Pela sua constituição, a USP é uma instituição bastante descentralizada. Por isso, os dirigentes das 42 unidades de ensino e pesquisa, dos cinco institutos especializados, dos quatro museus e dos dois hospitais participam da gestão juntamente com a equipe da Reitoria. A USP é um modelo de “gestão compartilhada”.
A instituição tem o seu reconhecimento e a boa reputação internacional pelos resultados que apresenta. Quero reforçar os meus agradecimentos a cada membro da comunidade que de alguma forma vem contribuindo para a contínua melhoria da instituição. Incluo nos agradecimentos os egressos que, com o seu bom desempenho profissional e social, engrandecem a USP.
Nestes quase dois séculos de ensino superior no Estado, dos quais 88 anos sendo uma universidade de pesquisa, pode-se afirmar que os últimos quatro anos da USP foram os mais atípicos e imprevisíveis.
No primeiro ano de gestão, ainda restavam os rescaldos da dificuldade financeira que a Universidade tinha enfrentado no começo da década. Mas eram problemas conhecidos que foram devidamente solucionados.
No ano seguinte, fomos surpreendidos por uma Comissão Parlamentar de Inquérito, implantada pela Assembleia Legislativa do Estado, para ver possíveis irregularidades nas universidades estaduais paulistas. A Universidade não tinha nada a temer e, felizmente, a sua autonomia não foi atacada no relatório final da Comissão. No desenrolar dos trabalhos da CPI, ficou claro o desconhecimento das atividades da USP pelo parlamento paulista, mostrando a importância de fortalecer ainda mais os vínculos com essa instituição e com a sociedade, como um todo.
Nos últimos dois anos, convivemos com a pandemia de covid-19, que nos obrigou a suspender as aulas no dia 17 de março de 2020 e as demais atividades presenciais a partir da semana seguinte. As atividades presenciais foram retomadas, com os devidos cuidados, a partir de 23 de agosto de 2021 e, as aulas, apenas a partir de 4 de outubro, quase 19 meses depois. O retorno está sendo gradativo, seguindo a imunização da comunidade, muito dependente da faixa etária e do imunizante recebido.
A USP não parou. Irmanados numa força-tarefa virtual, docentes, servidores e alunos fizeram a USP ressurgir mais integrada à sociedade de fortalecer ainda mais os vínculos com essa instituição e com a sociedade, como um todo. A pandemia, cada vez mais catastrófica, não tinha conseguido paralisar a Universidade. Reafirmo, fizemos a nossa parte, como uma instituição pública a serviço da sociedade.
Quase todas as aulas teóricas foram oferecidas remotamente, mesmo várias atividades práticas puderam ser adaptadas para que os alunos pudessem acompanhar a distância. Os docentes aprenderam a empregar ferramentas didáticas. Os colegiados reduziram as exigências burocráticas, ampliando o alcance das atividades a distância. Os próprios alunos se organizaram, em várias unidades, para apoiar os colegas. A Universidade, por sua vez, também providenciou apoio para os alunos com dificuldades de acesso às redes virtuais.
Na Pós-Graduação, por serem realizados remotamente, os exames e as defesas ampliaram o número de membros do exterior nas comissões julgadoras.
Mais de 150 grupos de pesquisa iniciaram ou adequaram os seus estudos para temas de combate ou minimização dos efeitos da pandemia. Catalogamos cerca de 270 projetos de pesquisa relacionados com a luta contra a covid-19. Em outubro de 2020, pela Plataforma Dimensions, a USP já era a 16ª instituição de pesquisa com maior número de publicações envolvendo covid-19, com 729 publicações, a primeira do hemisfério sul. Alguns laboratórios funcionaram ininterruptamente, 24 horas diárias, por sete dias da semana, para conseguir responder aos anseios da sociedade.
A dedicação dos servidores também foi relevante. Nas fases mais restritivas para as atividades presenciais, não era incomum termos mais de quatro mil servidores técnicos e administrativos em atividade presencial, mas não simultânea, com o suporte de um número similar de colegas apoiando remotamente. Com isso, as atividades de atendimento de saúde, segurança, as pesquisas mencionadas anteriormente sobre covid-19, as outras atividades laboratoriais que não podem ser paralisadas, a infraestrutura de informática e a administração foram conduzidas da melhor maneira possível.
Pelo exposto, a comunidade da USP tem muito a se orgulhar, apesar da catástrofe que resultou a todos nós a perda de entes queridos, amigos de longa data e muitos, muitos conhecidos.
O programa desta gestão reitoral tinha três eixos principais: a excelência acadêmica, a ampliação da interação com a sociedade e a contínua valorização dos recursos humanos. A limitação das atividades presenciais não foi um impedimento para refrear as ações para o alcance dos objetivos propostos.
O aprimoramento da excelência acadêmica está confirmado pelo excelente desempenho da USP nas avaliações nacionais e internacionais. Isso foi obtido nas atividades didáticas com o aumento da inclusão e políticas afirmativas. Na graduação, atingiu-se os melhores patamares de inclusão social e étnica que já era alto em gênero há vários anos. Na pós-graduação atingiu-se, também, em gênero. Na graduação, houve um forte estímulo à modernização da infraestrutura, inclusive laboratorial, além de apoiar as atividades dos estudantes extramuros. Na pós-graduação, complementando a formação do pesquisador, os estudantes tiveram opções para uma formação mais integral, como futuros líderes de novos grupos de pesquisa.
As atividades discentes foram realizadas num ambiente de pesquisa, mesmo que remotamente, e procurando oferecer aos alunos a oportunidade de treinamento em outras habilidades, como empreendedorismo, inovação, ética, atuação em equipes multidisciplinares, liderança, entre outras. Particularmente para os pós-graduandos foi intensificada a oportunidade de formação didático-pedagógica.
Um tópico que a pandemia intensificou foi o relacionamento da Universidade com a sociedade. As ações foram múltiplas, não restritas aos alunos das escolas públicas nem às empresas que buscam inovações, mas também bem mais abrangentes. O maior relacionamento nos estimulou à criação do Fundo Patrimonial da USP, juntando-se à iniciativa de algumas unidades.
A valorização dos recursos humanos tem como o seu maior desafio a permanência e formação estudantil, para garantir a efetiva inclusão social e étnica que a Universidade vem praticando. Nos orçamentos anuais é a alínea que sempre foi aumentada acima da inflação do período, mas a preocupação não é exclusivamente dar um suporte financeiro aos estudantes, mas um acolhimento amplo, com apoio psicológico e orientação sobre a carreira, além de uma integração do estudante no meio através do esporte e da cultura.
Para os servidores técnicos e administrativos e para o corpo docente, a Lei Complementar 173 de 27 de maio de 2020 foi muito restritiva; felizmente, pelas peculiaridades da Universidade e, cumprindo a legislação, foi possível propiciar aos docentes a manutenção dos concursos de Livre-Docente e a progressão horizontal na carreira. Esta última foi feita, pela primeira vez, seguindo a sistemática prevista pelo Estatuto do Docente, através da avaliação periódica, que, após oito anos sem progressão, contemplou 57% dos docentes elegíveis.
Não menos marcantes foram os desenvolvimentos das atividades- -meio, sempre procurando simplificar os procedimentos e informatizando as atividades, para isso, melhorando a infraestrutura de TI, inclusive com a conexão entre os campi com backbone de alta velocidade.
Mesmo com a mobilidade de alunos e docentes limitada pela pandemia, a internacionalização continuou intensa e, os nossos convênios, ativos. Para atender às novas demandas, foram criados os escritórios de Desenvolvimento de Parcerias (DePar) e de Gestão de Indicadores de Desempenho Acadêmico (Egida), além da reestruturação do USP Mulheres e do Alumni. A nova abordagem de lidar com a informação acadêmica foi implantada com a criação da Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (Aguia).
A nova gestão vai assumir a Universidade com as finanças devidamente saneadas. Para o ano de 2022, foi proposto ao Conselho Universitário um orçamento em que o item Pessoal tem um aumento de 26% para que a nova gestão e o Conselho possam recuperar os salários, contratar novos docentes e servidores e atualizar os demais benefícios. Por fim, está sendo mantida uma reserva financeira adicional de mais de um terço do orçamento anual para suprir uma eventual crise econômica do país ou para projetos novos da gestão que assumirá o comando da USP.
A USP manteve a sua excelência, aumentou o seu reconhecimento e prestígio internacionalmente, tornou-se mais inclusiva e aproximou-se mais da sociedade, de maneira mais ampla, além de sanear as suas finanças. Portanto, posso concluir que tenho ORGULHO DE SER USP. Meu muito obrigado a todos pela pujança da Universidade e, particularmente, a todos que ajudaram esta gestão a superar os desafios que foram majorados pela pandemia.
(Texto originalmente publicado no Relatório de Gestão 2018-2021)