Surtos de covid-19 no futebol expõem falhas no combate à pandemia

Retomada do futebol em São Paulo registrou casos de covid-19 em 12% dos atletas entre julho e dezembro de 2020, mostra estudo da Faculdade de Medicina da USP

 13/07/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 30/07/2021 às 17:39
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Testes realizados em 6.500 atletas e pessoal de apoio de equipes de futebol no Estado de São Paulo, entre julho e dezembro de 2020, apontam taxas de contaminação pelo coronavírus de 12% entre jogadores e 7% entre membros das comissões técnicas, entre os quais foram registrados os casos mais graves, além de uma morte – Fotos: sites oficiais dos times

 

A taxa de infecção pela covid-19 na retomada do futebol no Estado de São Paulo em 2020 chegou a 12% entre os atletas e 7% entre o pessoal de apoio, com o registro de 25 surtos, com cinco ou mais casos registrados numa mesma equipe em duas semanas. O resultado faz parte de um estudo da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) que analisou mais de 29 mil testes realizados pela Federação Paulista de Futebol (FPF) entre julho e dezembro do ano passado. Segundo o artigo, os números são similares aos encontrados em profissionais da saúde da linha de frente ao redor do mundo, e atestam o enorme risco da abertura do esporte em países como o Brasil, que falharam em controlar a pandemia.

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As conclusões da pesquisa são apresentadas em artigo publicado na revista British Journal of Sports Medicine, em 5 de julho. O estudo faz parte do projeto Coalizão Sport-Covid-19, que reúne cientistas de diversos centros com o objetivo de investigar o impacto da covid-19 na saúde de atletas. “Nosso grupo de pesquisa teve acesso a uma base de dados com mais de 29 mil testes do tipo PCR, realizados em um grupo de 6.500 atletas e pessoal de apoio, que disputaram campeonatos organizados pela Federação Paulista de Futebol (FPF) entre julho e dezembro de 2020”, relata o professor Bruno Gualano, da FMUSP, primeiro autor do artigo. “Nesse período, houve 662 testes positivos, sendo 501 em atletas.”

A taxa de infecção foi maior em atletas, atingindo 12%, do que no pessoal de apoio, que foi de 7%. “Os casos mais graves, incluindo uma morte, foram observados majoritariamente entre o pessoal de apoio”, destaca Gualano. “Essa incidência de infecção é altíssima quando comparada à de outras ligas que foram retomadas durante a pandemia. Na Alemanha, por exemplo, não houve nenhum caso positivo ao longo do campeonato.”

O estudo conclui que, em países inaptos em controlar minimamente a epidemia, o que, infelizmente, é o caso do Brasil, a abertura do esporte está associada com um risco enorme de infecções.

Surtos
A pesquisa observou diversos casos de surtos, definidos como cinco ou mais infecções em um mesmo time num período de duas semanas. “Foram 25 no total, sendo que seis times tiveram 20 ou mais casos e 19 equipes apresentaram dez ou mais infectados”, ressalta o professor da FMUSP. “Nossos números de infecção no futebol se assemelham, na verdade, aos encontrados em profissionais da saúde da linha de frente ao redor do mundo, e refletem a alta taxa de transmissibilidade comunitária no Brasil, que falhou de modo retumbante em prevenir o espalhamento da doença.”

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De acordo com Gualano, o estudo conclui que em países inaptos em controlar minimamente a epidemia, o que, infelizmente, é o caso do Brasil, a abertura do esporte está associada com um risco enorme de infecções. “Os protocolos de segurança se mostraram incapazes de evitar novos casos de covid-19. Em locais com alta taxa de transmissão, são necessários protocolos mais rígidos, que incluem ‘bolhas’, como as que a NBA [liga de basquete dos Estados Unidos] realizou em 2020, o rastreamento e isolamento de infectados e contatos próximos, e a testagem mais frequente”, aponta. “Sem isso, atletas e pessoal de apoio estão sob alto risco de contágio. E para além do risco de agravamento a que estão sujeitos, especialmente o staff‘ o pessoal do esporte pode funcionar como vetor do vírus para toda a comunidade, dificultando o controle da pandemia.”

O professor salienta que os dados usados no estudo foram coletados em 2020, antes das novas variantes mais agressivas e da segunda onda que se abateu sobre o Brasil. “Nesse cenário, em nada me espanta o crescente número de casos noticiados nos campeonatos locais e na Copa América”, afirma. “Nossos achados foram divulgados antes mesmo da publicação do artigo como um alerta a dirigentes e tomadores de decisão. Infelizmente este é mais um caso em que a ciência é ignorada durante a pandemia, e o resultado disso já é conhecido por todos.”

Mais informações: e-mail gualano@usp.br, com o professor Bruno Gualano


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