MAC promove encontro com Gilbertto Prado

Artista conversa com o público sobre arte contemporânea no dia 7 de agosto, terça-feira, às 19 horas

 03/08/2018 - Publicado há 6 anos
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Desertesejo, um ambiente virtual de Gilbertto Prado – Foto: Divulgação

O artista plástico Gilbertto Prado, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – Foto: Acervo pessoal

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 evento O MAC Encontra os Artistas continua na próxima terça-feira, dia 7, às 19 horas, com Gilbertto Prado, artista e professor do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Desde maio deste ano, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP está organizando encontros com artistas autores de obras presentes em seu acervo, que vêm atraindo estudantes, pesquisadores e jovens artistas.

Gilbertto Prado é um dos dez artistas convidados. Os encontros acontecem na primeira terça-feira do mês letivo. Começaram com Giselle Beiguelman e Regina Silveira. Estão previstas conversas com Evandro Carlos Jardim, Celina Yamauchi e Caciporé Torres. “Na verdade, esse programa começou em 2010 e se estendeu até 2014, com uma boa repercussão”, conta a professora e curadora Ana Magalhães. “Agora, em um novo formato, foram selecionados artistas para que falem sobre a sua trajetória e também sobre suas obras que estão integradas no acervo do MAC.”

Prado é um pesquisador em arte multimídia, fez uma doação recente de várias obras para o museu, impulsionando com Giselle Beiguelman uma nova frente de colecionismo no MAC. Um dos trabalhos está em exposição agora na atual mostra Paradoxos da Arte Contemporânea: Diálogos entre os Acervos do MAC USP e do Paço das Artes. Trata-se do ambiente virtual/videogame Desertesejo.

Projeto Encontros, 2012, de Gilbertto Prado – Foto: Divulgação

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“Até agora, há uma espécie de campo crítico à parte que trata de arte digital. Porém, artistas que atuam com ferramentas virtuais, o ambiente da internet, aparelhos celulares etc. já têm uma história para contar de pelo menos 30 anos”, observa Ana. “Na última década, houve uma aproximação maior do museu de arte a essas produções, que agora passam a fazer parte de coleções permanentes e geram discussões sobre como preservá-las para o futuro. Essas proposições, a meu ver, abrem outra possibilidade de diálogo com o público de arte contemporânea, pois demandam outro tipo de interação e parecem se aproximar do cotidiano das pessoas.”

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O diálogo é essencial, pois traz distintas explorações poéticas, reflexões e perspectivas de nossa contemporaneidade.

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Desertesejo, 2014, de Gilbertto Prado – Foto: Divulgação

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Gilbertto Prado, paulista de Santos, falou com o Jornal da USP sobre a sua trajetória como artista e professor. Também destacou a importância de estar participando do encontro no MAC. Leia a seguir trechos dessa conversa.

Jornal da USP – Como o senhor vê a iniciativa do MAC de aproximar o artista do público?
Gilbertto PradoÉ muito importante por contribuir para a ampliação do debate em torno da produção artística contemporânea brasileira. O diálogo é essencial, pois traz distintas explorações poéticas, reflexões e perspectivas de nossa contemporaneidade, nos ajudando a melhor entender os processos de trabalho e de criação artística.

JU – Sabemos que a conversa vai acontecendo de acordo com o interesse dos participantes, mas o que o senhor pretende enfocar?
Gilbertto Prado A ideia é trazer alguns pontos do meu percurso artístico até os projetos mais recentes, passando por obras que marcaram minha produção, como o ambiente virtual multiusuário Desertesejo (2000/2014), que é o trabalho que está presente na exposição Paradoxo(s) da Arte Contemporânea, no MAC. O projeto foi desenvolvido no Programa Rumos Novas Mídias Itaú Cultural em 1999, recebendo o 9º Prix Möbius International des Multimédias, Menção Especial – Beijing, China, em 2001. Também participou da 25ª Bienal Internacional de São Paulo e da Net Arte, em 2002, entre outras mostras. Recentemente, em 2014, foi restaurado pelo Itaú Cultural, o que traz discussões interessantes sobre a preservação e acervo de obras digitais.

Desertesejo, de Gilbertto Prado – Foto: Divulgação

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JU – Pode nos contar a sua trajetória e sobre como consegue aliar o trabalho do artista com o do professor?

Gilbertto Prado Começo minhas atividades artísticas no início da década de 1980 participando do movimento de Mail Art e de diversas exposições, entre elas a 16ª Bienal Internacional de São Paulo. Sublinho a realização da mostra Welcomet Mr. Halley, em 1984/85, pela passagem do cometa Halley. No final dos anos 1980, inicio o trabalho com vídeo e, de forma mais sistemática, com as embrionárias redes telemáticas, fazendo a ponte entre o analógico e o eletrônico/digital, com produção em fax-arte. No final de 1989, faço o doutorado, em Paris, onde integro o grupo Art-Réseaux, coordenado por Karen O’Rourke, da Universidade Paris I. Lá realizo e participo de inúmeros projetos. Retorno ao Brasil em 1994, e meu trabalho artístico de arte em rede se dirige no momento para a web, criando um espaço de experimentação/discussão artística nesse meio, com o projeto e site wAwRwT, de 1995, na Unicamp.
No final dos anos 1990, começo o desenvolvimento de ambientes virtuais, como o Desertesejo e a produção de instalações interativas como 9/4 fragmentos de Azul na II Bienal do Mercosul, em 1999.

Projeto Amoreiras, 2010, de Gilbertto Prado – Foto: Divulgação

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Com a criação do Grupo Poéticas Digitais, em 2002, na ECA, se inicia uma nova fase, com a coordenação de um grupo de artistas e pesquisadores que variam a cada projeto e uma série de novos trabalhos, notadamente instalações interativas. Nesse ano – junho e agosto – estamos realizando a exposição Circuito Alameda, com trabalhos meus e do Grupo Poéticas Digitais, incluindo várias novas obras desenhadas para o Laboratório Arte Alameda, no México, que trazem o diálogo entre arte, tecnologia e natureza.

Sobre a outra parte da questão, do binômio artista/professor, eu acrescentaria “experimentação” e nisso os grupos de pesquisa podem desempenhar um papel fundamental, como um campo de forças em que as práticas artísticas são exploradas, o trabalho em grupo, a hibridização de áreas, a partilha de conhecimentos e dos fazeres como um atravessamento da contemporaneidade.
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Parece-me que esse sempre foi um dos desafios dos artistas: como perceber e lidar com sua contemporaneidade.

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JU – Como o senhor vê a arte contemporânea hoje? E como está a arte digital nesse contexto?

Gilbertto PradoA arte digital faz parte da arte contemporânea, e como parte de um processo em andamento traz novos desafios, determinadas demandas se tornam mais evidentes, como pessoal técnico implicado, equipamento, manutenção, orientação para explicação ao público, conservação, catalogação, documentação etc. Movimentos similares aconteceram com a chegada da fotografia, do vídeo, das performances, das instalações etc., nos atuais espaços expositivos e/ou alternativos. Como coexistir com outras obras também contemporâneas é o desafio.

Das caravelas aos celulares, que atualmente carregamos conosco e em nossos deslocamentos físicos e virtuais, continuamos em profunda e constante transformação. Parece-me que este sempre foi um dos desafios dos artistas: como perceber e lidar com sua contemporaneidade. Se perceber e se perder em sua própria época. As produções são um espelho da nossa sociedade, que muitas vezes se cruzam nos mais diversos campos e partilham ruídos, angústias, experiências e sonhos.

A arte também trabalha com esses movimentos e momentos de passagem. Mas todas essas possibilidades me enriquecem e fazem parte da minha constituição de mundo. Não gostaria de viver com uma delas faltando: são como as duas margens de um rio, tendo também a certeza de que existe uma terceira.

JU – Como o senhor vê hoje os jovens artistas, especialmente os alunos de Poéticas Visuais?
Gilbertto Prado Curiosos e antenados, com muita vontade de conhecer e experimentar.

O evento O MAC Encontra os Artistas, com Gilbertto Prado, acontece no dia 7 de agosto, terça-feira, às 19 horas, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP (Avenida Pedro Álvares Cabral, 1.301, Ibirapuera, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 2648-0254.


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