O Ambiente é o Meio desta semana conversa com José Pedro de Oliveira, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. Um dos organizadores do sistema ambiental brasileiro e um dos responsáveis pela criação de parques e outras áreas protegidas de grande dimensão do Brasil, Oliveira fala sobre o seu novo livro Uma história das florestas brasileiras, que aborda as diferentes etapas da ocupação do território brasileiro a partir da derrubada de vegetação original.
A obra surgiu da dissertação de mestrado do professor, na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos. “Eu tinha ido à Califórnia um pouco autoexilado do governo militar, quando o Geisel fechou o Congresso, e quando voltei não havia condição de publicar aquele livro durante o regime militar, porque contava a verdade que não era a versão oficial dos militares.” Oliveira conta que retomou a ideia de publicar o livro apenas muitos anos depois, durante a pandemia de covid-19, quando encontrou a dissertação e fez atualizações no estudo para que o livro fosse publicado.
“Minha ideia foi explicar o que é a floresta, antes de dizer como ela foi devastada ou como é que ela está sendo devastada. É a história da floresta, a história da devastação, mas é a história da recuperação também, porque existem muitos exemplos”, conta o professor, que cita a Floresta da Tijuca como o primeiro e mais conhecido exemplo de recuperação e o trabalho realizado pelo fotógrafo Sebastião Salgado em Minas Gerais, de “pegar uma área quase desertificada” e reflorestá-la.
A destruição das florestas brasileiras está relacionada com o tipo de desenvolvimento que foi imposto desde a colonização do País, explica o professor, “cuja expansão econômica se deve, principalmente, à exploração de recursos naturais”. Nesse contexto, Oliveira cita as disputas entre portugueses e holandeses pelo Nordeste e a implementação da cana-de-açúcar na região e ao longo do litoral brasileiro, visto que “o primeiro elemento mais importante do comércio internacional [no século 16] foi o açúcar”; a interiorização da criação de gado, “que é, concomitantemente, resultado da riqueza do açúcar no Nordeste”; a exploração do ouro em Minas Gerais, “que serviu, inclusive, de base monetária para a Revolução Industrial”, junto com a prata da Bolívia; as plantações de café, “que têm uma história fantástica muito vinculada ao Estado de São Paulo”; a exploração da borracha, entre outros acontecimentos até o final do século 19 que estão relacionados à devastação das florestas brasileiras.
A obra traz também depoimentos de Drauzio Varella, Fernando Gabeira, Sonia Braga e Fabio Feldmann; capa assinada por Sebastião Salgado e fotos do fotógrafo que “ilustram desde o dia a dia dos povos indígenas à exuberância das matas brasileiras”. O livro pode ser adquirido neste link.
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