de artistas e curadores de origem nativa. “São eles: Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana, como curadores, e a artista Glicéria Tupinambá, que, por sua vez, convidou outros dois artistas: Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó. Conceitualmente, a proposta encanta e desperta grandes expectativas […] mas o que sobressai, infelizmente, nessa representação em primeiro plano, é a precariedade do pavilhão modernista, pela falta de cuidados daqueles que zelam por esse patrimônio nacional em terras estrangeiras. Projetado pelos arquitetos Henrique E. Mindlin e Giancarlo Palanti, em 1959, esse pavilhão ocupa lugar de destaque no Giardini. O pavilhão visivelmente precisa de atenção, de manutenção externa e interna. Esse descaso impede o desenvolvimento de propostas mais arrojadas e certamente inibiu um gesto mais audacioso desse coletivo indígena. A proposta tem eloquência, mas faltou unicidade na execução”, avalia o colunista.
Na Cultura, o Centro está em Toda Parte
A coluna Na Cultura o Centro está em Toda Parte, com o professor Martin Grossmann, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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