Artigo assinado por pesquisadores de 25 países aponta concentração de dados sobre florestas tropicais nos Estados Unidos e Europa e faz sugestões para tornar seu acesso mais justo, como treinamento de recursos humanos, fortalecimento de instituições nos locais de coleta e garantia de empregos mais seguros para trabalhadores florestais – Fotomontagem com imagens de Wikimedia Commons, Unsplash e Pixabay

Cientistas propõem caminhos para tornar mais justo uso de dados sobre florestas tropicais

Dados abertos sobre florestas tropicais podem não ser justos quando pesquisadores dos países onde são gerados têm dificuldades para usá-los, alertam pesquisadores em artigo

 30/05/2022 - Publicado há 3 anos

Texto: Júlio Bernardes

Arte: Rebeca Fonseca

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Dados abertos sobre florestas tropicais, ou seja, aqueles que seguem princípios de acessibilidade e reutilização, podem não ser necessariamente justos quando os pesquisadores dos países onde são gerados têm dificuldades para usá-los. O alerta é feito em um artigo de opinião assinado por 27 cientistas de 25 países, que aponta a concentração desses dados em instituições dos Estados Unidos e Europa e faz sugestões para tornar seu acesso mais justo, como treinamento de recursos humanos, fortalecimento de instituições nos locais de coleta e garantia de empregos mais seguros para os trabalhadores florestais. O artigo Making forest data fair and open tem dois pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da USP entre os autores e foi publicado no site Nature Ecology & Evolution no último dia 11 de abril.

“O artigo aborda dados de inventário e monitoramento de longo prazo da estrutura, composição e diversidade de florestas tropicais, que são os dados de base para avaliar a saúde da floresta e os serviços ecossistêmicos que eles nos fornecem”, afirma o pesquisador Renato Augusto Ferreira de Lima, do IB, atualmente no Centro de Síntese e Análise da Biodiversidade da França, um dos autores do artigo, também assinado pelo professor Alexandre Adalardo de Oliveira, do Departamento de Ecologia do instituto.

Os princípios orientadores FAIR para gerenciamento e administração de dados científicos foram publicados em 2016 na revista Scientific Data. O objetivo era fornecer diretrizes para melhorar o Rastreamento, Acessibilidade, Interoperabilidade e Reutilização (na sigla em inglês FAIR,  Findability, Accessibility, Interoperability, and Reusability) de ativos digitais.

“No caso dos dados abertos sobre florestas tropicais, o artigo mostra que apenas seguir os princípios do FAIR não necessariamente torna os dados justos”, aponta o pesquisador. “Os profissionais que geram essas informações, que geralmente estão em instituições nos trópicos e que tem múltiplas dificuldades em gerá-las, não têm a mesma oportunidade de uso que as pessoas que querem usar esses dados para realizar sínteses em escalas regionais e globais, os quais, em geral, se encontram em instituições dos Estados Unidos e Europa.”

Dados abertos sobre florestas tropicais, ou seja aqueles que seguem princípios de acessibilidade e reutilização, podem não ser necessariamente justos quando os pesquisadores dos países onde são gerados têm dificuldades para usá-los. O alerta é feito em um artigo de opinião assinado por 27 cientistas de 25 países, que aponta a concentração desses dados em instituições dos Estados Unidos e Europa e faz sugestões para tornar seu acesso mais justo, como treinamento de recursos humanos, fortalecimento de instituições nos locais de coleta e garantia de empregos mais seguros para os trabalhadores florestais. O artigo Making forest data fair and open tem dois pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da USP entre os autores e foi publicado no site Nature Ecology & Evolution no último dia 11 de abril.

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“O artigo aborda dados de inventário e monitoramento de longo prazo da estrutura, composição e diversidade de florestas tropicais, que são os dados de base para avaliar a saúde da floresta e os serviços ecossistêmicos que eles nos fornecem”, afirma o pesquisador Renato Augusto Ferreira de Lima, do IB, atualmente no Centro de Síntese e Análise da Biodiversidade da França, um dos autores do artigo, também assinado pelo professor Alexandre Adalardo de Oliveira, do Departamento de Ecologia do Instituto.

Os princípios orientadores FAIR para gerenciamento e administração de dados científicos foram publicados em 2016 na revista Scientific Data. O objetivo era fornecer diretrizes para melhorar o Rastreamento, Acessibilidade, Interoperabilidade e Reutilização (na sigla em inglês, FAIR,  Findability, Accessibility, Interoperability, and Reusability) de ativos digitais.

“No caso dos dados abertos sobre florestas tropicais, o artigo mostra que apenas seguir os princípios do FAIR não necessariamente tornam os dados justos”, aponta o pesquisador. “Os profissionais que geram essas informações, que geralmente estão em instituições nos trópicos e que tem múltiplas dificuldades em gerá-las, não têm a mesma oportunidade de uso que as pessoas que querem usar esses dados para realizar sínteses em escalas regionais e globais, os quais, em geral, se encontram em instituições dos Estados Unidos e Europa”.

Acesso

“Alguns tipos de dados sobre florestas tropicais já estão nesse formato, em especial os dados de registro de espécies em herbários e museus, e os dados de sequências de DNA”, relata Lima. “Os dados de monitoramento de florestas tropicais estão abertos [FAIR] em alguns países, mas, em geral, eles se encontram em bases de dados nas quais é necessário fazer uma consulta prévia e um pedido de autorização antes do uso dos dados. Essa consulta é feita para evitar sobreposições entre estudos científicos em andamento, mas também para evitar a chamada ciência neocolonial.” Quando a coleta de dados é feita sem a participação de pesquisadores dos países em que são realizados os estudos, a prática é chamada de ciência neocolonial.

Renato Augusto Ferreira de Lima – Foto: Reprodução

O artigo procura alertar a comunidade de usuários de dados sobre florestas tropicais sobre os desafios e problemas ligados à instalação, mensuração e monitoramento de longo prazo neste tipo de ecossistema. “Essa situação é especialmente problemática quando tratamos sobre dados de biodiversidade, que se concentra nos trópicos, pois os países e regiões com maior ocorrência de florestas tropicais e, portanto, de biodiversidade são, de maneira geral, aqueles com menor investimento em ciência e tecnologia”, ressalta o pesquisador.

O texto sugere oito condutas para auxiliar no processo de tornar os dados de florestas tropicais mais justos. “Em linhas gerais, é proposta uma abordagem na qual o financiamento cubra não apenas os custos de aquisição e manutenção dos dados, mas também de treinamento de recursos humanos, de fortalecimento das instituições locais e de garantia de empregos mais seguros para os trabalhadores florestais”, conta Lima. “O trabalho foi assinado por 25 pesquisadores de 27 instituições e universidades de Brasil, Peru, Colômbia, Argentina, Camarões, Congo, Vietnã, Estados Unidos, Holanda, Venezuela, Reino Unido, Bolívia e Serra Leoa. No entanto, acreditamos que o número de pesquisadores que compartilham dessas ideias é bem maior.”

Mais informações: e-mail raflima@usp.br, com Renato Augusto Ferreira de Lima


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