A distopia eurocidental provocou uma profunda angustia, sendo mais perceptível nos artistas críticos a lógica acumulativa eurocaucasiana, que é baseada no valor de troca. Com essa angustia Gilberto Gil criou uma música fundamental para a desconstrução dos valores da hegemonia patriarcal do homem branco. Como maioria minorizada Gil clamou, na condição de afrodescendente, justiça da orixalidade, visando mudar o curso da história. Sua inquietude aponta para uma estética utópica, cuja circularidade afro-brasileira demonstra um calor tropicalista. Formando uma efervescência, que é inegável alternativa disruptiva à frieza da distopia, na linearidade eurocaucasiana.
Nessa mesma linha abordagem, o Emicida localiza-se como intelectual orgânico – gramsciano, dos bairros e das vilas empobrecidas, onde a presença negra é expressiva. Ele criou uma denúncia crítica, contra a hegemonia do euro-hetero-macho-autoritário. Expressando sua rica herança lúdico-gregária da africanidade. Sua subjacência com o coco, que é um ritmo nordestino o aproxima à genialidade de Jackson do Pandeiro, que também influenciou Gilberto Gil. Percebo, dessa maneira, o rapper paulistano no caminho de Gilberto Gil, e com a força da corporalidade negra do hip hop, Emicida sugere uma alegre estética afrodiasporica, bakhtiniana. Esse nomos da arte negra africana se estabelece como uma alternativa a crise existencial das relações mercadológicas da euroheteronormatividade, que é estranha a corporalidade das divas e deuses das culturas africanas.
Quilombo Academia
O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.
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