Acontece entre os dias 13 e 16 de abril a terceira edição do Fórum Internacional Cinemática. Com o tema O Filme Documentário e as Diferentes Formas de Enfoque do Real, o evento é uma realização da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e do Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos (Diversitas) da USP.
O fórum vai apresentar uma revisão histórica do conceito de realismo no filme documentário, e também discutir as novas formas de percepção emergentes do uso da tecnologia digital. Entre os tópicos que serão discutidos estão a crise da representação no audiovisual e a superação da distância entre autor e objeto, a linguagem pós-cinemática, as formas híbridas de documentário e os olhares femininos no cinema.
Giselle Gubernikoff, professora do Departamento de Artes Plásticas da ECA e uma das organizadoras do evento, explica que o Fórum Internacional Cinemática surgiu de sua necessidade como pesquisadora de encontrar teóricos que discutissem os avanços de linguagem da produção audiovisual, sobretudo no cinema digital. “Nesse sentido, estamos trazendo uma série de teóricos que trabalham com um tipo de teoria que eles batizaram de pós-cinema”, afirma. Trata-se de “tudo que invoca de alguma forma a linguagem cinematográfica e que não é mais cinema, que se transforma em digital. Eles bebem da água do cinema, e usam isso como ferramenta para novas ideias, novas formas de edição, e principalmente para novos aplicativos, jogos, multimídia etc.”
Nesta edição do fórum – a terceira –, um dos convidados é Steven Shaviro, professor da Wayne State University, dos Estados Unidos, “um dos maiores teóricos de cinema, um filósofo, linguista, que tem um domínio extremamente grande da tecnologia digital”, nas palavras da professora. Outro teórico participante é Shane Denson, da Universidade de Stanford, também dos Estados Unidos, considerado o “pai do pós-cinema”.
Na programação do evento, Giselle destaca as palestras e debates com participação dos convidados estrangeiros. Na apresentação Documentando o Real Pós-Cinemático, Shane Denson “vai fazer uma análise desse novo tipo de percepção que surgiu a partir do digital, como ela muitas vezes altera a linguagem cinematográfica, tornando-a muito mais impactante”, explica. “Cada vez mais, os filmes são viscerais em termos de montagem e a forma com que atingem o espectador.”
Já Steven Shaviro, na palestra A Ontologia das Imagens Pós-Cinemáticas e Exemplos de Vídeos Musicais, vai explorar “um dos gêneros mais livres em termos de narrativa”, segundo a organizadora. Diferentemente dos filmes, os vídeos musicais não atendem a elementos cinematográficos específicos de um circuito comercial, como espacialidade e tempo, e por isso apresentam maiores possibilidades.
“O interessante é que os palestrantes serão sempre sendo mediados, contrapostos, com pesquisadoras brasileiras, como Gisela Domschke e Mônica Amaral, para facilitar esse diálogo com o público”, afirma Giselle. A professora explica que a visão bastante tecnológica apresentada pelos americanos ainda é muito embrionária no Brasil: “Demorou muito tempo, por exemplo, para o digital chegar ao longa-metragem. Havia inclusive uma recusa grande. O brasileiro faz uma análise mais em função da narrativa, dos conteúdos, dos visuais, e não consegue perceber como a tecnologia o está levando a determinadas sensações.”
Quanto às mesas com enfoque no documentário, a organizadora destaca a palestra O Filme Documentário na Época do Antropoceno, de Selma Karin, da Universidade Ocad, de Toronto, no Canadá, “a grande teórica do documentário e que está fazendo esse trabalho sobre o documentário voltado para a própria existência do sujeito”. Também haverá uma mesa de debate sobre documentário indígena, da qual participam Tadeu Jungle, diretor do curta-metragem em realidade virtual Fogo na Floresta (disponível no Youtube), Divino Tserewahú Tsereptse, “considerado o maior cineasta indígena do Brasil”, e Emília Top’Tiro, estudante de audiovisual, mediados por Edson Oliveira, outro organizador do evento. Giselle ainda menciona a apresentação O Filme Documentário no Cinema Novo, do professor e pesquisador do Diversitas Mauricio Cardoso, especialista em cinema brasileiro, que “vai fazer um apanhado do que foi o cinema documentário durante aquele período”.
O documentário hoje
“O documentário sempre foi um gênero deixado muito em segundo plano, ele não tinha mercado exibidor até pouco tempo atrás”, afirma Giselle. A tecnologia, dessa forma, se mostra presente não só na produção do gênero, como no consumo, a partir de novas formas de distribuição. “Esse mercado começou a surgir a partir dos canais a cabo, dessas novas telas que começam a se propagar. No mercado doméstico, ele tem um boom a partir de mais ou menos uns dez anos atrás, e houve um aumento considerável de interesse por parte do público.”
Segundo a professora, hoje as dificuldades enfrentadas pelo documentário são as mesmas do cinema de ficção no Brasil. Ela exemplifica que os editais da Ancine permitem o mesmo espaço para produção de filmes tanto ficcionais quanto documentais. “Não existe aquele preconceito que existia antes em relação ao documentário. É tão difícil de se produzir como qualquer ficção. A gente sabe muito bem que as dificuldades de produção no Brasil são bem grandes, devido a um mercado bastante instável”, finaliza Giselle.
O Fórum Internacional Cinemática será realizado nos dias 13, 14, 15 e 16 de abril, das 14 às 17 horas, com transmissão ao vivo pelo canal da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP no Youtube. A programação completa do evento está disponível nos sites da ECA e do Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos (Diversitas) da USP. Para receber certificado, a inscrição deve ser feita na página do evento.