A importância do monitoramento genético de vírus e bactérias para a prevenção de catástrofes sanitárias

Ester Sabino comenta a iniciativa da Organização Mundial da Saúde de conceder um fundo de financiamento de US$4 milhões para a Rede Internacional de Monitoramento de Patógenos, algo que deve beneficiar sobretudo os países subdesenvolvidos

 Publicado: 05/04/2024
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No caso de bactérias, o monitoramento genético é especialmente importante. – Fotos: Scientific Animations; NIAID/Wikimedia Commons
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A Organização Mundial da Saúde anunciou um fundo de financiamento de US$4 milhões para iniciativas da Rede Internacional de Monitoramento de Patógenos (em inglês: International Pathogen Surveillance Network, IPSN), que busca sequenciar o gene de vírus e bactérias que podem causar infecções em seres humanos. Segundo o anúncio, os fundos serão direcionados principalmente para organizações de países subdesenvolvidos, para que possam também monitorar de perto possíveis ameaças para a saúde pública. Ester Sabino, que é imunologista e professora da Faculdade de Medicina da USP, explica como é feito e qual é a importância de se monitorar os patógenos.

Ester Sabino – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Ela conta que, com o sequenciamento do código genético desses agentes possivelmente infecciosos, podemos tirar informações muito úteis para a prevenção de catástrofes sanitárias, como a pandemia de covid-19. “O sequenciamento  é importante, porque ele dá alguns dados a mais sobre os agentes: qual é a linhagem, se existem variações importantes que estão fazendo com que esse agente adquira novas capacidades e também para saber se estão mudando as regiões em que a vacina deve produzir anticorpos.” 

A professora expõe que, no caso de bactérias, o monitoramento genético é especialmente importante. Superbactérias resistentes aos antibióticos comuns estão a surgir com cada vez mais frequência e é importante saber se os medicamentos atuais ainda dão conta de eliminar esses micróbios.

Rede de informações

Apenas monitorar os patógenos não é suficiente, conta Ester Sabino. É preciso que as informações obtidas sejam compartilhadas com o resto da comunidade científica. “Sequenciar só por sequenciar não adianta, tem que se inserir dentro de um processo. É preciso um sistema de informações que indique se alguma coisa está mudando, como essas amostras podem ir para os laboratórios quando acontece alguma mudança, a captação de amostras e os casos melhores para fazer o sequenciamento” explica. “O sequenciamento em si continua ainda sendo muito caro para ser usado em larga escala, então é necessário que a gente desenvolva em laboratório ferramentas mais baratas”, completa a professora.

 Ester ficou famosa em 2020 por liderar a equipe que sequenciou os genes do SARS-CoV-2 e diz que, para enumerar o código genético dos patógenos, são utilizadas diversas técnicas da biologia molecular. O primeiro desafio é a coleta da amostra (o coronavírus era extraído da nasofaringe do paciente, com aquele longo cotonete). Depois, são utilizadas técnicas da biologia molecular. “Quando você recebe o material, ele vem com proteínas e um monte de outras substâncias, é preciso fazer a extração do DNA ou RNA. Depois, é preciso aumentar esse DNA viral, porque o DNA do vírus é pequenininho, muito menor que o humano. Para isso, é utilizada a técnica de PCR”, explica a especialista.

Quando a quantidade de DNA já é maior, é possível colocá-lo numa máquina de sequenciamento, que vai utilizar um reagente ou passar as bases por um nanoporo para transformar a informação biológica em dados digitais.

Duras lições da pandemia

Ester Sabino compreende que a pandemia de covid-19 mostrou ao mundo a importância da colaboração internacional e de programas de financiamento para o monitoramento genético dos micróbios. Não adianta querer que países muito pobres consigam desenvolver sozinhos essas tecnologias, que são tão caras e que vão acabar tirando o recurso de outras necessidades. É preciso ter segurança não só dos países ricos, mas dos países pobres também, pois são eles que sofrem mais durante uma epidemia”, argumenta.

É preciso também ter normas e procedimentos de cooperação internacional muito bem definidos para se seguir numa emergência sanitária, para evitar desastres como a pandemia de 2020. A professora faz a comparação com normas de prevenção e combate a incêndios: “Quando acontece um incêndio, a gente não fica pensando no que fazer. A gente sabe das saídas de emergência, a gente treina sistematicamente como sair do edifício e temos as brigadas de incêndio. É preciso pensar o combate a epidemias da mesma forma”, conclui Ester Sabino. 


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