Estudos de história social vão da sala de aula para as livrarias

Parceria entre programa de pós-graduação e Editora Intermeios publica 16 títulos de professores da USP

 24/05/2018 - Publicado há 6 anos
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Uma parceria entre o Programa de Pós-Graduação em História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e a Editora Intermeios acaba de trazer ao público 13 obras escritas por professores e estudantes do programa. Os títulos integram a coleção Entr(H)istória, que teve início em 2016.

No total, 16 livros já foram editados na coleção, três deles em 2016 e os demais em abril de 2018. Grande parte dos trabalhos, em sua maioria inéditos, são frutos de teses de doutorado e livre-docência de professores do Departamento de História da FFLCH.

De acordo com a professora Mary Anne Junqueira, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História Social, a seleção dos títulos é rigorosa. “Nós abrimos um edital, os professores entregam os trabalhos e uma comissão editorial avalia quais serão publicados.”

A diversidade de temas chama atenção nos lançamentos. Religião, humor, ciência, ditadura militar, medievalismo, arte e história estadunidense estão entre os assuntos da coleção.

A religião aparece em Os Franciscanos e a Igreja na Idade Média, da professora Ana Paula Tavares Magalhães. Na obra, a professora descreve e analisa a trajetória da ordem, com destaque para a vida e o pensamento do frade Ubertino de Casale, autor do Arbor vitae crucifixa Iesu.

“A defesa da pobreza”, comenta Ana Paula na apresentação do livro, “coaduna-se com a vontade de Cristo, com o qual se identificava Francisco e com cujo Evangelho se identificava a Regra Franciscana. Tal identidade consistia justamente na originalidade e na função diferenciada da Ordem Franciscana no interior do corpo místico de Cristo, ou seja, a Igreja Católica.”

A professora Maria Cristina Cortez Wissenbach traz o assunto para solo nacional em outro volume da coleção, Práticas Religiosas, Errância e Vida Cotidiana no Brasil (Finais do Século XIX e Inícios do XX). Tendo São Paulo como ponto de partida, a autora se dedica especialmente às crenças e devoções populares.

“Impregnada na organização do dia a dia de escravos e forros, manifesta nas ações de curandeiros e feiticeiros dos arredores da cidade, insinuou-se a força de uma sensibilidade religiosa que se transformava, muitas vezes, em componente essencial de processos cognitivos e de concepções de mundo”, analisa Maria Cristina na obra.

“Tais processos eram capazes de fornecer os referenciais para que tais grupos pudessem pensar a sua condição social e, mediando o relacionamento com a sociedade mais ampla, compatibilizarem-se com a realidade imposta.”

O humor é outro tema que se destaca. O professor Elias Thomé Saliba reúne quatro ensaios em Crocodilos, Satíricos e Humoristas Involuntários, nos quais oferece reflexões para a história cultural do humor através de fontes diferentes.

“A história cultural”, escreve na introdução ao trabalho, “mantendo acesa a chama da renovação historiográfica em tantas obras importantes, vem realizando, nas últimas décadas, a façanha de ilustrar a tese de que nossas representações e imagens do passado estão cada vez mais presas numa teia de significados que nós mesmos criamos.”

Rir das Ditaduras é a contribuição do professor Marcos Silva para os títulos voltados à análise do humor. O foco do pesquisador é o quadrinista Henrique de Souza Filho, o Henfil (1944-1988), com atenção especial para a personagem Fradim.

“Henfil explorou um conjunto de questões que, de forma explícita, sinaliza contextos ditatoriais: violência cotidiana, disputa por diferentes espaços sociais, papéis assumidos ou pretendidos pelos intelectuais, projetos do e para o povo”, aponta Silva no volume.

A ditadura civil-militar volta a aparecer na coleção pelas mãos do professor Marcos Napolitano, que assina Coração Civil. Composto como um longo ensaio em nove capítulos, o volume elabora um panorama cultural do País durante os anos de exceção, cobrindo desde 1964 até 1985. “A história da cultura sob regime militar costuma ser vista por dois ângulos: do heroísmo ou do ceticismo”, analisa o docente na obra.

“O primeiro”, continua Napolitano, “mais fortemente ancorado na memória generalizada e institucionalizada sobre o período, vê a cultura e seus agentes – intelectuais e artistas – como o lugar privilegiado da resistência, que ajudou a desgastar o regime e forçar a transição para a democracia. O segundo ângulo duvida dessa capacidade de mobilização e politização da cultura de resistência, preferindo apontar seus dois limites óbvios: mesmo depois de seus momentos heroicos nos anos 1960, a cultura não fez a revolução, sequer conseguiu fundamentar uma consciência democrática eficaz na transição.”

Completam a coleção os títulos Ciência e Ideologia e Um Bit Auriverde, de Gildo Magalhães, Escrita e Edição em Fronteiras Permeáveis, de Gabriela Pellegrino Soares, História, Dialética e Diálogo com as Ciências, de Paulo Teixeira Iumatti, Moses Finley e a Economia Antiga, de Miguel Palmeira, O Brasil na Guerra Fria Cultural, de Elizabeth Cancelli, O General Estadista, de Sean Purdy, Pensamento em Imagens, de Maria Cristina Pereira, Raça, Ciência e Viagem no Século XIX, de Maria Helena Machado, Tempos e Espaços das Independências, de João Paulo Pimenta, e Viagens e Relatos, de Stella Maris Scatena Franco.

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