Dia Internacional dos Povos Indígenas retoma a atenção pública para os povos originários

Eventos na USP e na cidade de São Paulo discutem a presença indígena nos espaços institucionais, na educação, e realizam atos em defesa da terra e da vida

 09/08/2022 - Publicado há 2 anos
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Dia Internacional dos Povos Indígenas retoma a atenção pública para os povos originários

Eventos na USP e na cidade de São Paulo discutem a presença indígena nos espaços institucionais, na educação, e realizam atos em defesa da terra e da vida

Índias Yawalapiti – Foto e edição: Anne Vilela / Flickr

 09/08/2022 - Publicado há 2 anos

Texto: Tabita Said

Arte: Ana Júlia Maciel

Não é só em abril. O Dia Internacional dos Povos Indígenas, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1994, reconhece a importância do conhecimento tradicional e alerta para a necessidade constante de assegurar os direitos desta parcela da população.

“Esta é uma data importante, com uma série de eventos em todo o Brasil durante o mês de agosto. O Agosto Indígena é uma tentativa de mobilizar outras datas para refletir com toda a sociedade sobre a situação dos povos indígenas”, afirma Emerson de Oliveira Souza, doutorando em Antropologia Social na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Originário da etnia Guarani Nhandewa e professor de sociologia da rede pública estadual, Souza participa do Agosto Indígena palestrando em escolas municipais de São Paulo sobre a invisibilidade dos povos indígenas na metrópole – tema de sua pesquisa.

Emerson de Oliveira Souza – Foto: Arquivo Pessoal

Desde o ano passado, o Agosto Indígena integra o calendário oficial do Estado de São Paulo. No entanto, o mês já era celebrado informalmente nas escolas do município. “Na secretaria municipal de educação, nós já fazíamos atividades de formação de professores, oficinas, cantos e danças, uma diversidade de coisas como são diversos, também, os povos indígenas”, conta Chirley Pankará, pedagoga, doutoranda da USP e a primeira mulher indígena eleita codeputada pelo estado paulista. Para ela, uma das funções da data é mostrar à sociedade a presença indígena tanto em seus territórios, quanto em contexto urbano.

“Nós sabemos de onde viemos e honramos a memória dos nossos ancestrais. A luta territorial é uma luta, também, por nossa saúde, educação e cultura. Estes eventos são importantes para que os próprios povos tenham voz e possam cobrar justiça social”, afirma a pesquisadora, que participa do Dia Internacional dos Povos Indígenas na Jornada Nacional de Luta. O evento começa hoje com uma ocupação cultural no pátio das arcadas da Faculdade de Direito da USP, e deve reunir lideranças indígenas e juristas em um ato pela defesa dos territórios e vidas indígenas. A mobilização também prevê a realização de uma marcha por São Paulo, a partir das 16 horas.

Chirley Pankará – Foto: Arquivo Pessoal

“Se hoje existe floresta, é porque os povos indígenas são guardiões, grandes sabedores, que dialogam com os espíritos, com as montanhas, os rios, as árvores, com todos os seres; animais, vegetais e minerais. O dia 9 de agosto deve ser lembrado como uma forma de resistência, onde todas as avós, mães, no momento do parto, trazem as crianças ao mundo com uma sabedoria ancestral”, diz a filósofa brasileira Cristine Takuá para a ONU News. A organização focou as comemorações deste ano no papel das mulheres indígenas para a conservação e a transmissão dos conhecimentos tradicionais.

Cristine Takuá – Foto: IEA USP

Todo dia era dia de índio

Ainda celebrando o Agosto Indígena, a Comissão Permanente de Ações Afirmativas do Programa de Pós-Graduação de Antropologia Social (PPGAS) da USP fará uma roda de conversa com a líder indígena Sônia Guajajara. O encontro acontece na quarta-feira, 10, às 14 horas, no Prédio das Ciências Sociais e Filosofia com o tema “Indígenas nos espaços institucionais e os processos democráticos”. Para assistir à transmissão da roda de conversa, é necessário solicitar o link no e-mail uspacoesafirmativas@gmail.com

De acordo com Simony dos Anjos, aluna do PPGAS e uma das organizadoras a roda de conversa, o programa foi pioneiro na USP ao implementar um edital com optantes para pardos e pretos e ao oferecer um processo de seleção de mestrado e doutorado exclusivo para indígenas. “A antropologia é uma das ciências que sempre se dedicaram ao estudo dos povos originários brasileiros. Em 1988, a antropologia [se torna] uma das áreas da ciência mais engajadas na proteção dos direitos indígenas, como demarcação de terras, saúde indígena e educação bilíngue”, diz a cientista social, que foi a primeira mulher negra a disputar a prefeitura do município de Osasco, nas eleições de 2020.

Simony dos Anjos- Foto: Arquivo Pessoal

Ela explica que a ideia do encontro é reforçar laços e buscar representantes políticos que estejam comprometidos na defesa da universidade pública de qualidade “com acesso universal”, destaca a pesquisadora e lembra que toda a comunidade terá relações com alunos optantes. “Docentes e funcionários devem estar inseridos no debate, pois é uma mudança de cultura universitária. Incentivamos que outros programas de pós-graduação estejam presentes, e a comunidade em geral”.

Segundo Chirley, o 9 de Agosto é uma iniciativa indígena mas nasceu com o objetivo de envolver toda a sociedade em uma luta por justiça social que afeta a todos. “Que esta data não fique apenas em abril ou no dia 9 de Agosto, pois sabemos perfeitamente o que é ser indígena neste país; o que é ter os corpos indígenas sangrando o tempo inteiro. Mas, que possam entender que estamos resistentes, que continuamos em busca de nossos direitos, tão negados pela política anti-indígena instaurada no país”, conclui.

Outros eventos em São Paulo

O seminário Indígenas em São Paulo, São Paulo Terra Indígena propõe discutir a presença indígena na cidade de São Paulo e o quanto essa presença é importante para a efetivação da lei 11.645/08, que determina o ensino e história da cultura afro-brasileira e indígena. O evento ocorrerá dia 15 de agosto no Theatro Municipal e contará com a fala de Antonia Terra – Depto. de História da USP – e Circe Bittencourt – Depto. de Educação da USP. Saiba mais clicando aqui.

A Prefeitura de São Paulo promoverá atividades do Agosto Indígena ao longo de todo o mês. Com apresentações no Centro Cultural da Penha, Centro Cultural Tendal da Lapa e Casas de Cultura da zona leste à zona sul da capital, a programação traz a arte de diversos povos indígenas brasileiros, com exibições de cinema, shows e apresentações de dança e cantos, a partir do dia 9, data na qual é celebrada o Dia Internacional dos Povos Indígenas.

O Museu das Culturas Indígenas fará uma programação especial para comemorar o Dia Internacional dos Povos Indígenas. O evento “Preparação do início do tempo novo: Ara Pyau” acontece no dia 9, das 9 às 17 horas, gratuitamente, e pretende compartilhar práticas e ensinamentos tradicionais que marcam este período de renovação. Inaugurado em julho, o museu é um novo espaço em São Paulo que tem como finalidade a proteção, difusão e valorização do patrimônio cultural indígena.

Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado é o tema do 3º Seminário Sesc Etnicidades, que será realizado entre os dias 10 e 12 de agosto, no Sesc 24 de Maio, em São Paulo. O evento tem como objetivo tratar do protagonismo de pessoas indígenas e negras, por meio de uma programação centrada na diversidade cultural. As inscrições podem ser feitas neste link.

Saiba Mais

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Nesta edição, o entrevistado é Emerson de Oliveira Souza, autor da dissertação “Povos Indígenas na Metrópole: movimento, universidade e invisibilidade na maior cidade da América”, defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP


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A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.


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