Superintendente formará grupo de trabalho para pensar a segurança na USP

Nova superintendente de Prevenção e Proteção Universitária quer formular com a comunidade uspiana ações que garantam a paz e a convivência nos campi da Universidade.

 13/05/2014 - Publicado há 11 anos
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Nova superintendente de Prevenção e Proteção Universitária quer formular com a comunidade uspiana ações que garantam a paz e a convivência nos campi da Universidade

Em meio à surpresa do convite para ser titular da Superintendência de Prevenção e Proteção Universitária, Ana Lúcia Pastore Schritzmeyer, professora do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e membro do Núcleo de Estudos da Violência (NEV), assumiu o cargo no dia 15 de abril com a missão de resolver questões ainda não devidamente tratadas com a comunidade uspiana e de constituir um grupo de trabalho que traga o maior número de subsídios para se pensar a segurança dos campi da Universidade.

Ana Lúcia faz questão de ressaltar que, antes de mais nada, quer compreender como se encontra a superintendência, por isso privilegiou, nos primeiros 14 dias de trabalho, conhecer bem a situação, já que ocupar essa função era algo totalmente fora da sua imaginação. A professora acredita que a escolha do reitor Marco Antonio Zago se deu por conhecer de perto o seu trabalho de antropóloga na área de direitos humanos e questões ligadas ao sistema de Justiça.

Para ela, a escolha sinaliza uma mudança importante: trata-se de uma oportunidade de refletir sobre como a superintendência deve ser conduzida, uma vez que na gestão anterior havia uma tensão relacionada com o fato de o superintendente ser um coronel reformado e não um civil – um docente ou uma docente – e também pela existência do convênio com a Polícia Militar. “Ambas as questões não foram devidamente dialogadas com a comunidade como se esperava que fossem”, afirma a superintendente.

Ana Lúcia ressalta que nos primeiros dias de trabalho conseguiu conversar com vários agentes de segurança, dando prioridade em ouvi-los em relação às suas expectativas, demandas, insatisfações e expectativas. “Ao invés de ter uma única opinião de como está a superintendência, prefiro ouvir primeiro, para perceber quais são os planos das pessoas, a fim de fazer um papel de articulação de convergência das eventuais expectativas comuns.”

Grupos de trabalho – A superintendente explica que criará dois grupos de trabalho. Um deles tratará da questão mais ampla da segurança nos campi. “A princípio, a ideia é que seja um grupo de trabalho interdisciplinar, que também conte com discentes e funcionários, e cubra as várias facetas ligadas às questões de segurança, tais como convivência e administração de conflitos, por exemplo.”

Um ponto-chave já observado pela antropóloga é a questão da comunicação. “Os canais de comunicação ficaram truncados. As pessoas sentem falta de trocar ideias, de enviar e receber demandas de maneira mais clara. Quando esse canal de comunicação não existe, o trabalho cotidiano fica bastante complicado”, observa.

Esse grupo de trabalho será desvinculado das questões operacionais e cotidianas, e terá liberdade para pensar como funcionam as instâncias semelhantes em outras universidades do Brasil e do mundo. “Esse é um grupo que vai pensar e propor seminários, plenárias e workshops, que absorvam a participação de todos da comunidade uspiana”, afirma.

A realização desses eventos será uma das tarefas do outro grupo de trabalho planejado pela superintendente, que tratará de questões mais internas, como compra de uniformes e a relação de trabalho entre os agentes que são funcionários contratados e os terceirizados e entre os que exercem funções administrativas e funções operacionais. “O objetivo é refletir sobre como tornar tudo isso harmonioso, sem a ilusão de que as coisas serão perfeitas”, destaca Ana Lúcia.

Colegiado – O primeiro projeto operacional é criar um colegiado com poder de decisão de fato. Para a antropóloga, a figura do superintendente concentrando todo o poder de decisão é algo para o que ela não se sente competente e não é a forma de administração como gosta de trabalhar. “Para mim, uma pessoa nunca pensa e decide bem sozinha. Ela acaba se isolando e fica obviamente à mercê de conhecimentos que não detém e não articula bem, pois a articulação se faz no diálogo.”

Ana Lúcia deixa claro que seu entendimento para organizar a Superintendência de Prevenção e Proteção Universitária vem de sua experiência como chefe do Departamento de Antropologia da FFLCH. Para ela, a figura do chefe, além de cumprir questões administrativas e burocráticas, é de articulação, e por isso há um conselho de departamento que se reúne pelo menos uma vez por mês e decide, vota, escolhe, define.

Para que haja uma democratização nas várias instâncias de poder da USP, a antropóloga acredita ser fundamental que a superintendência funcione em regime de colegiado, e que vários setores tenham representação nesse colegiado e possam conduzir questões que venham de uma ampla base – no caso, os cem agentes de segurança, concursados da USP, um número expressivo e bem maior que qualquer departamento em termos de funcionários.

O trabalho dos agentes de segurança tem uma peculiaridade, que é o papel operacional que os coloca 24 horas por dia em contato com a comunidade, muito diferente de outros trabalhos administrativos, destaca a professora. Pensar um colegiado que dê suporte à figura do superintendente, permitindo que ele articule bem o funcionamento de todo o conjunto, é uma das metas de Ana Lúcia. “Acredito e espero que isso aconteça nesta segunda quinzena da gestão.”

A superintendente finaliza apontando que assumiu esse desafio principalmente como antropóloga, porque, antes de tudo, este é um grande trabalho de campo para uma antropóloga que trabalha com concepções de justiça, de direitos humanos e de segurança pública. “Entendi que assumir esta incumbência seria uma grande oportunidade para fazer uma espécie de etnografia participativa, com observação dessa instância da USP. Estou muito curiosa como antropóloga.”

(Matéria publicada no Jornal da USP, edição nº 1032, de 12 a 18 de maio de 2014 / Foto: Marcos Santos)


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