“Venho do sertão da Paraíba. Desde cedo, vivenciei um mundo mágico, atávico, cuja influência cultural e espiritual de povos de matriz indígena e africana tiveram papel determinante na minha formação. Há também um dado relacionado à diáspora nordestina, refiro-me a essa população que, ao longo dos anos, migrou para o Sul em busca de melhores condições e que foi determinante para o progresso dessa região do País.”
É essa história que o pintor paraibano Sérgio Lucena revela na exposição Na raiz do tempo, a matriz da cor, no Museu Afro Brasil Emanoel Araujo. Com a curadoria de Claudinei Roberto da Silva, também artista e professor, graduado e pós-graduado pelo Departamento de Artes Plásticas da USP, a mostra traz 72 obras que propiciam ao visitante observar a busca e os diferentes caminhos trilhados pelo artista. Neste dia 25, às 14 horas, quando São Paulo completa 470 anos, Lucena e Silva lançam o catálogo da mostra e conversam com o público no auditório do museu.
“Nas narrações plásticas que o artista nos apresenta está implicada uma espécie de cosmogonia derivada das festas brasileiras profanas e sacras, frequentemente associadas às manifestações da religiosidade de matriz africana, e também do sincretismo cultural caboclo e originário das sínteses da arquitetura de viés popular e nordestina”, observa Silva. “Enfim, os cruzamentos, as encruzilhadas e os encontros, nem sempre pacíficos, que são marcas indeléveis da nossa cultura, também contribuem para a realização dessa pintura que, por complexa, não desmente ou contesta certas conquistas das escolas de pintura do Ocidente, notadamente daquelas acontecidas na Europa e nos Estados Unidos.”
Lucena é um artista com reconhecimento internacional. Nos últimos anos, apresentou seus trabalhos na Dinamarca, Alemanha (Berlim) e nos Estados Unidos (Washington e Seattle). Porém a mostra Na raiz do tempo, a matriz da cor no Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, que o artista define como “o mais brasileiro de todos os museus”, é um encontro com seu lugar de origem sob a luz do sol e as cores do mar. “Não é uma retrospectiva, mas apresento um panorama composto de várias séries desenvolvidas ao longo de minha trajetória, com ênfase na produção mais recente, onde reassumo a figuração”, explica Lucena. Na exposição, o pintor celebra 21 anos de São Paulo, 40 anos de pintura e 60 anos de vida.
A exposição Sérgio Lucena – Na raiz do tempo, a matriz da cor pode ser vista até o final de fevereiro, de terça a domingo, das 10 às 17 horas.
Local: Museu Afro Brasil Emanoel Araujo – Parque Ibirapuera, Portão 10, Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n – Vila Mariana, São Paulo – SP.
Mais informações no site: http://www.museuafrobrasil.org.br/programacao-cultural/exposicoes/temporarias