Obras de Claudia Guimarães em exposição na mostra "Entretempos" - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Exposição realça reflexões surgidas no isolamento
Mostra na Cidade Universitária traz obras criadas durante a pandemia por pós-graduandos em Artes Visuais da USP
Texto: Duda Ventura
Texto: Ana Júlia Maciel
Alguns dizem que a pandemia da covid-19 mudou a perspectiva de tempo e forçou milhões de pessoas ao redor do mundo a terem como único horizonte os quatro cantos de suas casas. Os trajetos para o trabalho ou para a escola não tomavam mais horas, mas segundos. Do mesmo modo, o tédio tomou conta dos finais de semana, que se esvaziaram sem as atividades na rua. Dois anos se passaram em um piscar de olhos para alguns e, para outros, da maneira mais arrastada possível.
Com base nessa ideia de um período de “entretempos”, o professor Mario Ramiro, do Departamento de Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, idealizou a exposição que está em cartaz até 25 de novembro no Espaço das Artes, na Cidade Universitária, em São Paulo. Intitulada Entretempos, a mostra traz obras confeccionadas por alunos de pós-graduação em Artes Visuais da ECA durante o pior momento da pandemia, entre 2020 e 2021.
“O objetivo é apresentar a produção de jovens artistas que pensam questões contemporâneas”, explica o professor Mario Ramiro. “Não estamos lidando com arte abstrata, mas com o mundo concreto e seus problemas.”
A atmosfera do Espaço das Artes é atravessada pelas vivências de cada um desses artistas de maneira plural e reflexiva. A partir do momento em que entra no ambiente amplo e com pé-direito alto, o visitante tem a oportunidade de entender as questões sociais que povoaram os momentos de isolamento dos alunos: alguns são mais otimistas e retratam pessoas em suas rotinas, outros recapitulam a ditadura e exploram a sustentabilidade da floresta amazônica.
Além das temáticas abordadas, os formatos variados fornecem uma experiência instigante ao visitante, que tem seus sentidos estimulados através de instalações, pinturas, vídeos e, também, por um elemento que faz parte da exposição indiretamente — a música tocada no interior do Espaço das Artes. “Usamos o espaço com a mais alta qualidade, o que a USP exige”, coloca o professor.
Adriana Siqueira é uma das artistas que têm o resultado de seu trabalho de mestrado exposto na mostra. “No período da pandemia, a pesquisa me deu um chão”, afirma Adriana, que celebra Entretempos também como uma forma de se reconectar com os colegas. “Nossa artesania constrói um diálogo muito bonito.”
As gravuras de Julia Sayeg Tranchesi formam um diário da quarentena, retratando cenas diárias de sua família e trabalho. Revisitando-as em 2022, o questionamento acerca do que mudou nas relações que retratou a acompanha. “Com a quarentena, optei pela xilogravura porque ela permite que se faça onde estiver”, explica.
A necessidade de versatilidade e as perguntas quanto à efemeridade das coisas também permeiam os trabalhos de Julia, que desenhou com grafite e carvão aspectos da cidade de São Paulo num período anterior ao isolamento — uma exceção na exposição. “Eu caminhei com o papel dobrado por lugares que não conhecia na cidade e fui, de maneira fragmentada, ilustrando espaços que poderiam ser partes de qualquer cidade. Nesse sentido, também trabalhei num entretempo, mesmo antes da pandemia.”
Os alunos que exibem as obras foram selecionados por seus orientadores de pós-graduação para formar um conjunto que, ao mesmo tempo em que questiona a política e a sociedade atual, aponta para os próximos momentos para os brasileiros e para a arte. “Comemoramos em 2022 a efeméride dos 100 anos da Semana de Arte Moderna e, com a exposição, buscamos, assim como os modernos em 1922, apresentar a arte e a cultura produzidas no Brasil e questionar que País queremos no futuro”, conclui Ramiro.
A exposição Entretempos fica em cartaz até 25 de novembro, de segunda a sexta-feira, das 9 às 20 horas, no Espaço das Artes (Rua da Praça do Relógio, 160, Cidade Universitária, em São Paulo).
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