A saúde renal começa já na gestação

Nos adultos, é importante estar atento aos fatores de risco de doenças renais como diabete, hipertensão e hiperglicemia, diz Andreia Watanabe

 09/03/2023 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 10/03/2023 às 16:36
Os rins são os órgãos responsáveis pela filtragem do sangue – Arte sobre foto/123RF

 

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Dia 9 de março é considerado o Dia Mundial do Rim e o Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas promove uma campanha na Estação Clínicas do Metrô de São Paulo. “Temos cartazes explicativos, informações mais detalhadas a respeito de medicações, a respeito também de nutrição. Inclusive, com receitas para a gente poder consumir no nosso dia a dia. Estaremos lá para explicar a importância da nutrição e também mostrar o quanto de sal e de açúcar existe em alguns itens que a gente consome no nosso dia a dia. É um trabalho de conscientização, de tirar dúvidas e de explicar a importância”, explica Andreia Watanabe, coordenadora médica do Serviço de Nefrologia Infantil do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

A saúde renal começa na infância, na verdade. Andreia coloca que ela começa desde a gestação, na formação do feto: “Isso traz um impacto para a vida inteira da pessoa, por exemplo, uma criança que nasce prematura ou com baixo peso, ela vai ter o menor número de néfrons, ou seja, o rim dela já vai ter uma alteração que, ao longo da vida, pode ser que essa perda de função seja maior. É muito importante os cuidados, principalmente nutricionais, da gestante para prevenir a progressão da piora da condição renal”. Ela ainda ressalta: “O objetivo é que nossos rins durem até a gente ficar bem velhinho”. Mudanças na saúde da mãe, além das diretamente nutricionais, como pressão alta, podem afetar a gestação e, consequentemente, a formação dos rins.

Rins

Os rins são os órgãos responsáveis pela filtragem do sangue, são compostos de milhares de néfrons, que são as unidades filtradoras e responsáveis pela “limpeza” de cerca de cem litros de sangue por dia. Esses componentes do organismo são fundamentais para a vida e, em 2030, uma em cada dez pessoas no mundo deverá apresentar doenças renais crônicas.

Andreia Watanabe – Foto: Arquivo pessoal

Esse dado preocupante pode estar relacionado com diversos fatores que ocasionam a aceleração da perda renal, como coloca a especialista: “Todas as alterações relacionadas, tanto a hiperglicemia, diabete e também o aumento de pressão, vão acelerar esse processo de crescimento de fibrose nas unidades que funcionam nos rins”.

Para cuidar dos rins, é necessário alguns cuidados na hora da hidratação, da nutrição e também no estilo de vida. “Quando a gente bebe pouca água, o rim precisa gastar uma energia maior para conseguir reter o líquido no nosso corpo e manter a gente hidratado”, explica a médica. Estar hidratado também facilita a excreção de substâncias tóxicas para o corpo. Porém, Andreia destaca a importância de beber água e não qualquer líquido: “O problema do suco, do refrigerante é a carga de açúcar. Mesmo que você falar ‘eu tomo refrigerante diet’, existem várias outras toxinas e conservantes presentes nessas bebidas”.

O impacto disso nas crianças é visto, principalmente, no aumento da obesidade infantil que, ao longo da vida, leva a uma perda renal considerável. O excesso de sal também entra na conta, agindo diretamente no aumento da pressão arterial. “Se não cuidarmos desde a infância, já chega na idade adulta com prejuízo”, coloca a coordenadora.

A ingestão de medicamentos por conta própria e também em excesso, como o consumo de anti-inflamatórios, impacta a saúde dos rins, como explica Andreia: “A gente percebe que existe um uso indiscriminado de anti-inflamatórios não hormonais. Existem evidências de que isso leva a uma alteração da função renal, porque altera a hemodinâmica do rim. Acelera o processo de perda, a gente tem pessoas que perdem o rim só por conta do abuso de anti-inflamatórios”.

Tratamento

Cartaz de divulgação da campanha organizada pelo HC – Imagem: Facebook/Instituto da Criança do Hospital das Clínicas

Ao falar da perda do rim, a especialista se refere à necessidade de realizar a diálise, que é a filtração do sangue realizada artificialmente com a ajuda de máquinas, ou até um transplante: “São condições bastante complicadas”, diz a médica.

No caso das crianças, Andreia analisa que é muito raro uma criança precisar de transplante de rim, a não ser que ela tenha alguma condição de insuficiência renal. “Um em cada dez adultos tem doença renal crônica e 12% deles vão atingir a necessidade de diálise ou de transplante durante a vida, então é uma quantidade bastante grande”, acrescenta.

Para saber como está a situação renal, a avaliação da creatinina no sangue é o exame necessário. “O rim não manifesta sintomas, então a gente não sente nada até estar muito ruim. Se a gente identifica que existe uma pequena perda de função renal logo, a gente consegue ter uma medida para mitigar, para evitar que ela se perca muito rápido”, pontua a especialista. “Tomar água, ter uma alimentação saudável influencia em não ter hipertensão, diabete. Também evitar o uso de anti-inflamatórios não hormonais e o tabagismo”, resume Andreia.


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