Em concerto sem regente, Orquestra Sinfônica da USP homenageia o maestro Ernst Mahle

Obras do compositor teuto-brasileiro serão ouvidas neste sábado, às 16 horas, no Centro Cultural Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária

 21/03/2024 - Publicado há 1 mês

Ricardo Thomé*

Arte: Simone Gomes

O maestro e compositor Ernst Mahle - Foto: Acervo Coralusp

Neste sábado, dia 23, a Orquestra Sinfônica da USP (Osusp) apresenta o concerto Celebrando Ernst Mahle e as Culturas Populares, em homenagem ao maestro e compositor teuto-brasileiro Ernst Mahle, que completou 95 anos no dia 3 de janeiro passado. O concerto será às 16 horas, no Centro Cultural Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária, em São Paulo.

 

O concerto trará seis composições, todas elas ligadas de alguma forma ao encontro entre o erudito e o popular. A primeira é Duas Melodias Nórdicas (1895), do norueguês Edvard Grieg (1843-1907). A segunda é o Concertino para Flauta (1993), de Ernst Mahle, executado por Renato Kimachi, em solo. A terceira é o Concerto Grosso número 12La Follia (1727), do italiano Francesco Geminiani (1687-1762). A seguir, vêm o Concertino para Trombone (1979), de Mahle, que será executado pelo trombonista Emerson Teixeira, em solo; as Danças Romenas (1915), do húngaro Béla Bartók (1881-1945); e a Suíte Nordestina, sinfonia composta por Mahle em 1976.

O diferencial do concerto é o fato de que ele será realizado sem um regente. Isso é visto como um desafio pelo flautista Renato Kimachi. “Vai ser a primeira vez que eu vou tocar um solo sem regente. O comando principal deve ficar com o spalla (primeiro violino, que lidera os demais músicos), mas devemos combinar a dinâmica na semana do concerto”, conta Kimachi. Ele diz também que não tinha conhecimento da obra até cerca de um mês antes do concerto, e que tem estudado para compreendê-la melhor.

Repertório: entre resgates e influências

Renato Kimachi - Foto: Arquivo pessoal

O repertório de Celebrando Ernst Mahle e as Culturas Populares faz referência tanto ao berço germânico do maestro, nascido em 1929 em Stuttgart, na Alemanha, como às suas influências e paixão pela música popular brasileira, especialmente a nordestina. “Esse é um concerto cujo repertório inclui o popular e o folclórico, com compositores como Béla Bartók, que inclusive influenciou Mahle”, explica o flautista, que não vê fronteiras entre música clássica e música popular. “Música, para mim, é uma coisa só. A clássica, inclusive, vem da popular.”

Algumas das obras, como a de Grieg, a de Bartók e a sinfonia de Mahle, têm mais de um movimento. Duas Melodias Nórdicas se divide em I foletonestil, que significa “em estilo folclórico”, e Kulokk og Stabbelåten, que quer dizer “aboio e dança do campo”. Já Danças Romenas tem cinco movimentos: “jogo do bastão”, “dança do xale”, “na praça”, “dança da cidade”, “polca romena” e “enérgico”. Suíte Nordestina é dividida em Allegro ModeratoAndatino e Vivo.

Segundo Kimachi, o Concertino para Flauta tem origem na Sonatina Nordestina para Flauta e Piano, composta por Mahle em 1987. “Anos depois, em 2017, ele usou esse concertino como terceiro movimento para um concerto que compôs para flauta e orquestra”.

O flautista explica que o nome “concertino” se deve ao tamanho, que é menor e dividido em três seções: A, B e A’ — “que correspondem à exposição, ao desenvolvimento e à reexposição, respectivamente”. O movimento de um concertino também é diferente. Em vez de uma composição em três movimentos, como costuma ocorrer em concertos grandes, há um único movimento contínuo. No que diz respeito aos aspectos técnicos da apresentação, Kimachi destaca o uso das escalas modais, principalmente do fá mixolídio, “que é uma escala maior com a sétima menor”. Enquanto os concertinos são de flauta e de trombone, todo o restante do programa é executado por uma orquestra de cordas.

O homenageado

Assim como Renato Kimachi, Ernst Mahle teve na flauta seu primeiro contato com a música, ainda na Alemanha. Autodidata, ele chegou ao Brasil em 1951, aos 22 anos, naturalizou-se brasileiro em 1962 e passou a viver em Piracicaba, no interior paulista. Lá ele fundou a Escola de Música de Piracicaba (EMP), atualmente Escola de Música de Piracicaba Maestro Ernst Mahle (Empem), ao lado do compositor Hans-Joachim Koellreutter, também nascido na Alemanha, e de Maria Aparecida Romero Pinto Mahle, a “Cidinha”, que viria a se tornar sua esposa. Por mais de 50 anos, ele exerceu as funções de diretor artístico, maestro e professor da instituição.

Hoje Mahle vive em Piracicaba. Ele não estará presente no concerto da Osusp por questões de saúde. Apesar disso, a orquestra divulgou em seu site uma entrevista com o maestro, em que ele conta um pouco sobre sua trajetória. Kimachi revela que a Osusp deverá fazer em junho uma apresentação em Piracicaba, para que ele possa assistir.

A temporada 2024 da Osusp

Orquestra Sinfônica da USP - Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Este será o segundo concerto da Osusp na temporada 2024. A Orquestra, fundada em 1975 pelo músico Mozart Camargo Guarnieri — que hoje nomeia o centro cultural da Cidade Universitária — se apresentou extra-oficialmente na Sala São Paulo em 25 de janeiro, em comemoração ao aniversário da cidade de São Paulo e aos 90 anos da Universidade de São Paulo.

A estreia na temporada aconteceu no sábado, dia 9 de março, em um concerto temático do Dia Internacional da Mulher, que homenageou a compositora, instrumentista e maestrina brasileira Chiquinha Gonzaga (1847-1935). O concerto contou com solo de piano de Maria Teresa Madeira, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estudiosa da obra de Chiquinha.

O concerto Celebrando Ernst Mahle e as Culturas Populares, da Orquestra Sinfônica da USP (Osusp), acontece neste sábado, dia 23, às 16 horas, no Centro Cultural Camargo Guarnieri (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, em São Paulo). A entrada é gratuita mediante reserva na plataforma Appticket e doação de 1 quilo de alimento não perecível, que será distribuído a comunidades do bairro do Butantã, vizinho à Cidade Universitária, em São Paulo.

*Estagiário sob supervisão de Marcello Rollemberg e Roberto C. G. Castro

Banner do evento – Imagem: PRCEU


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