A invasão de ambientes por espécies exóticas é a segunda causa mundial de perda de diversidade e a primeira causa mundial de extinção de biodiversidade em ilhas e áreas protegidas, segundo o Ibama. Essa situação ainda pode piorar: até 2050, essas invasões devem crescer mais de 35%.
Espécies exóticas são aquelas que não são naturais de determinado ambiente, mas que mesmo assim acabam se alojando e proliferando. Podem ser organismos, plantas ou animais que, adentrando certo ecossistema ou hábitat diferente do seu, acabam sendo uma ameaça à economia, biodiversidade, capacidade produtiva e funcionalidade dos ambientes. Além disso, podem competir com as espécies naturais, levando-as à extinção.
Esse é um problema sério, com o qual o Brasil está familiarizado: o mexilhão-dourado, o javali e o capim-gordura – que é proveniente da África e acabou substituindo espécies de gramíneas nativas do cerrado – são um exemplo. “Elas podem ser introduzidas por ação humana direta, como no caso do transporte associado aos navios transoceânicos ou pelo descarte irregular de organismos mantidos em aquários”, explica o professor Rubens Lopes, especialista em Oceanografia Biológica do Instituto Oceanográfico da USP.
Cada vez mais, esse fenômeno prejudica a biodiversidade marinha do País. “O aquecimento global também tem intensificado o deslocamento de espécies pelas correntes marinhas, assim como o lixo marinho flutuante, que pode atravessar o oceano de um continente para outro, trazendo espécies exóticas”, diz. Ele ainda lembra que, no início do século, o Brasil passou por um surto de cólera originado pelo transporte transoceânico de bactérias patogênicas por água de lastro de navios.
“Atualmente, o coral-sol é uma das principais preocupações, assim como o mexilhão dourado, que, embora seja de água doce, invadiu a América do Sul por água de lastro e causa grande prejuízo às usinas hidrelétricas”, diz Lopes. A espécie se prolifera muito rápido e acaba entupindo as instalações e tubulações e o custo de sua retirada é alto, além de ser necessária várias vezes ao ano.
“A melhor estratégia para a gestão das espécies exóticas marinhas é a prevenção, ou seja, ao invés de combater uma espécie já estabelecida, que é uma operação muito custosa e de baixa chance de êxito, o ideal é não permitir a sua chegada”, explica Lopes.
Para ele, políticas públicas e ações efetivas de fiscalização dos principais vetores de transporte marítimo são necessárias para o combate efetivo dessas invasões. Um caminho seria a implementação de um sistema de fiscalização ativo nos portos brasileiros, que impeça a liberação de água de lastro e a entrada de navios repletos de organismos incrustados nos cascos.
Parceria: Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano, Instituto Oceanográfico e Instituto de Estudos Avançados
Boletim Desvendando o Oceano
Produção: Alexander Turra e Katharina Grisotti
Coprodução: Cinderela Caldeira, Julia Estanislau e Tulio Gonzaga
Edição: Rádio USP
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