Negócios ilícitos dão nova forma ao crime organizado na economia da América Latina

Com treinamento gratuito e voltado a agentes de segurança pública, escola da USP propõe solução multidimensional para enfrentar a expansão dos mercados ilícitos; curso tem parceria com o Ministério da Justiça e é financiado pela Philip Morris International

 Publicado: 03/04/2024

Texto: Tabita Said*

foto de viaturas das polícias civil e federal em cooperação com polícia nacional boliviana

Polícias Civil e Federal em cooperação com a Polícia Nacional Boliviana. Integração ainda representa desafio institucional - Foto: Secretaria de Estado de Comunicação / Governo do Acre

Despontando como uma força na economia global, os mercados ilícitos avançam progressivamente, combinando desenvolvimento tecnológico e ineficiência dos mecanismos de controle e prevenção. “Essa expansão dos mercados ilícitos tem impacto direto sobre a violência na Região da América Latina e Caribe. Drogas ilícitas, produtos falsificados, armas e o tráfico de pessoas estão no topo da lista dos negócios que impulsionam as engrenagens da violência”, explica Leandro Piquet Carneiro, professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP.

Piquet coordena a Escola de Segurança Multidimensional (Esem) da USP, que está com inscrições abertas para o curso Mercados Ilícitos e Crime Organizado nas Américas. O curso on-line e gratuito reúne especialistas em segurança pública para oferecer um panorama sobre o avanço das redes criminosas que operam nas cadeias logísticas de bens e serviços ilícitos. 

Após a realização da primeira edição em 2023, que formou mais de 6 mil alunos de 21 países das Américas, Europa, África e Ásia, a Esem abre inscrições para a segunda turma. O curso conta com o apoio financeiro do programa PMI-Impact da Philip Morris International e o apoio institucional do Ministério da Justiça do Brasil. “Também foi declarado de interesse público da Polícia Nacional do Equador”, conta Piquet. 

Leandro Piquet Carneiro é professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP e coordenador da Escola de Segurança Multidimensional (ESEM) da USP - Foto: arquivo pessoal

Leandro Piquet Carneiro é professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) e coordenador da Escola de Segurança Multidimensional (Esem) da USP - Foto: arquivo pessoal

As inscrições já estão abertas e vão até dia 31 de maio, com vagas limitadas, pelo Sistema Apolo da USP. Especialistas e professores convidados originários de oito países das Américas e Europa apresentarão o conteúdo em português, espanhol ou inglês. O curso será realizado em 11 semanas, com 120 horas totais de atividades, entre 3 de junho e 18 de agosto, por meio de videoaulas e questionários de avaliação.  

As aulas discutem os maiores desafios relacionados aos mercados ilícitos no continente americano e indicam os principais dispositivos legais e boas práticas operacionais relacionadas aos temas. Entre eles, o enquadramento legal para a cooperação em segurança pública nas fronteiras, boas práticas em procedimentos operacionais e técnicas para a produção de dados e inteligência em segurança pública.

Arte: Canva/Jornal da USP

“Nas aulas do curso Mercados Ilícitos e Crime Organizado nas Américas, abordamos o crime organizado como um fenômeno que está no centro de uma complexa rede de negócios ilícitos em ascensão global”, afirma Piquet. Em artigo assinado com Fabio Ramazzini Bechara, promotor do Ministério Público e conselheiro da Esem, os professores afirmam que os mercados ilícitos impulsionam as engrenagens da violência. “A nota possível de otimismo e visão de futuro envolve a defesa de estratégias de abordagem integradas e coordenadas entre agências, muito fácil de falar, quase uma banalidade, mas ainda um enorme desafio institucional”, apontam Piquet e Bechara.

Mais informação, mais qualificação

Na primeira edição do curso Mercados Ilícitos e Crime Organizado nas Américas , 81% dos alunos matriculados atuavam diretamente em segurança pública. De acordo com a organização do curso, 40% indicavam ser policiais militares e 50% do total de matriculados informaram ter pós-graduação lato sensu. Entre os países que mais procuraram o curso estão Brasil, Equador, Argentina e Uruguai.

Além das videoaulas, as pessoas matriculadas terão à disposição uma plataforma de ensino que permite comunicação e fornecimento de apostilas e materiais de apoio, além de tutoriais e fóruns de discussão. Os alunos contarão, ainda, com um time de monitores internacionais ao longo de todo o curso, auxiliando com questões acadêmicas. Conheça os módulos do curso neste vídeo

A metodologia utilizada no curso será o Problem-Based Learning associada ao Microlearning. O primeiro método busca conectar os conceitos teóricos com temas práticos. 

O objetivo é aproximar o conhecimento com as atividades do dia a dia do trabalho policial, para fomentar uma compreensão mais profunda e contribuir para a atuação profissional dos alunos e alunas. 

Já o Microlearning é um método didático moderno pensado para o ensino a distância (EaD). O método tem como objetivo aumentar a flexibilidade, a dinamicidade e a absorção de conhecimento pelos alunos a partir do uso de instrumentos pedagógicos distintos, mas complementares. 

Ao final, espera-se que cada estudante seja capaz de compreender fenômenos complexos e aplicar este conhecimento em situações práticas.

Escola de Segurança Multidimensional

A USP foi uma das três universidades do continente a desenvolver cursos voltados à difusão de conhecimentos e redução de assimetrias entre as polícias das Américas. Por meio de parcerias com organismos de atuação internacional, como a Organização dos Estados Americanos (OEA), a Esem oferece cursos voltados à formação de agentes de segurança pública e defesa, buscando melhor adequação do perfil desses profissionais ao mercado de trabalho.

Vinculada ao Instituto de Relações Internacionais da USP, a Esem atua há sete anos também no desenvolvimento de pesquisa, conteúdo e ferramentas de qualidade para organizações de segurança, defesa e justiça criminal. 

Atualmente, está dando início a um novo programa de formação focado em cibersegurança, com o curso Introdução à Cibersegurança e aos Crimes DigitaisSaiba mais: https://esem.org.br/pt/ 

* Com informações da Esem