.São poucos os arquitetos que conseguiram produzir obras tão marcantes a ponto de transformar a forma como uma cidade é vista. Como se a ligação fosse tão intrínseca que não houvesse forma de desassociar o artista da imagem urbana. O arquiteto Jože Plečnik é um ótimo exemplo desse seleto grupo. No começo do século 20, ele remodelou a atual capital eslovena, Liubliana, antes mesmo de a Eslovênia ser um país.
“Estamos falando de um arquiteto que viveu até 1957, mas a Eslovênia só passa a existir como tal em 1991. Atualmente a Eslovênia – como um país que se organiza e se estrutura – está trabalhando para constituir uma identidade, e conhecer Plečnik é também uma forma de o país se afirmar culturalmente”, afirma o professor Hugo Segawa, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.
A Embaixada da Eslovênia, em parceria com a FAU, promove a exposição Liubliana de Plečnik. Nela, através de 20 painéis, o visitante poderá se familiarizar com o arquiteto esloveno e conhecer suas principais obras. Gratuita, a exposição estará aberta ao público até o dia 29 de março.
Nascido em 1872 na pequena cidade de Liubliana, ainda no contexto do Império Austro-Húngaro, o jovem Jože Plečnik saiu de casa já aos 16 anos e foi para Viena estudar na Academia de Belas-Artes. Lá começou a aumentar seu repertório e construir seu estilo, principalmente quando passou a trabalhar no ateliê do famoso arquiteto Otto Wagner. Após 33 anos de trabalho e estudo entre Viena e Praga, Plečnik retornou à sua cidade natal com a intenção de promover nela uma repaginação completa.
As transformações do arquiteto causaram um impacto enorme no olhar que se tem sobre Liubliana. Mesmo a cidade sendo muito anterior a ele – as primeiras referências datam de 1144 -, a sensação causada foi de que uma nova cidade surgiu. “Plečnik fez algumas intervenções urbanas importantes, como o mercado municipal, pontes, um projeto de paisagismo de áreas livres. São obras pontuais que, no final das contas, acabam contribuindo para uma remodelação da cidade”, complementa Segawa.
A importância de Plečnik para a Eslovênia é muitas vezes comparada com a de Oscar Niemeyer para o Brasil. No entanto, o professor Hugo Segawa explica que essa relação faz sentido apenas no âmbito simbólico, que os caracteriza internacionalmente como representantes da arquitetura em seus países. “Se comparados do ponto de vista arquitetônico e humanístico, são universos muito diferentes”, considera Segawa.
Embora suas intervenções desenhando os principais setores da cidade tenham sido significativas, Jože Plečnik quase caiu no esquecimento. Após a Segunda Guerra Mundial, ele foi lentamente largado ao léu por ser considerado antiquado para as novas tendências da arquitetura. Graças a um resgate histórico promovido pelos europeus pós-modernistas nos anos 80, a obra de Plečnik voltou a ser reconhecida.
A exposição Liubliana de Plečnik está aberta até o dia 29 de março, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP (Rua do Lago, 876, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas neste link.