O concerto Improvisação x Estrutura marcará a estreia de Ricardo Bologna, professor do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, como regente e diretor artístico da Orquestra da Câmara (Ocam) da ECA. “Eu me sinto muito grato por assumir a orquestra. É um desafio profissional muito interessante, além de uma oportunidade de poder trabalhar com músicos jovens e de ter tanta liberdade artística”, disse Ricardo Bologna ao Jornal da USP. As apresentações de estreia ocorrerão em duas datas: neste sábado, dia 20, às 16 horas, no Centro Cultural Camargo Guarnieri da USP, na Cidade Universitária, e neste domingo, dia 21, às 11 horas, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.
O concerto será composto de três peças, que remetem ao título Improvisação x Estrutura de diferentes formas e proporcionam uma experiência conceitual ao espectador, buscando imergir a audiência em suas contradições, ao mesmo tempo em que mostram que é do improviso que, muitas vezes, se obtém a ordem, como explica Bologna. O regente afirma que Prélude à l’après-midi d’un Faune (Prelúdio à Tarde de um Fauno, 1891-94), do compositor francês Claude Debussy (1862-1918) — a primeira peça a ser apresentada no concerto —, faz parte do movimento impressionista, trazendo o conceito da distorção com sons que não são nítidos e que fogem da concepção tradicional de uma ‘melodia clara’. Já a segunda peça, Who Cares if She Cries (2005), da carioca Jocy de Oliveira (1936), apresenta um conceito mais humano, representando o sofrimento e melancolia da mulher ao longo da história através de trechos de óperas famosas, mas com timbre alterado — improvisado, assim como o tempo da música, segundo o novo regente —, e contará com a participação da soprano Laiana Oliveira, integrante do Ensemble Jocy de Oliveira.
Para fechar o concerto, a Ocam apresentará a Sinfonia nº 5 em Dó menor, Op. 67 (1807-08), de Ludwig van Beethoven (1770-1827) — o “canônico”, como chama Bologna. “Assim como muitas de suas obras, essa composição surgiu a partir do improviso de Beethoven no piano. Ela vai da angústia ao triunfo, assim como a própria vida do artista, sobretudo levando em consideração sua perda progressiva de audição, que se iniciou muito antes de compor a Quinta Sinfonia. Ela termina triunfal porque, no final das contas, ele era um otimista”, explica o regente. “Não é uma música programática no sentido de contar uma história. Ela não conta uma história, mas sim um percurso psicológico, de certa forma. É a narrativa de uma pessoa que sofria bastante e que de alguma forma consegue ter o triunfo final. A composição traz a temática da superação face às adversidades, assim como a segunda peça, mas sob uma ótica mais ampla”. O evento prevê ainda uma fala da professora Susana Cecilia Igayara-Souza, também do Departamento de Música da ECA.
Bologna assume os cargos neste final de semana, dando continuidade à Temporada 2024 – Encruzilhadas, iniciada por seu antecessor, o maestro Gil Jardim. Ele fala sobre a importância do cargo no estágio atual de sua carreira: “A Ocam é uma orquestra que já tem uma certa tradição e reconhecimento, é referência de orquestra jovem dentro e fora da comunidade universitária. Mesmo assim, ela não é tão presa a determinados dogmas da música clássica, e a liberdade artística que isso permite me atraiu muito. Eu sempre tive contato com a orquestra, não apenas por ser professor de percussão na ECA desde 2007, mas também já toquei como solista convidado e atuei como regente uma vez. Então, essa oportunidade é muito importante para mim”.
Uma vez empossado, Bologna planeja ampliar o trabalho que tem feito ao longo dos anos. “Minha ideia principal é focar não só na elaboração de concertos, mas na escolha de repertórios e na própria maneira como a orquestra toca, com o intuito de ampliar seus trabalhos e conquistar cada vez mais público, dentro e fora da Universidade”, conta. Para além das mudanças no repertório pré-estabelecido da temporada, feitas em função de sua chegada, Bologna pretende ousar mais, “não apenas no nível do repertório clássico, mas também no repertório moderno, contemporâneo e popular. Queremos intensificar essa interface entre o popular e o erudito, que é algo que a orquestra sempre fez”, diz.
O concerto Improvisação X Estrutura, da Orquestra de Câmara (Ocam) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, acontece neste sábado, dia 20, às 16 horas, no Centro Cultural Camargo Guarnieri (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, em São Paulo) e neste domingo, dia 21, às 11 horas, no Instituto Tomie Ohtake (Rua Coropé, 88, Pinheiros, em São Paulo, próximo à estação Pinheiros do Metrô). A entrada é grátis nos dois dias. No concerto do dia 20, o ingresso deve ser retirado no site do evento e requer a doação de 1 quilo de alimento não perecível, que será distribuído a comunidades indígenas. |
*Estagiária sob supervisão de Marcello Rollemberg e Roberto C. G. Castro