O Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP – Foto: Marcos Santos /USP Imagens

Museu de Arte Contemporânea elege nova diretoria nesta terça-feira, dia 9

Duas chapas participam do pleito, que tem colégio eleitoral especialmente organizado para esse fim

08/06/2020
Por Leila Kiyomura 

O Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, em 57 anos de história, conquistou uma importância singular no cenário nacional e internacional da cultura contemporânea. O seu acervo, com cerca de 10 mil obras, integrado por artistas do Brasil e de outros países si, sintetiza os movimentos da arte do século 20 até os dias de hoje.

De Walter Zanini, seu primeiro diretor, que assumiu em pleno golpe militar, até a atual gestão do professor Carlos Ferreira Brandão e da vice-diretora, professora Ana Gonçalves Magalhães, o museu sempre teve à frente estudiosos e pesquisadores que enfrentaram dificuldades sociais, econômicas e políticas para investir na cultura com pensamento crítico, pesquisa, ensino, formação e extensão universitária.

Nesta terça-feira, dia 9, o MAC elege a sua nova diretoria para o período de 2020 a 2024, em substituição à gestão atual, que encerra o mandato em 13 de julho próximo. As duas chapas credenciadas para concorrer são encabeçadas pelas professoras Ana Gonçalves Magalhães, do MAC, como diretora, e Marta Vieira Bogéa, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, na função de vice-diretora, e pelos professores Martin Grossmann, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, e Maurício Pietrocola Pinto de Oliveira, da Faculdade de Educação da USP. A eleição  será realizada por colégio eleitoral especialmente composto para esse fim, com divulgação do resultado no próximo dia 15 de junho.

O Jornal da USP ouviu as propostas das duas chapas credenciadas, destacando os desafios e as propostas dos candidatos para o futuro do MAC. Os projetos na íntegra podem ser conferidos no site do MAC USP no link abaixo.

“A força do MAC está no seu amplo diálogo com as várias áreas da própria Universidade e em poder ser uma porta aberta da USP para a sociedade, e vice-versa.”

Ana Gonçalves Magalhães é professora no MAC desde 2008 e atua também como vice-diretora. A sua experiência e conhecimento no dia a dia do museu está na elaboração do projeto de gestão de 2020-2024 como diretora. “No meu entender, o futuro do MAC está na sua consolidação e ampliação de suas atividades como um museu universitário de arte, ou seja, ele não é simplesmente mais um museu de arte da cidade de São Paulo: ele deve se manter como um espaço de reflexão crítica, formação e fomento à produção artística”, observa. “O MAC deve ser um museu-laboratório para a educação em vários níveis, desde o público em geral, através de seus programas educativos e de extensão, até a formação de profissionais e pesquisadores na área de artes. Além disso, a força do MAC está no seu amplo diálogo com as várias áreas da própria Universidade e poder ser uma porta aberta da USP para a sociedade, e vice-versa.”

Ana Magalhães é vice-diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Ana fez doutorado no Departamento de Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes da USP, de 1996 a 2000, com a orientação de Walter Zanini, referência importante para o conhecimento da trajetória e das metas do MAC. “Em 2023, o Museu de Arte Contemporânea da USP completa 60 anos. Em suas seis décadas de existência, e agora em uma sede única que tem visto o crescimento significativo da visitação pública a suas exposições e demais atividades de pesquisa e extensão, ele é uma instituição histórica, com uma grande contribuição para o conhecimento e a divulgação das artes visuais dos séculos 20 e 21”, salienta a professora em seu plano de gestão. “Museu público, de acesso gratuito, o MAC é um espaço consolidado de produção de conhecimento e reflexão crítica, com grande potencial de ser uma porta aberta da Universidade à comunidade.”

Em 2019, segundo a professora, foram registrados quase 400 mil visitantes. “Também observamos que o público do MAC se diversificou e ele tem um papel muito importante hoje na integração das instituições culturais instaladas no Parque Ibirapuera. A requalificação de todo o entorno do prédio é uma realidade e a cidade de São Paulo ganhou mais este espaço de acolhimento às atividades culturais.”

Ana destaca que o fato de o MAC ser um museu universitário o diferencia na arte e na cultura. “Nossa responsabilidade maior é com a formação em vários níveis e como espaço de reflexão crítica e fomento à produção artística. Por sermos um museu universitário, nosso colecionismo, nosso programa de exposições e os temas que nos interessam são orientados pela pesquisa acadêmica de ponta e pelo entendimento da arte no sentido mais amplo como forma de produção de conhecimento. Assim, operamos dentro de uma autonomia em relação à indústria cultural. Como museu-laboratório, temos um papel relevante na investigação de novas práticas artísticas e na promoção de artistas que atuam fora do sistema da arte ou das megaexposições.”

A nova gestão, segundo Ana, tem dois desafios a enfrentar depois da pandemia de covid-19. “O maior deles será, sem dúvida, garantir que o MAC possa acolher seu público de forma segura e, ao mesmo tempo, manter as várias frentes de trabalho que já começamos a abrir no mundo digital. Esse é um ponto importante de relacionamento do museu com seu público”, afirma. “Mas o maior desafio que o MAC enfrentará diz respeito aos recursos que ele demanda para a plena realização de suas atividades-fim. Temos alguns pontos ainda a serem sanados em relação à sua manutenção predial: por exemplo, a finalização das obras de adequação das reservas técnicas definitivas de seu acervo artístico na nova sede e a instalação de uma zeladoria especializada em um prédio bastante complexo do ponto de vista de seus sistemas de automação e segurança. E um ponto importante será a retomada do Anexo de Exposição do prédio, depois de uma reforma do piso e da implantação de um programa de exposições que, em nossa intenção, deverá envolver exposições, mas também um programa de residência artística que se desdobre em seminários e cursos, de modo a estender as questões suscitadas pelas exposições ao longo do tempo. Nesse sentido, pretendemos reinaugurar esse espaço com a exposição Regina Silveira: Outros Paradoxos – Uma Retrospectiva do Trabalho da Artista, idealizada para recepcionar uma grande doação que Regina Silveira fez ao museu ainda em 2018, e que ao mesmo tempo foi selecionada para ser uma das exposições-parceria da Bienal de São Paulo.”

Legenda

“O museu precisa se abrir não só para a cidade, como para a universidade e também para a virtualidade. Tornar-se uma interface, um atrator, alimentado pelos conhecimentos e práticas que só uma Universidade como a USP é capaz de fornecer.”

“Por que um ‘culturador’ professor titular da Escola de Comunicações e Artes, com significativa experiência em gestão cultural e acadêmica, se junta a outro professor titular da Faculdade de Educação, com sólida formação científica da área da física, especializado em epistemologia e história da ciência, bem como no desenvolvimento de estratégias inovadoras no ensino de ciência, com o intuito de assumirem a gestão do MAC nos próximos quatro anos?”, questionam os candidatos à direção do museu, Martin Grossmann, e o vice na sua chapa, Maurício Pietrocola Pinto de Oliveira. Eles próprios respondem: “Porque entendemos que o museu precisa se abrir não só para a cidade como para a Universidade e também para a virtualidade. Tornar-se uma interface, um atrator, alimentado pelos conhecimentos e práticas que só uma Universidade como a USP é capaz de fornecer”.

Martin Grossmann é professor titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

No projeto de gestão do MAC, no período de 2020-2024, os professores destacam a importância de potencializar o encontro, o intercâmbio, o diálogo entre diferentes saberes, vivências e tecnologias, por meio de projetos experimentais, ousados, originais, contextuais, criativos, para o benefício e a motivação de seu corpo técnico e funcional, para a comunidade uspiana e, principalmente, para os seus visitantes, na fisicalidade e na virtualidade. “O MAC precisa  criar sentido não só para as suas áreas específicas e correlatas como para outras áreas de conhecimento da Universidade. Inspirados pela atuação e natureza de um Instituto de Estudos Avançados (IEA), entendemos que é preciso investir em processos interdisciplinares que almejam a transdisciplinaridade, em projetos que considerem a potência e a riqueza de encontros dos vários saberes e práticas que perfazem uma Universidade do porte e importância que é a USP.”

Grossmann atuou como vice-diretor do MAC de 1998 a 2002. A experiência e a maturidade em vários setores culturais e, mais recentemente, como diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP motivam o seu interesse de voltar a integrar o museu. “Propomos portanto, um projeto coletivo, colaborativo, que considere de fato o MAC como museu de arte contemporânea de uma Universidade, ou seja, que não só represente o campo das artes visuais, mas a potência da interdisciplinaridade de uma Universidade plural, que reúne praticamente todos os campos do conhecimento.”

O projeto, segundo descreve o professor, envolve um programa ambicioso, cuja centralidade será uma exposição temática de grande porte, que terá a coleção do museu como referência central. “Essa exposição não só vai mostrar as obras da coleção do MAC como possibilitará, por meio da tecnologia digital e analógica, uma experiência única de conhecimento e fruição, uma combinatória de narrativas interdisciplinares e multimídia da arte e da ciência que buscará estimular experiências transdisciplinares, estéticas e até de deslumbre no interior do museu, bem como em qualquer lugar no mundo, uma vez que a exposição será planejada para operar tanto física como virtualmente, abarcando o local e o global.”

MAC Ibirapuera – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A atuação do MAC depois da pandemia é um dos desafios da nova gestão. “Nesse caso, a metáfora da borboleta é importante. Estamos todos em nossos casulos, o MAC também passa por um momento de transição de gestão. Nos últimos anos, boa parte da energia foi gasta na adequação do museu ao novo edifício modernista de Oscar Niemeyer, que tem suas limitações, mas é incrível.” Grossmann comenta a boa localização e presença do museu na região do Ibirapuera “A questão administrativa foi readequada. O museu voltou a ter a sua autonomia, a desenvolver atividades de extensão cultural. Mas a ideia agora é de nutrir a lagarta que está dentro do casulo para que possa adquirir asas e voar. Então, o projeto que temos para o MAC possui uma base utópica, num momento da civilização que é distópico e surreal, diante da pandemia e de um governo que não tem humanidade com as mortes que acontecem diariamente, com uma situação do mundo que necessita de solidariedade, de compaixão. Acreditamos que o museu pode auxiliar as pessoas a imaginar possíveis futuros. É preciso trabalhar o museu de forma racional, como lugar do conhecimento e também da criatividade. A crise é geral, mas neste momento de introspecção, de reflexão, é importante imaginar que podemos adquirir asas e voar. Entendemos que isso é possível com o encontro de arte, ciência e cultura.”

O MAC está no cotidiano da cidade

Na gestão de Carlos Roberto Ferreira Brandão, o público acompanhou de perto as atividades de arte e cultura

Carlos Roberto Ferreira Brandão, diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

O atual diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, Carlos Roberto Ferreira Brandão, completa a sua gestão no próximo dia 13 de julho. Em um rápido balanço dos quatro anos à frente do MAC, o professor destaca: “Quando assumimos a direção, a instituição passava por um período de exceção, sob intervenção da Reitoria. A partir da posse, as competências retornaram ao museu e teve início um trabalho de recomposição da administração e organização das equipes responsáveis pelos setores que compõem o museu.”

O professor assinala que contou com o apoio das equipes de forma participativa e dos planos acadêmicos desenvolvidos pelos docentes e funcionários. “As novas rotinas que adotamos possibilitaram cumprir com maior eficiência o fluxo de ações necessárias para a montagem de exposições de longa duração, ora em exibição, e as temporárias, que se sucedem segundo cronograma próprio”, assinala. “O MAC publicou também seu primeiro edital para três exposições temporárias com curadoria externa, que se pretende que seja anual.”

Na gestão de Brandão, o museu participou de diversas exposições no Brasil e no exterior, emprestando obras e colaborando na curadoria. “Consolidamos assim a inserção do MAC no panorama da arte contemporânea nacional e internacional”, diz, com orgulho. “O papel do MAC na pesquisa acadêmica continua sólido, com a aprovação pela Fapesp do primeiro projeto temático coordenado por docente do MAC, envolvendo os quatro museus estatutários da USP e outros instituições. Importante destacar também as exposições que são fruto da pesquisa, reforçando a natureza de museu universitário do MAC.”

No decorrer da atual gestão, o MAC recebeu e negociou importantes doações que vêm enriquecendo o acervo segundo parâmetros aprovados pela política institucional. Segundo o professor, foram realizadas ainda diversas pequenas reformas necessárias para consolidar o museu que hoje ocupa o edifício histórico projetado por Oscar Niemeyer, com cerca de 35 mil metros quadrados, no bairro do Ibirapuera, na zona sul paulistana. “Resta finalizar esse conjunto de adequações para que o MAC utilize na sua totalidade o edifício que o abriga, e com a segurança necessária para as obras, para os públicos interno e externo. Inauguramos ainda espaço nas Colmeias do campus do Butantã, que permitirá ampliar nosso atendimento também na Cidade Universitária. “

Todas essas atividades resultaram em expressivo aumento de público, de 150 mil visitantes, em 2016, para 180 mil em 2017, 250 mil em 2018 e 390 mil em 2019. No período de pandemia, o MAC ampliou e marcou presença nas redes sociais, aumentando ainda mais sua visibilidade.

À atual gestão coube organizar o processo eleitoral para a escolha da direção que tomará posse em julho, a fim de cumprir mandato até julho de 2024.