Violência, consumismo e opressão: o futuro dos EUA imaginado pelas HQs

Livro analisa representações distópicas dos Estados Unidos em histórias em quadrinhos dos anos 1980 e 1990

 25/08/2023 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 30/08/2023 às 13:17
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Livro é resultado de tese defendida na USP, que aponta distopias e analisa as representações dos Estados Unidos em histórias em quadrinhos dos anos 1980 e 1990 - Fotomontagem: Jornal da USP - Imagens: Reprodução/"Estados Distópicos da América: o Futuro dos EUA nas Histórias em Quadrinhos (1983-1999)"

Estados Distópicos da América: o Futuro dos EUA nas Histórias em Quadrinhos (1983-1999), de Rodrigo Aparecido de Araújo Pedroso, é um daqueles títulos que surgem discretos e merecem mais atenção. Fruto de uma tese de doutorado defendida em 2020 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, sob orientação do professor Marcos Antonio da Silva, o livro reúne qualidades básicas mas rarefeitas em trabalhos acadêmicos: escrita acessível, abordagem original e paixão pelo tema abraçado.

Pedroso escolhe três séries de histórias em quadrinhos (HQs) publicadas nos Estados Unidos por autores reconhecidos e importantes no meio e analisa como esses trabalhos pensaram o futuro do país, tendo como pano de fundo os anos 1980 e 1990. Um período no qual os EUA experimentavam as propostas neoliberais do governo Ronald Reagan (1981-1989), viviam os últimos suspiros da Guerra Fria e sapateavam no lamaçal de intervencionismo militar na América Central e no Oriente Médio, cuja cereja no bolo foi a Guerra do Golfo, levada a cabo na administração de George Bush (1989-1993).

O pesquisador Rodrigo Aparecido de Araujo Pedroso - Foto: Lattes

American Flagg!, Marshal Law e Martha Washington são HQs distópicas, que situam suas histórias em futuros mais ou menos distantes, retratando de maneira pessimista os desenvolvimentos políticos, econômicos e socioculturais dos EUA. Seus protagonistas são personagens patrióticos e insatisfeitos com o país, cujas aventuras permitem vislumbrar noções distintas de Estado, poder, controle, ideologia, valores estadunidenses, futuro, violência e o papel social das mulheres, entre outros temas.

Capa e página inicial de "American Flagg!", apresentando um pouco do personagem principal e do contexto - Imagem: Reprodução/ "American Flagg!" via "Estados Distópicos da América: o Futuro dos EUA nas Histórias em Quadrinhos (1983-1999)"

O pesquisador tentou entender as motivações desse sentimento pessimista a partir do contexto neoliberal e de ascensão de grupos políticos conservadores nos EUA, um período de incertezas e medos para os cidadãos do país. Uma época marcada, num primeiro momento, pela diminuição de investimentos estatais nos setores de bem-estar social, reaquecimento da Guerra Fria, aumento de gastos militares e apoio a grupos armados anticomunistas na América Latina e Oriente Médio. E seguida, nos anos 1990, pela hegemonia estadunidense pós-Guerra Fria, quando o inimigo se tornou mais difuso e a paranoia mudou de direção.

Os documentos dialogam com esse período da história no qual o embate entre Estados Unidos e União Soviética ainda fazia parte do imaginário nacional, mobilizando oposições entre capitalismo e comunismo, liberdade e Estado, individualidade e controle. Isso tudo no contexto de um país confuso entre discursos sobre democracia e uma máquina estatal empenhada em promover guerras, invasões e apoiar ditaduras pelo mundo.

Como distopias, explica Pedroso, as três obras foram produzidas não com a intenção de prever o futuro, mas criar narrativas verossímeis que tratassem de medos, esperanças, desejos e imaginações sobre o futuro, tendo esse panorama como base. E também, em certo sentido, como forma de ação política, já que propunham diálogos e abriam linhas de ação entre os leitores e seus contextos.

“Vários autores que trabalham com distopias entendem que elas têm ciclos”, explica o pesquisador. “No período da Grande Depressão ou da Segunda Guerra há um certo número delas e então temos uma parada, com o surgimento de narrativas mais utópicas. E depois, nos anos 1970 e 1980, há um retorno das obras distópicas. Elas começam a discutir um tempo visto como mais caótico, de grande desemprego e mudanças econômicas, sobretudo nos EUA, com o desmonte do Estado de bem-estar social. Sem falar na Guerra Fria, que é um grande motivador de obras distópicas, principalmente por conta da ameaça nuclear.”

Capa da primeira edição de "Marshal Law", que mostra detalhes de seu uniforme de combate - Imagem: Reprodução/"Marshal Law" via "Estados Distópicos da América: o Futuro dos EUA nas Histórias em Quadrinhos (1983-1999)"
Capa da primeira edição de "Marshal Law", que mostra detalhes de seu uniforme de combate - Imagem: Reprodução/"Marshal Law" via "Estados Distópicos da América: o Futuro dos EUA nas Histórias em Quadrinhos (1983-1999)"

Todas as HQs analisadas se enquadram no que o geógrafo e pesquisador de quadrinhos Jason Dittmer chama de quadrinhos de super-heróis nacionalistas, gênero voltado para a difusão de valores patrióticos e o estabelecimento de uma identidade nacional. Pedroso se interessa em entender como esses personagens são usados para discutir, criticar, ressignificar ou reafirmar os valores e as convenções identitárias dos EUA. 

Essa não é a primeira incursão do autor na análise de HQs e tampouco no tema nacionalista. Pedroso já abordara o assunto em sua dissertação de mestrado, que resultou no livro Vestindo Ainda Mais a Bandeira dos EUA: o Capitão América Pós-Atentados de 11 de setembro (2016).

Ainda não se vê uma quantidade de trabalhos acadêmicos utilizando histórias em quadrinhos como fontes documentais equivalente à importância cultural que elas têm. No campo da história, em que Pedroso defendeu sua tese, pouca gente aceita o desafio de olhá-las como documentos capazes de gerar conhecimento. “A principal dificuldade que encontrei ao longo desses anos de pesquisas com quadrinhos foi achar um espaço para orientação”, comenta o autor. “Muitos professores não estão dispostos a orientar pesquisas em HQs.”

Isso, por si só, já chama atenção para o livro, mas também salta aos olhos a seriedade com que o autor lida com seu material. Em Estados Distópicos da América, os quadrinhos são levados a sério, demostrando a estima do pesquisador pelo material, sem, contudo, que isso comprometa o rigor da pesquisa. “O desafio em trabalhar histórias em quadrinhos como fontes históricas é pensar a imagem junto ao texto, como analisar os dois juntos.” Não existe uma fórmula, indica Pedroso, e o que vale é a sensibilidade diante do material. “Tem momentos em que analisei mais o texto ou mais as imagens. Quando foi mais interessante, foquei mais na narrativa”, conta.

Entendemos que histórias em quadrinhos são meios de comunicação relevantes para a compreensão de como determinados autores, em diálogo com seu período histórico e social, elaboraram representações nas quais expunham suas opiniões políticas, sentimentos e valores morais. E, no caso específico de nossas fontes, indicam suas preocupações e prognósticos para o futuro."

Essas qualidades somam-se a uma linguagem clara e a um desenvolvimento textual bem organizado, que torna a leitura fluida mesmo para quem não é iniciado no mundo das HQs. Após uma introdução na qual apresenta o conceito de distopia e aborda o uso dos quadrinhos como fontes históricas, o autor dedica um capítulo para cada série, apresentando a biografia dos autores, dados do mercado de HQs dos EUA no período de produção das obras e uma análise detida das narrativas. Um capítulo de síntese e comparação encerra o volume.

Apesar da variedade temática, as três histórias compartilham similaridades não só quanto ao enfoque distópico, mas ao heroísmo nacionalista de seus personagens e ao comportamento que adotam. De acordo com Pedroso, os protagonistas atuam em um país desestruturado e caótico e todos são, de maneiras distintas, agentes das forças da lei e da ordem movidos pelo idealismo. Incorporando diferentes ideias dos EUA como um Estado-nação, eles são patriotas que reconhecem problemas graves na nação e tentam resolvê-los.

A página mostra a interferência da mídia na vida cotidiana das personagens; perguntas indiscretas e letreiros com conotação sexual fazem parte do noticiário - Imagem: Reprodução/"American Flagg!" via "Estados Distópicos da América: o Futuro dos EUA nas Histórias em Quadrinhos (1983-1999)"

Adotando o critério cronológico, Pedroso começa com American Flagg!, escrita e desenhada por Howard Chaykin e publicada originalmente pela pequena editora First Comics entre 1983 e 1989. A história da HQ acontece em 2031, quando o planeta Terra vive as consequências de um desastre nuclear e ambiental fruto da Guerra Fria. O governo dos Estados Unidos se transferiu para Marte, enquanto a URSS montou sua administração em solo lunar. Na Terra, o controle político foi entregue nas mãos de uma grande corporação, incumbida de reabilitar o planeta para que as duas superpotências possam retornar.

Essa corporação é a responsável por gerir grandes shopping centers onde vivem as elites, enquanto do lado de fora de suas paredes a violência das gangues em disputa pelo poder torna a vida extremamente perigosa. É nesse cenário que vive Reuben Flagg, uma mistura de policial e segurança de shopping, vindo de Marte após uma série de empregos mal-sucedidos e trazendo na bagagem uma visão idealizada dos Estados Unidos. Ao longo da série, Flagg vai percebendo e se indignando com as manipulações da corporação para manter o poder através do controle midiático, do medo, da violência e do estímulo ao consumo.

Os Estados Unidos apresentados por Chaykin são uma nação privatizada. É uma crítica ao poder das corporações e da mídia e ao neoliberalismo dos anos Reagan, quando o Estado passou a delegar a gestão de serviços e espaços para entes particulares e o individualismo e o consumo se tornaram o discurso de reconstrução de um país em crise. Segundo Pedroso, o autor inverte a retórica presidencial, mostrando um grande pessimismo e expondo como esse discurso, em vez de fazer “a América grande novamente”, slogan da campanha presidencial de Reagan, poderia levar os EUA a uma crise sem precedentes e a uma fragmentação política e social.

Marshal Law, por sua vez, é uma criação dos britânicos Pat Mills (roteiro) e Kevin O’Neill (arte), publicada entre 1987 e 1994 como minisséries e edições especiais por uma variedade de editoras: Epic Comics, selo da Marvel Comics, a britânica Apocalypse e Dark Horse Comics. O enredo se passa entre os anos 2020 e 2022, na cidade de San Francisco devastada por um terremoto e reconstruída com o nome de San Futuro.

Nesse cenário vive Joe Gilmore, um ex-combatente de um conflito continental na América Latina, uma espécie de versão ainda mais perversa da Guerra do Vietnã, no qual os Estados Unidos usaram pessoas com super-poderes, resultado de experimentos com drogas, na linha de frente. De volta aos EUA, Gilmore passou a trabalhar para a polícia como Marshal Law, caçando de maneira violenta outros ex-soldados, chamados de super-heróis, que agem de forma descontrolada nas ruas de San Futuro. Mais do que um trabalho, a ação do protagonista é encarada como uma missão para eliminar os traidores dos ideais da pátria.

Public Spirit expõe alguns de seus preconceitos enquanto luta contra Marshal Law - Imagem: Reprodução/"Marshal Law" via "Estados Distópicos da América: o Futuro dos EUA nas Histórias em Quadrinhos (1983-1999)"
Public Spirit expõe alguns de seus preconceitos enquanto luta contra Marshal Law - Imagem: Reprodução/"Marshal Law" via "Estados Distópicos da América: o Futuro dos EUA nas Histórias em Quadrinhos (1983-1999)"

A crítica dos autores aqui é aos super-heróis como um modelo estadunidense composto de uma idealização machista e conservadora. Para Mills e O’Neill, eles serviriam para incentivar os homens a seguir um determinado padrão de virilidade e força, reforçando o status quo. Modelos desse tipo abundaram na ficção dos EUA nos anos 1980, sendo talvez a série cinematográfica Rambo seu principal expoente. Caçando super-heróis caracterizados como sátiras de Superman, Batman e outros personagens da indústria dos quadrinhos, Marshal Law teria por função expor ao mundo a farsa dos próprios super-heróis, revelando que não há nada nobre ou moralmente digno neles.

Contudo, sendo ele mesmo um ser com superpoderes, Marshal Law é também outra faceta dos EUA. Atuando com agressividade, guiado por um código moral particular mas subordinado ao poder estabelecido – um Rambo de coleira, como é chamado nas HQs –, ele representa as contradições do país. Caçador e caçados são a imagem de uma nação violenta, guiada por ideias de justiça, liberdade, honra, ética e democracia que não fazem sentido. No contexto pós-Guerra Fria, os EUA de Marshal Law seriam os juízes, júris e executores mundiais.

A terceira obra estudada por Pedroso é a série Martha Washington, de Frank Miller (roteiro) e Dave Gibbons (desenhos), publicada pela Dark Horse Comics entre 1990 e 2007 em formato de minissérie e edições especiais. Os quadrinhos narram a história da protagonista desde seu nascimento até sua morte, cobrindo um período de cem anos entre 1995 e 2095. O contexto são os Estados Unidos hegemônicos mundialmente, mas abalados por disputas internas de poder.

Jovem negra que cresceu em uma espécie de gueto/campo de concentração, Marta se alista no exército para escapar de uma condenação e se revela uma excelente combatente em um país imperialista, governado por um presidente megalomaníaco e atravessado por guerras civis separatistas. Ao longo das histórias, ela passa de soldado a líder revolucionária empenhada em levar a liberdade não só para seu país, mas para todo o planeta e, depois, o universo.

O pesquisador entende que Martha Washington é uma obra complexa, com camadas de discursos muitas vezes contraditórios, ambíguos ou incompletos. Em uma primeira leitura, a HQ se revela como uma contribuição importante para a representatividade de gênero e raça nos quadrinhos. A protagonista não surge reduzida a um papel de submissão ou sexualização, como era a tônica na abordagem das mulheres no período. A trajetória de Martha mostra uma jovem negra, pobre e segregada que se torna sucessivamente soldado, revolucionária e exploradora espacial, sendo bem-sucedida em seus objetivos.

Contudo, Pedroso entende que essa discussão não é aprofundada pela HQ e o que surge de mais relevante em uma leitura atenta, na verdade, é a defesa de concepções conservadoras e liberais de heroísmo, patriotismo e individualismo. Debates sobre a luta por direitos civis e feminismo são deixados de lado em favor de tornar Martha Washington exemplo do poder do gênio individual, que vence por suas próprias forças e age motivado por ideais particulares. De soldado que cumpre ordens, ela se torna ao longo da série uma rebelde guiada por ideais utópicos de construção de um mundo melhor. E faz isso através de guerras, pautada em sua própria concepção de liberdade.

Capa da primeira edição de "Martha Washington", em imagem que remete à Estátua da Liberdade - Imagem: Reprodução/"Martha Washington" via "Estados Distópicos da América: o Futuro dos EUA nas Histórias em Quadrinhos (1983-1999)"
Martha encontra o Capitão Kurtz abraçado ao Sino da Liberdade: o personagem é uma clara referência ao personagem Capitão América e ao patriotismo estadunidense - Imagem: Reprodução/"Martha Washington" via "Estados Distópicos da América: o Futuro dos EUA nas Histórias em Quadrinhos (1983-1999)"

Partindo de enfoques distintos, as três obras trazem críticas à política e à sociedade estadunidense do período, aponta o estudo de Pedroso. Em American Flagg!, mais do que o perigo comunista, é o perigo consumista que ronda os EUA. Na ficção, a Guerra Fria não destruiu o planeta, mas resultou em desastres nucleares, sanitários e ambientais que deixaram um vazio de poder ocupado pelo consumo.

Nesse contexto, Reuben Flagg surge como um personagem idealizado, vivendo em um mundo no qual os valores em que acredita não existem mais. Em sua jornada, ele tenta restaurá-los, sem sucesso, o que apontaria para a ineficácia do idealismo. “Eu entendo o personagem como uma representação do Partido Democrata dos EUA da época”, analisa o autor. “Eles estavam tentando combater o discurso de Reagan, mas não estavam preparados para a realidade e, por isso, assim como Flagg, fracassaram. Essa idealização excessiva da pátria e da nação já não funcionaria mais para o século que se abria.”

Já em Marshal Law, apesar de terem vencido o conflito com os soviéticos, os EUA pagaram o custo alto de embarcar numa crise que obrigou o país a agir de maneira violenta e arbitrária contra tudo e contra todos. Posando de herói, os Estados Unidos de Marshal Law são apenas um policial mundial violento. Na obra, o predomínio é de um discurso antipatriótico, na conclusão do pesquisador.

“Marshal Law usa as cores da bandeira dos EUA, mas ele é apresentado como um negação do país. Os autores veem que o futuro dos Estados Unidos é o do patriotismo superpolicial, extremamente violento e que está aí para colocar ordem no mundo. O personagem representa justamente a postura que os EUA adotaram depois da Guerra Fria.”

Em American Flagg! Howard Chaykin está dando um grande aviso de incêndio. Ele está alertando seus leitores para o perigo da onda de privatizações que foram promovidas pelo governo de Ronald Reagan.”

Martha Washington, por sua vez, escrita após o colapso da URSS, mostra os EUA triunfantes mundialmente, mas bombardeados por inimigos internos. Assim, aponta o pesquisador, a mensagem seria que poder militar e econômico não são suficientes, mas que só uma orientação ética e moral faria o país se tornar uma verdadeira potência.

Esse é o campo do patriotismo idealizado, aponta Pedroso. “A protagonista é uma mulher negra e pobre que consegue ascender e tomar o poder praticamente sozinha. É uma representação desses ideais de individualidade e liberdade dos EUA”, afirma o pesquisador. Ideais que também precisam ser exportados para o mundo. “Martha Washington toma o poder e tem intenções de expandir o projeto de nação que criou para outros lugares. Não há crítica da ação imperialista. Ela é, na verdade, reforçada e aparece como solução para o mundo”.

Nessas versões de idealismo e patriotismo, entram em cena concepções arraigadas no imaginário estadunidense, os mitos que sustentam a nação, sublinha Pedroso. Um deles é a crença no excepcionalismo dos EUA, a ideia de que os estadunidenses são um povo escolhido por Deus, com um destino manifesto de levar suas noções de democracia e liberdade para o mundo. “É a ideia de que eles seriam um povo eleito por Deus para criar o paraíso na Terra.”

Martha Washington abraça essa visão, mas os outros trabalhos revelam olhares mais críticos. O pesquisador vê a decepção com os mitos nacionais em American Flagg!, a constatação de que eles não funcionam mais. Em Marshal Law, a crítica já é mais pesada e toda a ideia de excepcionalismo é desmontada pelos autores britânicos. “Isso seria pura hipocrisia e retórica para justificar ações imperialistas, promoções de guerras e apoio às ditaduras”, destaca Pedroso.

As obras se revelam como três comentários distintos, afinal, que tentam dar conta das contradições entre práticas e discursos da nação mais poderosa do globo no crepúsculo do século 20. Em comum, a imaginação de um futuro sombrio. Em debate, as soluções para uma aurora mais brilhante. “Martha Washington mostra que o patriotismo é a solução para o problemas. Já Reuben Flagg é mais cético e indica que muita idealização não resolve nada. Marshal Law, por fim, indica que o patriotismo é, na verdade, um gerador de problemas”, afirma Pedroso.

Estados Distópicos da América: o Futuro dos EUA nas Histórias em Quadrinhos (1983-1999), de Rodrigo Aparecido de Araújo Pedroso, 270 páginas, Editora CRV, R$ 85,15

Capa do livro recém-lançado de Rodrigo Pedroso - Imagem: Reprodução
Capa do livro recém-lançado de Rodrigo Pedroso - Imagem: Reprodução

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