Disciplina proporciona vivências para melhor compreender pessoas com deficiência nos esportes

Estudantes da disciplina Esporte e Deficiência I, ministrada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, participaram de atividades sensoriais para ampliar compreensão sobre pessoas com deficiência em diferentes âmbitos esportivos

 13/07/2023 - Publicado há 10 meses

Texto: Gustavo Roberto da Silva (estagiário)*

Arte: Joyce Tenório

Em visita ao Instituto Butantã, alunos participaram de experiência de sensibilização corporal na natureza. - Foto: Reprodução/EEFE-USP

Os esportes praticados por pessoas com deficiência conquistaram grande visibilidade na virada do século. Desde a fundação do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), em 1995, passando pelos Jogos Paralímpicos realizados no Rio de Janeiro em 2016 e chegando aos dias atuais, a representatividade do Brasil nas modalidades paralímpicas foi ampliada. 

“É nesse contexto que os cursos de educação física passam a ofertar disciplinas relacionadas a esporte e deficiência”, afirma a professora Michele Viviene Carbinatto, responsável por ministrar a disciplina Esporte e Deficiência I, obrigatória no Bacharelado em Educação Física na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP.

Segundo ela, durante muito tempo as práticas corporais para pessoas com deficiência eram focadas apenas na reabilitação. “No sentido de reabilitação as pessoas vão fazendo alguns exercícios, que por vezes são isolados. É um sentido muito fisioterápico. Quando o profissional de Educação Física vai adentrando, começamos a trabalhar na prerrogativa de uma vida ativa e uma possibilidade de caminhar para profissionalização”, destaca Michele.

A professora conta que a disciplina tem trabalhado a partir de questionamentos sobre o significado do corpo. “Existem alguns estigmas no esporte, baseados em uma prerrogativa da ciência positivista, da ideia de um ‘corpo máquina’. Essa associação produz um pensamento de que o corpo tem que trabalhar em sua totalidade para ser produtivo, então quem tem um corpo diferente do padrão é considerado incapaz”, diz.

Michele Viviene Carbinatto - Foto: Arquivo pessoal

Para modificar esse pensamento, Michele introduz discussões em sala de aula por meio de literaturas alternativas e outros produtos culturais, como filmes que trazem pessoas com diferentes corpos em plenas condições de exercer atividades físicas variadas. “A gente discute isso para que eles mudem esse pensamento. É muito importante que o profissional esteja preparado para detectar e identificar situações capacitistas, para que ele possa tratar as pessoas com deficiência na prática esportiva como atletas paralímpicos de alto rendimento”, ressalta.

A professora cita como exemplo de projeto de inclusão o Instituto Inspara, uma Organização Não Governamental (ONG), que promove a prática do Nado Artístico Adaptado para pessoas com deficiência. 

Além das discussões em sala de aula, os estudantes participam de atividades externas. No fim do mês de junho, os alunos da disciplina participaram de uma vivência em Curling Paralímpico, modalidade adaptada para atletas com deficiência que afeta seus membros inferiores ou marcha. A atividade foi realizada na Arena Ice Brasil, projeto da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, e contou com aula teórica e prática no gelo com cadeira de rodas. A arena foi construída em perspectivas olímpicas e paralímpicas.

A atividade foi realizada tendo em vista o objetivo da disciplina, de oferecer aos alunos a oportunidade de conhecer o esporte praticado pelas pessoas com deficiência, sua evolução histórica, sua problemática, as principais características e sua importância social.

A ideia é preparar profissionais para compreender a pessoa com deficiência no âmbito do fenômeno Esporte, para que possam atuar nos diferentes segmentos das organizações e grupos esportivos especializados nesta área.

Ampliando Perspectivas

Michele conta que a ideia de expandir a disciplina para além da sala de aula surgiu com a elaboração de um projeto de extensão, antes mesmo da organização das visitas para atividades externas. Na ocasião, a professora e os estudantes da disciplina organizaram um evento que contou com a participação de diversos profissionais que atuavam diretamente nas questões relacionadas ao esporte e a deficiência.

O projeto deu origem a um livro que relaciona modalidades da ginástica, especialidade da professora Michele, com as perspectivas de pessoas com deficiência. A obra intitulada Ginástica e a pessoa com deficiência: reflexões e encaminhamentos práticos foi publicada em 2022.

Capa do livro "Ginática e a Pessoa com Deficiência" - Imagem: Reprodução/Editora Bagai

“A inclusão é um tema humanitário. Ela não deve estar em uma gaveta chamada esporte e deficiência, ou esporte paralímpico. O ideal é que todos os professores atuem em suas disciplinas fazendo interseções com o tema”, destaca.

O livro conta com a contribuição de diversos especialistas da área e reúne imagens capazes de exemplificar visualmente os temas em discussão. “Tivemos participação de pessoas das áreas da ginástica, atividades rítmicas, trampolim acrobático, algumas pessoas que trabalham com o desenvolvimento de políticas públicas, pessoas que analisam como as pessoas com deficiência estão na mídia. A produção foi muito legal, pensando no tripé de ensino, pesquisa e extensão”, afirma a professora.

Quanto às práticas externas da disciplina, além do Curling Paralímpico, também foram propostas aos alunos diversas atividades visando ampliar o conhecimento e a visão sobre as questões relacionadas à pessoa com deficiência no contexto esportivo. 

Uma dessas atividades foi realizada em uma visita ao Instituto Butantã, com o objetivo de conhecer modelos de inclusão no âmbito social e participar de experiência de sensibilização corporal na natureza.

Além da disciplina obrigatória, a EEFE oferece como optativa eletiva a disciplina de Esporte e Deficiência II. “A gente faz uma imersão. Uma observação em eventos e aulas, analisando as relações entre treinadores e atletas, entre atletas e pais, entre a torcida e os atletas. Como estão esses eventos? Foram divulgados? Tem público? A partir dessas observações a gente faz uma análise de tudo”, conta Michele.

Com informações da Seção de Relações Institucionais e Comunicação da EEFE

*Sob supervisão de Antônio Carlos Quinto

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