Surgida no ano 2000, a revista Teresa – publicada pela área de Literatura Brasileira do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas (FFLCH) da USP – ajudou a difundir e popularizar várias pesquisas sobre literatura no Brasil. E a originalidade de seu conteúdo foi um ponto essencial, capaz de propor debates que efetivamente contribuíram para a área. Completando 20 anos em 2020, a revista mostra o quanto evoluiu durante esse período: em sua nova edição, a de número 20, ela inaugura projeto gráfico de André Stefani e homenageia o intelectual austríaco naturalizado brasileiro Otto Maria Carpeaux (1900-1978). Teresa está disponível na íntegra, gratuitamente, no Portal de Revistas da USP.
Os primeiros números da publicação tinham o design assinado por Elaine Ramos, eram impressos e exibiam intervenções exclusivas de artistas plásticos como Tunga e Célia Euvaldo. A partir da edição 14, a revista precisou migrar para o formato digital e acabou sofrendo com os padrões impostos às publicações acadêmicas na época. O novo projeto pretende entrar em contato com a proposta original ao mesmo tempo em que explora as possibilidades encontradas no meio digital.
Para isso, André Stefani aposta no clássico preto e branco, num design moderno que consegue ornar com o conteúdo da publicação. “Todas as questões gráficas foram pensadas em diálogo com o projeto e a história cultural da revista”, aponta o editorial da nova edição, assinado pelos professores André Luis Rodrigues, Augusto Massi, Erwin Torralbo Gimenez e Guilherme Mazzafera Vilhena. A volta das poesias inéditas é outro marco desta edição, que traz os poemas Angular e Coração-Colônia, de Bruna Beber, além de Então, e Cinema e Calendário, de Júlio Castañon Guimarães.
Mas o grande marco do número 20 de Teresa é mesmo a homenagem a Otto Maria Carpeaux, que emigrou para o Brasil 80 anos atrás fugindo do nazismo. “Nosso maior desafio não era simplesmente colocá-lo na pauta do dia, mas, partindo da contribuição de um intelectual da envergadura e da coragem de Carpeaux, repensar o lugar da crítica universitária no cenário político atual”, afirma o editorial. Nesse sentido, os editores tiveram um árduo trabalho de investigação para localizar textos raros e inéditos do pensador. É o caso de Aspectos Sociais da História Literária Brasileira (1943) e Contos de Machado de Assis (1972), que abrem a revista.
A primeira parte da publicação, intitulada Machadiana, é concluída com uma reflexão de Erwin Torralbo Gimenez, que discute a dialética entre estilo e sociedade presente tanto na obra de Machado como na de Carpeaux. A seção seguinte, Retratos e Leituras, apresenta um dossiê com dez textos de especialistas na obra do intelectual. Entre eles está Mauro Souza Ventura, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que além do próprio ensaio, O Jornalismo Político-Ideológico de Otto Karpfen, também permitiu a publicação de dois outros artigos de Carpeaux, material inédito de sua pesquisa.
História da Literatura Ocidental: Gênese, Fundamentos e Peculiaridades, de Roberto Acízelo, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Para Além da Erudição e do Método: Álvaro Lins e Carpeaux, de Eduardo Cesar Maia, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e Em Movimento: Carpeaux e a Última Ditadura Militar Brasileira, de Eduardo Gomes Silva, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), são outros textos presentes na revista que tratam da extensa contribuição do intelectual. “Para além de contemplar os diversos campos de interesse e disciplinas do conhecimento que o mobilizaram, procuramos cobrir o arco de sua militância crítica”, reitera o editorial.
Também chama atenção a grande quantidade de cartas, dedicatórias e fotos presentes na publicação, fruto de extensa pesquisa iconográfica. A doutora e pós-doutora pela USP Silvana Moreli Vicente Dias, por exemplo, analisou a correspondência entre Carpeaux e Gilberto Freyre. A instigante carta entre o intelectual e Carlos Drummond de Andrade, por sua vez, foi objeto de análise de Vagner Camilo e Fabio Cesar Alves, ambos professores da USP. “Este número da Teresa perseguiu certa organicidade, mimetizando a trajetória intelectual de Otto Maria Carpeaux, desde seus primeiros contatos com a literatura brasileira até os anos dedicados à militância política”, afirma também o editorial.
A revista ainda conta com uma seção de ensaísmo livre e de fôlego, Página aberta, ocupada pelo trabalho de João Roberto Faria, da USP, intitulado Teatro e Abolição: A Cabana do Pai Tomás nos Palcos Brasileiros. Nas últimas páginas, Teresa dedica espaço a resenhas dos livros Perdas e Ganhos, de Peter Burke, Antonio Candido 100 anos, organizado por Maria Augusta da Fonseca e Roberto Schwarz, Pequenas Ficções de Memória, de Zainne Lima da Silva, e A Biblioteca Elementar, de Albert Mussa.
A revista Teresa está disponível no Portal de Revistas da USP.