Na década de 1970, a exigência do mercado por experiência profissional e a baixa oferta de estágios na área editorial fizeram surgir a Com-Arte, editora laboratório do curso de Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Desde então, o projeto se consolidou como espaço de experimentação e aprendizado para estudantes, editou mais de 200 títulos e se tornou referência no campo literário do País, conquistando até mesmo um Prêmio Jabuti – a maior honraria da literatura brasileira -, em 2018, com o livro Design de Capas do Livro Didático – A Editora Ática nos Anos 1970 e 1980, de Didier Dias de Moraes.
“Nós temos dois carros-chefe. O primeiro deles é a Coleção Memória Militante, lançada em 2014, quando o golpe militar de 1964 completou 50 anos”, conta a professora Marisa Midori, da ECA, uma das responsáveis pela editora. “Essa coleção reproduz depoimentos de militantes presos, torturados ou simplesmente ativos na época da ditadura e que pertenciam à comunidade uspiana, sendo professores ou alunos”, continua. Entre os volumes já publicados nessa coleção estão Um Mundo Coberto de Jovens, organizado por Benjamin Abdala Junior – que traz ensaios e depoimentos de pessoas que se envolveram na luta contra a ditadura militar (1964-1985) – e Militância Cultural: A Maria Antonia nos Anos 60, de Adélia Bezerra de Meneses, que trata do ambiente em torno do famoso palco da “Batalha da Maria Antonia”, em 1968.
O segundo destaque da Com-Arte são livros metalinguísticos, ou “livros sobre livros”, nas palavras da professora, que detalham o processo da produção editorial. Eles estão reunidos na Coleção Editando o Editor, que registra, através de relatos orais, o processo e pensamentos de profissionais atuantes no mercado literário. Com nove números publicados até agora, a coleção já abordou o trabalho de editores como Ênio Silveira, Jorge Zahar e Cláudio Giordano.
Além de Memória Militante e Editando o Editor, a Com-Arte mantém ainda outras oito coleções, entre elas Clássicos do Jornalismo Brasileiro – que já publicou textos de Carlos Lacerda, Alceu Amoroso Lima e Rui Barbosa – e Primeira Impressão, dedicada à divulgação de obras inéditas.
Atualmente, a editora exerce papel central no curso de graduação em Editoração da ECA, que prevê disciplinas laboratoriais na grade curricular dos estudantes a partir do 5° semestre. “Eu costumo dizer que a Com-Arte é o coração do curso de Editoração. Ela sintetiza tudo aquilo que foi aprendido em semestres anteriores, além de demandar domínio técnico e repertório cultural e exigir que os alunos lidem com uma linguagem mais densa, a depender do texto editado, e com criação”, diz Marisa. As disciplinas abarcam todas as etapas da publicação literária, desde a seleção do texto, revisão, projeto gráfico e definição da capa até a divulgação e o lançamento.
Em algumas ocasiões, os estudantes trabalham com títulos de domínio público, ou seja, que já ultrapassaram a barreira temporal de 70 anos após a morte de seu autor. O professor da ECA Plinio Martins Filho, também docente responsável pela Com-Arte, conta que essa experiência permite que os graduandos “aprendam a corrigir os textos, que vêm com grafias diferentes, e adequá-los ao contemporâneo”. Quando finalizadas, as produções são impressas e publicadas em capa dura, em uma parceria com a Editora da USP (Edusp).
Os títulos da Com-Arte estão à venda nas livrarias da Edusp, localizadas na Cidade Universitária, em São Paulo, e em outros campi da USP no Estado de São Paulo. Plinio Martins diz que a intenção é expandir as vendas para o ambiente on-line, de modo que os exemplares alcancem um público maior.
Pareceres sobre obras literárias
A interação entre o curso de Editoração da ECA e a Com-Arte se dá também na disciplina Critérios de Seleção: Prosa de Ficção, ministrada pelo professor José de Paula Ramos Júnior. Nela, os alunos se dedicam a analisar originais inéditos, que podem ser publicados na Coleção Primeira Impressão, da Com-Arte. “Teoria e crítica literária são estudadas com a finalidade de dar suporte objetivo para gerar pareceres sobre obras literárias inéditas nos gêneros crônica, conto, novela ou romance”, explica o professor De Paula, lembrando que até o dia 25 deste mês a editora recebe textos para serem examinados na disciplina (leia texto abaixo).
Plinio Martins Filho ressalta que, além de contribuir ativamente para a formação de alunos do curso de Editoração, a Coleção Primeira Impressão possibilita que novos escritores tenham seu livro de estreia editado, sem custos para eles. “É uma maneira de descobrir autores para que, no futuro, eles possam publicar até mesmo em outras editoras”, acrescenta o professor.
Com-Arte recebe originais para possível publicação
As inscrições de obras inéditas de crônica, conto, novela ou romance para possível publicação em livro na Coleção Primeira Impressão, da editora laboratório Com-Arte, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, estão abertas até o dia 25 de abril. O texto original deve ser formatado com espaço dois entre as linhas e encaminhado ao e-mail diegonobrega@usp.br, em arquivo Word ou pdf. A obra será avaliada por alunos da disciplina Critérios de Seleção: Prosa de Ficção, sob a supervisão do professor José de Paula Ramos Júnior, e, caso receba parecer favorável, será publicada. Positivos ou negativos, os pareceres editoriais sobre o texto serão encaminhados a cada autor no final do processo de seleção. Por razões técnicas, somente as cinco primeiras inscrições serão aceitas para avaliação. Confira mais informações neste link.
