“Revista USP” debate integração da América Latina

Primeira edição de 2023 traz reflexões sobre desenvolvimento de países latino-americanos

 20/04/2023 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 19/06/2024 às 15:33
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Capa da Revista USP, número 136, que já pode ser acessada gratuitamente na internet – Foto: Reprodução

 

Já está disponível na internet a nova edição da Revista USP. Publicada pela Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP, a nova edição – de número 136 – traz o dossiê Integração Latino-Americana: Questões de Soberania, Geopolítica, Cultura, Democracia, Direitos Humanos e Muito Mais, que inclui sete ensaios de especialistas do Brasil e do México sobre diferentes aspectos ligados à América Latina. A íntegra da revista pode ser acessada gratuitamente no site do Jornal da USP (clique aqui).

“Trata-se de um momento adequado para debater um projeto que nasceu com as independências e do qual esperou-se sempre mais do que fluxos regulares de comércio”, escrevem, na Apresentação, os dois coordenadores do dossiê, os professores Rafael Duarte Villa, do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e Alexandre Ganan de Brites Figueiredo, do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (Prolam), também da USP. “Os textos trazem questões históricas, políticas, econômicas, culturais, identitárias, institucionais e técnicas do problema. Mas, para além disso, após a leitura de todos os artigos conclui-se que é consensual a percepção de que o tema integração da América Latina deva voltar a ocupar um espaço central nas articulações regionais”, acrescentam.

Essa ampla discussão sobre o continente citada pelos coordenadores começa com o artigo A integração latino-americana: da identidade à estrutura econômica, que abre a série de textos com a proposta de analisar a evolução do conceito de “América Latina”, desde o surgimento do conceito, na segunda metade do século 19, até o estabelecimento da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), em 1948. No texto, assinado por Alexandre Ganan Figueiredo e pelos professores Amaury Patrick Gremaud e Márcio Bobik Braga – ambos do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da USP e do Prolam-, os autores destacam como a ideia de América Latina, que partiu de uma identidade cultural continental, se transformou em um projeto político e econômico, sobretudo no período pós-guerra, quando os processos industriais se fortaleceram na economia. “Com todas as limitações que esse termo, ‘latina’, possa comportar, é certamente um bem-sucedido caso de nacionalismo continental que abarca, em sua conceituação, muito mais do que a limitação do termo indica”, destacam.

Em seguida, o artigo Centros-que-têm-periferias e periferias-que-têm-centros: Raúl Prebisch, de autoria do professor Carlos Mallorquin, da Universidade Autônoma de Zacatecas, no México, analisa de maneira crítica o conceito de “excedente” desenvolvido pelo economista argentino Raúl Prebisch, que foi secretário-executivo da Cepal entre 1950 e 1963. Mallorquin compara a definição dada por Prebisch – que considerava o excedente como “parte dos aumentos de produtividade que, por não ser transferida para a grande massa da força de trabalho, devido à heterogeneidade da estrutura social, é apropriada principalmente pelos estratos superiores da primeira, que concentram a maior parte dos meios produtivos” – com a ideia de mais-valia empregada pelo pensador alemão Karl Marx (1818-1883). Ao fazer isso, o professor elenca e contesta os diferentes sentidos que as ideias do argentino adquiriram no contexto da industrialização do século 20.

Já a diversidade histórica, cultural e geopolítica da América Latina é explorada pelo professor Júlio César Suzuki, do Departamento de Geografia da FFLCH e do Prolam, no artigo Em busca da integração latino-americana: reflexão sobre rural, urbano, litoral, sertão, modo de vida e populações tradicionais. A análise interdisciplinar é valorizada pelo autor ao demarcar as diferenças e os conflitos entre o cenário rural e o urbano, o sertão e o litoral, o campo e a cidade. Para isso, Suzuki foca as populações tradicionais da sociedade brasileira e a importância da manutenção da variedade cultural e histórica em um sistema dominado pelas lógicas do capitalismo.

Em Uma revisão dos modelos de integração da América Latina: o caso da Aliança do Pacífico, a pesquisadora María del Pilar Ostos Cetina e o pesquisador Emilio Vizarretea Rosales, do Centro de Estudos Superiores Navais da Secretaria de Marinha Armada do México, citam as intenções de líderes latino-americanos de integrar o continente desde o final do século 18 até hoje, com a Aliança do Pacífico, estabelecida em 2012, com a participação de Chile, México, Colômbia e Peru. “A história da integração latino-americana ainda tem um longo caminho a percorrer, antes de se consolidar como um verdadeiro bloco geopolítico e geoestratégico, o que se limita estritamente a um nível de cooperação que, normalmente, funciona para atender às tensões que derivam das recorrentes crises locais que se apresentam em toda a região”, escrevem María del Pilar e Rosales. “No que diz respeito à Aliança do Pacífico, que surgiu como um projeto de longo alcance, com uma perspectiva geopolítica há dez anos da sua fundação, é possível concluir que ela ainda não conseguiu consolidar-se como uma zona de interesse geral que favoreça toda a América Latina e o Caribe, juntamente com um traçado concreto de gestão comercial e de negócios com o conjunto dos países observadores, em um cenário afetado pelo clima de tensão que se mantém entre as duas potências: a China e os Estados Unidos.”

A geopolítica da Amazônia e a integração latino-americana é o tema do artigo escrito pelas pesquisadoras Ticiana de Oliveira Alvares, Beatriz Sakuma Narita e Marcela Cardoso Rodrigues, doutorandas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), USP e Universidade de Brasília (UnB), respectivamente. Nele, as autoras avaliam o potencial de soberania que o bioma oferece para o Brasil e para os demais países da região. “O fortalecimento da cooperação e da integração dos países da Pan-Amazônia, caso seja conduzida a partir de princípios da economia verde e valorizando os ativos ambientais presentes na floresta, pode consolidar uma nova forma de a região se colocar no sistema internacional, além de auxiliar na superação da condição de subdesenvolvimento à qual os seus países foram historicamente submetidos”, escrevem as pesquisadoras, alertando que, sem uma integração efetiva entre aqueles países, a dependência deles em relação a países como Estados Unidos, China e membros da União Europeia pode aumentar.

Completam o dossiê os artigos A retomada da integração regional à luz da liderança internacional do Brasil, da professora Janina Onuki, do Departamento de Ciência Política da FFLCH, e A América do Sul no tempo do Bicentenário da Independência do Brasil: revitalização da Unasul e reconstrução da integração regional, de Pedro Silva Barros, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e ex-diretor de Assuntos Econômicos da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

Além do dossiê Integração Latino-Americana, a nova edição da Revista USP apresenta outras três seções, tradicionais em suas páginas: Textos, Arte e Livros. Em Textos, a publicação traz um ensaio do professor da FFLCH Marcus Mazzari sobre o escritor suíço Jeremias Gotthelf (1797-1854) – do qual é tradutor e introdutor no Brasil – e o artigo Emergência do discurso da universidade empreendedora: breves notas críticas, do professor Carlos Benedito Martins, do Departamento de Sociologia da UnB. Na seção Arte, os professores Atilio Avancini e Wagner Souza e Silva, ambos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, comentam a exposição fotográfica Amazônia, de Sebastião Salgado. Em Livros, finalmente, o pesquisador Joel Rosa de Almeida, doutorando da FFLCH, faz resenha do livro À Procura da Própria Coisa: Uma Biografia de Clarice Lispector, de Teresa Montero, publicado em 2021 pela Editora Rocco, do Rio de Janeiro, com 768 páginas.

Revista USP, número 136, publicação da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP (telefone 11 3091-4403). A publicação está disponível na íntegra, gratuitamente, no site do Jornal da USP.


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